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Nathaniel Heintz, professor do Laboratório de Biologia Molecular da instituição, diz que, no início, a equipe estava estudando um novo tipo de neurônio, chamado interneurônio ou de associação, em ratos. Essas estruturas recebem mensagens das células sensoriais, fazem o processamento da informação e mandam comandos para os neurônios seguintes, dentro de um circuito. Coautora da pesquisa, a estudante de doutorado Miho Nakajima analisava tecidos do córtex cerebral quando viu uma proteína até então desconhecida. Era um receptor da oxitocina.
Nakajima conta que ficou intrigada. “Logo pensei em que tipo de relação essa pequena população de interneurônios teria com uma substância tão importante quanto a oxitocina. Como o hormônio está mais envolvido com comportamentos de fêmeas, resolvemos concentrar nossos experimentos nelas”, revela. “O que aconteceu foi que, ao identificarmos uma nova população de neurônios que se ativam pela oxitocina, simplesmente descobrimos uma forma como esse sinal químico influencia as interações entre machos e fêmeas. Pelo menos no que se refere a ratos”, completa Nathaniel Heintz. O resultado do estudo foi publicado na revista Cell.
Para entender melhor como a nova classe de neurônios se relaciona com o “hormônio do amor”, como a oxitocina é popularmente chamada, os cientistas bloquearam, em um grupo de fêmeas, a habilidade de os receptores detectarem a substância. Em seguida, Nakajima aplicou um teste comportamental, no qual os animais poderiam escolher entre explorar um recinto com um macho ou um ambiente onde havia um objeto inanimado (um bloco de Lego). Normalmente, as ratinhas preferem a companhia de um outro ser vivente. “Legos e outros objetos empilháveis não costumam empolgar os ratos”, brinca a pesquisadora. Mas o que se viu foi o contrário. Em vez de se interessar pelos machos, as fêmeas com receptor de oxitocina bloqueado interessavam-se muito mais pelas peças de plástico.
Ciclo reprodutivo
“É interessante notar que elas desprezavam os machos, mas demonstravam o nível normal de interesse pelas outras fêmeas. Isso apenas durante o ciclo estral, que é o ciclo reprodutivo dos animais”, esclarece Heintz. Nos outros períodos, as roedoras com interneurônios silenciados se comportavam naturalmente tanto com machos quanto com fêmeas. Outra observação feita pelos cientistas é que, repetindo o experimento de inibição dos neurônios com os machos, não houve qualquer mudança no comportamento social.
Isso indica que o papel dessa classe de células nervosas recém-descobertas na regulação da oxitocina está associado ao ciclo reprodutivo feminino e não ao masculino. “Nós ainda não entendemos bem como isso acontece, mas achamos que a função da oxitocina é fazer com que as fêmeas investiguem parceiros em potencial quando estão no ciclo estral”, afirma Nakajima. Como, fora da fase reprodutiva, esses neurônios não influenciaram o interesse nos pretendentes, a pesquisadora acredita que a atividade do receptor de oxitocina flutua de acordo com os diversos períodos do ciclo.
“Nosso resultado sugere que as interações sociais que estimulam a produção de oxitocina recrutam esse circuito recém-descoberto para ajudar a coordenar as complexas respostas comportamentais suscitadas pelas mudanças nas situações sociais em todos os mamíferos, inclusive nos homens”, escreveram os autores, no artigo. “Investigações futuras a respeito dos mecanismos exatos responsáveis pela ativação desse interessante circuito podem fornecer informações sobre distúrbios de comportamentos sociais, incluindo os de espectro autista”, concluíram.