Saúde

Malhação cerebral: terapeuta desenvolve método para estimular a memória

Excesso de informações do mundo moderno faz com que as pessoas tenham dificuldades em se lembrar

Zulmira Furbino

A terapeuta ocupacional Thalita Mary orienta a assistente social Maria Bernardete Nunes de Brito, de 60 anos, na sessão de memória criativa
O cérebro humano foi programado para esquecer. Em 24 horas, ele apaga entre 60% e 70% de todas as informações que registrou. A possibilidade de esquecermos algo em 24 horas é, inclusive, maior do que a de deletarmos da mente alguma coisa que ocorreu ou que aprendemos ao longo de uma semana, já que a tendência é esquecer aquilo que é mais recente. A situação se complica mais ainda no mundo contemporâneo, no qual a multitarefa tomou conta da vida da maioria as pessoas, o que passa pela internet, redes sociais, smartphones, tablets, notebooks e computadores, além das atividades diárias de cada um. Diante disso, quem quiser se lembrar de mais coisas e manter uma boa memória terá que criar estratégias para isso pois, segundo o professor universitário e recordista latino-americano de memorização Alberto Dellsola, não existe memória espontânea.


“Culturalmente, estamos ficando cada vez mais inclinados a fazer várias coisas ao mesmo tempo e nosso cérebro não foi feito para isso. O computador fica ligado o tempo todo, o celular também, mas a cada vez que interrompemos uma tarefa gastamos um certo tempo para retomar a concentração na atividade em que estávamos envolvidos anteriormente. A gente não tem um botão liga e desliga”, explica. Ainda de acordo com ele, a memória não é uma coisa só e, por isso, uma pessoa pode ter ótima capacidade de memorização para nomes e fisionomias e se esquecer de forma recorrente de trocar a fralda do filho, por exemplo. Diante disso, a saída é elaborar uma estratégia diferente para cada atividade porque o cérebro precisa de reforço para lembrar.

Na tentativa de ajudar seus pacientes a recuperem a memória, a terapeuta ocupacional Thalita Mary desenvolveu o método memória criativa usando elementos da neurociência. “Quanto menos estímulos se dá ao cérebro, menos conexões ele forma. São essas conexões, criadas ao longo da vida, que dão uma reserva neurológica que será usada no processo do envelhecimento. A partir daí, percebi que era preciso desenvolver o lado criativo das pessoas para estimular essas conexões”, explica.

Diante disso, ela estimula os pacientes a fazerem atividades artesanais, a tentar a escrita e a leitura criativas e também a mudar a sua rotina. “Tudo isso ajuda na melhora da capacidade de memorização e melhora o dia a dia das pessoas”, acredita. É o que espera a assistente social Maria Bernadeth Nunes de Brito, de 60 anos, que se ressente da perda de memória e tenta recuperá-la com o método de Thalita. “Fiz um psicodiagnóstico que detectou dificuldade na memória recente. Agora, ela está traçando um tratamento em função disso.”

O neurologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Paulo Caramelli, que também é chefe do laboratório de neurociências da faculdade, chama a atenção para a necessidade de avaliação das múltiplas causas da perda da memória. “No caso de um jovem, em geral não pensamos em doenças degenerativas ou num acidente vascular cerebral (AVC). Mas no idoso, esses são elementos importantes a serem considerados. É preciso descobrir se a queixa é subjetiva.”

Segundo ele, as pessoas têm a impressão de que estão perdendo a memória, mas os testes mostram que está tudo normal. Quando começam a ter dificuldades de memorização, pacientes jovens e de meia-idade podem estar passando por algum tipo de pressão ou pela necessidade de fazer tudo rápido, estão lidando com um excesso de informações ou sofrendo de ansiedade ou depressão. “Muitas vezes, o que ocorre é falta de atenção. Não temos capacidade de lidar com tantas informações ao mesmo tempo”, explica.