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Nas palavras do pai de Anny, Norberto Fischer, 46 anos, o aniversário que comemoram esta semana é um novo tipo de celebração. “Me lembro como se fosse ontem: Katiele e eu na cozinha, com o CBD pronto para ser ministrado. Nós olhamos, calados, ambos com lágrimas nos olhos, o coração batia forte de esperança e expectativa. Essa poderia ser nossa última tentativa de salvar sua frágil vida”, escreveu Norberto ao lembrar a data. De um ano para cá, a energia da casa dos Fischer é outra. Em cada canto, é possível notar a felicidade da família.
O vocabulário antes dominado por palavras como hospital, vigia, crises e remédios cedeu espaço para as brincadeiras na piscina, os brinquedos, os sorrisos e a oportunidade de novas terapias. “É uma alegria vê-la melhorando a cada dia. Primeiro, porque a Anny não tem mais as crises generalizadas e, sem elas, tem a chance de voltar a aprender, fora as outras medicações que a deixavam dopada e que retiramos. Todo mundo fica com a bochecha doendo quando vem aqui em casa. É olhar para ela e rir de alegria pelos ganhos incríveis”, contou Katiele Fischer, 34 anos, mãe de Anny.
O CBD abriu a porta da casa dos Fischer para que Anny ganhasse qualidade de vida e pudesse, mesmo com a síndrome, ter uma vida sem traumas e recheada de momentos em família, de brincadeiras com a irmã e banhos de sol com a mãe. A bonequinha de pano que a avó via no quarto ganhou um brilho especial. “Um dia, a Anny estava sentada e eu disse: ‘Annynha, a vovó vai salvar você’. Ela sorriu tanto que caímos todos em um choro de felicidade. Ela é um pedacinho de mim. Quero vê-la melhor sempre”, recordou Maria Fátima.
Batalha virou filme
Na opinião dos pais e dos profissionais que acompanham Anny, não restam dúvidas de que um ano de Canabidiol (CBD) representou uma mudança na vida da menina. Mas não foi só o dia a dia dela que melhorou. A história de Anny deu início a uma luta que ganhou proporções nacionais. Katiele e Norberto passaram a defender também o uso medicinal da maconha.
As questões relacionadas à maconha medicinal passaram a fazer parte do cotidiano dos Fischer e de outras famílias. Tanto que inspirou o filme Ilegal — A vida não espera. A obra dirigida por Tarso Araújo ganhou as salas de cinema de todo o país e ainda pode ser vista em Brasília, no Casa Park. “O que se conquistou até agora não tem mais volta. Antes, ajudávamos com o sentimento de obrigação, pois sabíamos o sofrimento das famílias. Hoje, fazemos com gratidão e o maior prazer”, contou Norberto. Katiele diz querer compartilhar com outras mães a felicidade de ver um filho bem. “É por isso que batalhamos todos os dias”, concluiu.
Batalha compartilhada por muita gente, como o promotor de justiça do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Sério Bruno Cabral Fernandes. “Os benefícios não são só para a Anny, mas para mudar o paradigma da discussão de uma planta que pode ter finalidade de entorpecente, mas também de remédio medicinal. Quem vai decidir as vantagens e as desvantagens do uso para os pacientes é a ciência, não o preconceito e a burocracia.”