
A mesma estratégia usada pelo físico, que sofre de degeneração motora devido à esclerose lateral amiotrófica (ELA) poderá ser aplicada em pacientes com uma condição de saúde ainda mais delicada, a síndrome de locked-in. Pessoas nesse quadro ficam completamente imóveis, exceto pelos olhos, que ainda se movimentam.
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AVC Essa condição ficou muito popular com o filme O escafandro e a borboleta, que retrata a história de um paciente diagnosticado com a síndrome, após um acidente vascular cerebral. O AVC, inclusive, é o principal desencadeador do locked-in, destacam os pesquisadores do Tennessee, em um artigo publicado na revista Science Translational Medicine.
Eles demonstraram, pela primeira vez, que pacientes em locked-in devido à perda de todo o controle neuromuscular após o AVC do tronco cerebral podem se comunicar, usando a interface cérebro-máquina. Já era imaginado que esses indivíduos conseguiriam se beneficiar da tecnologia. Contudo, a hipótese não havia sido comprovada, porque a maioria dos estudos sobre o método se concentra em pessoas com, no máximo, esclerose lateral amiotrófica.
A nova pesquisa foi feita com um paciente adulto, do sexo masculino. Para medir os sinais cerebrais, ele usou um capacete coberto de eletrodos, ligados a uma tela de computador. Um teclado e uma caixa de texto em branco eram exibidos no sistema, chamado BCI. Com a mente, o paciente “digita” as palavras corretas, por meio do que os autores chamam de uma “resposta de atenção”.

Concentração
O paciente deve olhar fixamente para as letras piscando na tela do computador e escolher o caractere que deseja usar. Se ele não estiver prestando atenção, nenhuma resposta é produzida. Duas respostas do cérebro são ativadas quando o paciente olha para o teclado na tela: a de base e aquela que os autores chamam de resposta “ah-ha” (seleção do caractere).
Como o computador grava os sinais ininterruptamente, ele pode detectar quando existe uma mudança. Por exemplo, quando um segmento dos sinais é alguns milissegundos mais longo do que a resposta de base. O computador, então, avalia os dados e faz a correspondência com o que seria a resposta “ah-ha” do cérebro, com uma letra ou número específico. O caractere aparece na tela, e o paciente ainda pode avaliar se ele está ou não correto.
No teste, seis meses depois de sofrer o AVC, o homem adulto, até então incapaz de se comunicar, conseguiu soletrar palavras de modo independente e escrever mensagens para os familiares usando apenas pequenos movimentos oculares. Foram 35 segundos para produzir uma letra, e cerca de 45 minutos para escrever uma mensagem inteira. “O BCI proporcionou um nível de autonomia para o participante que de outra forma não poderia ser alcançado, devido ao controle muscular necessário para métodos alternativos de comunicação”, conta o autor do estudo, Eric Sellers.
Segundo ele, atualmente os pesquisadores estão trabalhando em maneiras de melhorar a velocidade e a precisão da seleção desses caracteres e tornar a interface mais amigável para pessoas com deficiências menores. Caso a tecnologia se tornasse mais acessível – por ora, custa US$ 10 mil –, o BCI poderia, um dia, ser encontrado na maioria dos hospitais, acredita.
Estratégia brasileira O brasileiro Adenauer Casali, hoje ligado ao Instituto de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de São Paulo, lidera uma equipe internacional de pesquisadores voltada para o aprimoramento de uma técnica criada por ele para a análise do estado de consciência em pacientes que retornam de um coma. Na opinião dele, a principal novidade da pesquisa dos colegas americanos é a comprovação que a interface pode ser utilizada para pacientes com locked-in.
“Isso não havia sido feito antes. Há tecnologias até mais sofisticadas que essa sendo usadas em pacientes saudáveis ou com outras condições. O que nunca ninguém havia provado, ainda, é a viabilidade do método para se comunicar com pacientes enclausurados”, observa. Casali faz a ressalva de que a confirmação foi feita apenas em um paciente. Portanto, é uma janela que se abre, mas ainda são necessários estudos em outras pessoas, para confirmar os resultados.
Ele considera que uma das grandes dificuldades desses pacientes é a flutuação do estado cognitivo. Nem todos os indivíduos terão a mesma facilidade que outros para utilizar esse protocolo de comunicação. “Casos diferentes terão sinais cognitivos diferentes. A forma como a tecnologia funciona depende de um padrão extraído para reconhecimento das letras, algo que é particular para cada paciente”, ressalta Casail.