Esse tipo de câncer, associado à presença da H. pylori, é o terceiro tumor maligno mais frequente nos homens e o quinto nas mulheres. Além disso, é responsável por 700 mil mortes por ano em todo o mundo e por 20 mil novos casos por ano no Brasil, uma incidência considerada moderada. Países com alta incidência desse tipo de tumor, como o Japão e Coreia do Sul, recentemente consideraram a infecção um problema de saúde pública e criaram programas de tratamento em toda a população infectada com o propósito de reduzir sua ocorrência no futuro. Mas, segundo o presidente do Núcleo Brasileiro para Estudo da Helicobacter pylori, Luiz Gonzaga Vaz Coelho, professor titular da Faculdade de Medicina e chefe do Instituto Alfa de Gastroenterologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), não só a bactéria causa o câncer.
“Ela é um fator necessário para o desenvolvimento do câncer, não a causa”, alerta Luiz Gonzaga, segundo o qual também estão envolvidos fatores ambientais, como alimentação, e hereditários.
Segundo o professor de gastroenterologa clínica da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Décio Chinzon, de 60% a 65% dos brasileiros devem estar infectados com a bactéria, mas a maioria não sente nada. “Habitualmente, esse paciente tem uma queixa gástrica e só descobre a bactéria ao fazer uma endoscopia.” A bactéria também pode ser diagnosticada por meio de um teste respiratório, com marcador de ureia e exame de fezes com pesquisa de antígenos. Detectada, a bactéria pode ser tratada com a combinação de dois antibióticos com um inibidor de bomba de prótons, um tratamento relativamente simples e barato, pois dura de sete a 10 dias e está disponível na rede pública de saúde.
ATENÇÃO
A recomendação é combater a bactéria, mas ao se considerar que mais de 60% dos brasileiros estão infectados seria economicamente inviável. Segundo Chinzon, tratam-se os sintomáticos, como aqueles pacientes com úlcera, os que tiveram diagnóstico confirmado e quem tem caso de câncer de estômago em parente de primeiro grau. Pacientes que farão uso crônico de anti-inflamatório também são candidatos ao tratamento. Segundo Luiz Gonzaga, no passado havia o temor de uma segunda infecção após a bactéria ter siso erradicada, mas estudos mineiros mostram que a reinfecção ocorreu em só 2% da população. Já uma possível vacina, apesar de em pesquisa, ainda é uma realidade distante. “É uma bactéria que aprendeu a sobreviver no estômago”, diz Luiz.
VICTOR HUGO RODRIGUES
ONCOLOGISTA E DIRETOR DO CETUS-HOSPITAL DIA
A H.pylori é considerada carginógeno classe I para câncer de estômago. Qual seu impacto no desenvolvimento da doença?
Apesar da alta frequência de infecção por H. pylori na população, somente uma minoria de indivíduos desenvolve câncer gástrico. Há dois tipos deles relacionados à bactéria H. pylori: o adenocarcinoma e o linfoma do tipo MALT.
Por que isso ocorre?
É provável que a colonização da mucosa por cepas patogênicas, levando à maior agressão e inflamação da mucosa, seja um dos elos da cadeia de eventos da oncogênese gástrica. Após instalada, a bactéria provoca alterações na mucosa do estômago que lenta e progressivamente podem gerar a transformação carcinomatosa.
Em caso de diagnóstico de câncer de estômago, é preciso erradicar a bactéria? Ela pode agravar a doença?
É preciso erradicar a bactéria, sim, e diminuir sua perpetuação. Todo carcinógeno deve ser eliminado, sempre que possível. Uma vez que o câncer de estômago já estiver instalado em estágios mais avançados, não se cura a doença, mas também há indícios de se erradicar a bactéria.