saiba mais
A progressão do estado de saúde da jovem foi assustadora até para a dupla de médicos que a atendeu no Centro Médico da Universidade de Loyola, em Chicago, Estados Unidos. “Quanto à severidade da doença, Lauren seria classificada como um dos casos mais graves que já vimos. Ela basicamente tinha todos os órgãos envolvidos com o lúpus, desde as juntas ao coração e aos pulmões”, descreve o reumatologista Rodney Tehrani.
O lúpus é uma doença autoimune rara, mais frequente em mulheres e provocada por um desequilíbrio do sistema imunológico. Exatamente o extenso e resistente exército de defesa do organismo, que deveria combater agressões externas causadas por vírus, bactérias ou outros agentes patológicos, se volta contra os tecidos do corpo.
O motivo para esse ataque ainda é desconhecido. Também inexplicavelmente, a manifestação não é igual para todos os pacientes e nem acontece em velocidade constante. A variabilidade de apresentações clínicas pode confundir e retardar o diagnóstico. Foi justamente por esse motivo que Lauren sofreu tanto antes de ter a resposta definitiva para o seu problema. Até então, não havia percebido sintomas, além de um cansaço crônico. “Tudo o que eu queria fazer era ir para a cama”, revela.
Pouco antes do ataque de lúpus, Lauren começou com dor articular grave e sintomas de gripe. Os olhos incharam, ela não conseguia se concentrar e tinha dificuldade para respirar. Os pais a levaram a um hospital local, mas a saúde da jovem continuou a se deteriorar até que ela foi transferida de helicóptero para Loyola. Lauren chegou com falência nos rins, problemas cardíacos e foi internada imediatamente na unidade de tratamento intensivo.
Plano intenso
A reumatologista Melissa Bussey, que também cuidou de Lauren, conta que todos os exames e testes feitos até então ajudaram a desvendar o diagnóstico de lúpus, permitindo a instauração de um plano de tratamento intenso, para suprimir o sistema imunológico hiperativo. Ela passou a tomar esteroides e outras drogas para suprimir o sistema imunológico por completo. Outro processo, chamado aférese, circulou todo o sangue da estudante em uma máquina que removeu os anticorpos do lúpus presentes. Ela também recebeu antibióticos e imunoglobulina intravenosa. “Foi absolutamente maravilhoso ver o que aconteceu. No dia seguinte, ela já sorria, falava e até começou a ganhar de volta um pouco da memória”, lembra a mãe de Lauren, Rohnda Bank.
“Meu lúpus está controlado por dois anos. Eu não poderia estar mais agradecida.” A frase é um alívio para a jovem e um grito de vitória para a dupla de médicos responsável pelo tratamento. Hoje, para ajudar a manter a remissão, ela toma doses menores de medicamentos imunossupressores e vai ao Centro Médico de Loyola para testes laboratoriais regulares. Como não existe ainda uma terapia direcionada para impedir o ataque do sistema imune, os cuidados são basicamente voltados para os sintomas. O tratamento tende a depender estritamente dos órgãos e das estruturas acometidas. O tratamento preventivo às crises é importante para evitar picos agudos da doença que podem pôr em risco a vida do paciente.
Prevenção intestinal
Um dos últimos trabalhos na área de prevenção às crises foi publicado na revista científica Applied and environmental microbiology pela equipe da pesquisadora Xin Luo, professora de imunologia do Departamento de Ciências Biomédicas e Patobiologia, da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade de Virginia Maryland, nos Estados Unidos. De acordo com os dados divulgados por eles, uma alteração na microbiota intestinal pode ajudar na remissão de crises do lúpus. Espécies de bactérias lactobacillus, comumente vistas em culturas de iogurte, foram associadas à atenuação dos sintomas da doença quando observados nas vísceras de camundongos com lúpus. Ao mesmo tempo, a lachnospiraceae, um tipo de bactéria clostrídia, foi ligada ao agravamento do problema. Luo acredita que os resultados sugerem que a mesma investigação pode ser realizada em seres humanos com lúpus.
No estudo, os investigadores mostraram primeiro que camundongos com lúpus tinham níveis mais elevados de lachnospiraceae e menores de lactobacillus, quando comparados aos animais do grupo de controle. Eles também analisaram dados das cobaias machos e fêmeas e descobriram que as diferenças estavam presentes apenas nas fêmeas. Mulheres normalmente correspondem a 90% dos casos de lúpus. Ao investigar a microbiota intestinal ao longo do tempo em ambos os grupos de animais, os pesquisadores perceberam que, no caso das cobaias com lúpus, os níveis de clostridia aumentaram tanto na fase precoce quanto na tardia da doença.
A cientista explica que o trabalho não prova que a alteração da microbiota intestinal poderia ajudar na remissão do lúpus. No entanto, Luo sugere que as pessoas com a doença devem comer probióticos contendo lactobacillus, para reduzir os ciclos de lúpus. “O uso de probióticos, prebióticos e antibióticos tem o potencial de alterar a microbiota do intestino que, por sua, vez pode melhorar sintomas do lúpus.” Ela acredita que, em última análise, até mesmo o transplante fecal pode se revelar útil como um possível tratamento para a doença.