“Como não é uma atividade competitiva, a arqueria busca um estado de calma da pessoa. É preciso ter equilíbrio emocional para ter um bom desempenho no tiro”, explica Virgina Reinondil, mestre de pa-kua. Ela explica que a arqueria é uma atividade que abrange aspectos subjetivos. Além disso, o tiro acompanha a respiração, exigindo foco e determinação.
De acordo com a professora de arqueria Eliana Blanchet, a prática traz foco e concentração. Eliana mergulhou no universo das artes marciais há cinco anos, quando ainda morava na Argentina, seu país natal. Logo, ela se sobressaiu na arqueria. “Tudo que se aprende aqui pode ser aplicado na vida”, comenta. Além disso, há um trabalho intenso dos músculos das pernas e dos braços. Condicionamento físico e postura melhoram.
A atriz Rita Cruz, 24 anos, conta que sempre teve muita dificuldade com foco e, desde que começou a praticar a arqueria, notou uma diferença em sua vida. “Não é simplesmente atirar a flecha para qualquer lugar. É preciso ter intuição como arqueiro e essa intuição me leva a resolver os problemas de maneira mais intuitiva e objetiva”, revela. Rita faz outras artes marciais e acredita que elas são complementares. “Gosto de me mover”, resume.
Eliana Blanchet diz que o arco é muito procurado por pessoas com rotina estressante, em busca de relaxamento. “Quando atiramos, liberamos uma energia muito forte. É muito libertador”, garante. Inicialmente, os alunos praticam na escola — a aula inclui alongamento, aquecimento e o tiro em si. É possível, no entanto, atirar ao ar livre. Os praticantes podem se reunir, por exemplo, em uma chácara, mas devem estar atentos para a segurança. A área precisa ser ampla e controlada, pois as flechas são perigosas.
Não existe limite para quem quer começar. Eliana conta que tem alunos de 8 anos e também de 78. Assim como nas artes marciais, a graduação em arqueria se dá por meio de faixas. As cores vão de acordo com o nível, sendo branco o iniciante e preto o mais avançado. No meio, as cores são: amarelo, laranja, verde, cinza, azul e vermelho. A intensidade do treino é modulada de acordo com o condicionamento da pessoa.
Caminho milenar
Pa-kua é um conhecimento milenar chinês que significa “oito mutações”. O pensamento se baseia nos estágios de mutação da natureza, segundo o qual existem diversas formas de se resolver uma situação. Esse conhecimento pode ser desdobrado e aplicado em várias atividades, que buscam trazer o equilíbrio humano. A filosofia chinesa existe há 5 mil anos e hoje é aplicado com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas. Os ensinamentos podem ser aplicados à defesa pessoal, mas sem incentivo à violência.
Arco e flecha ocidental
O Ocidente tem sua própria tradição de arqueria. Inclusive, o tiro como arco é classificado como esporte olímpico, cujas normas são regulamentadas pela Federação Internacional do Tiro com Arco (FITA).
O técnico de arco e flecha do Clube do Exército Christian Haensell explica que há diversas modalidades de tiro — o praticante pode escolher entre o arco composto, o arco recurvo sem mira ou o arco recurvo com mira. Nas Olimpíadas, a única modalidade que entra é a do arco recurvo com mira. Além disso, o esporte pode ser praticado tanto ao livre (outdoor) quanto dentro de uma sala (indoor), sendo somente a primeira reconhecida como modalidade olímpica.
Segundo o técnico, não há restrição para quem quer praticar o arco e flecha, visto que nem todos os praticantes precisam se tornar atletas. Inicialmente, o arqueiro começa a praticar ao ar livre sem mira. Depois que ganha confiança, pode escolher uma modalidade específica.
Há pouca diferença técnica entre o arco ocidental contemporâneo e o oriental, embora este último seja de construção tradicional. As habilidades exigidas também são semelhantes. “Os principais benefícios do arco e fecha são concentração, relaxamento e postura”, garante Christian Haensell.