Saúde

Prisão de ventre: saiba como conviver bem com problema

Constipação intestinal, que acomete 15% da população brasileira, pode ser indício de algo mais sério, principalmente se é repentina. Mas há quem conviva bem com o problema

Zulmira Furbino

Magda Baccarini tem intestino preso há 10 anos e já se acostumou. Tem hábitos saudáveis mas não bebe muita água
Se você tem prisão de ventre e acha que está sozinho, engana-se. Calcula-se que mais de 30 milhões de brasileiros, ou 15% da população do país, sofre com esse tipo de incômodo, a maioria mulheres. Além do desconforto em geral, que inclui sensação de barriga inchada, gases e dificuldade para ir ao banheiro, a constipação intestinal – que mais do que uma doença, é um sintoma – pode ser sinal de diabetes, hipotireoidismo, problemas neurológicos, sedentarismo ou hábitos alimentares inadequados. No limite, porém, quando o resssecamento aparece de uma hora para a outra, acompanhado de emagrecimento, eliminação de sangue e catarro, pode ser um sinal de câncer de intestino.


O proctologista Antônio Lacerda Filho, professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explica que como causa primária a constipação intestinal é muito rara. “Na maioria das vezes há alguma coisa por trás. Em geral, hábitos de vida inadequados ligados ao sedentarismo, alimentação errada. Na busca de um tratamento para o incômodo, o importante é descartar as causas secundárias, que, incluem, ainda, o uso de medicamentos que prendem o intestino, como é o caso dos antidepressivos.

Quando todas essas causas forem descartadas e uma constipação grave for mantida, é hora de investigar outras doenças. “Se uma pessoa sempre teve hábitos intestinais regulares e de repente começa a se queixar de ressecamento e a perder peso, é importante investigar porque isso pode ser sinal de um câncer”, avisa Antônio Lacerda Filho. De acordo com ele, prisão de ventre com sinais de alarme são as que aparecem de uma hora para outra e estão associadas ao emagrecimento, sangramento e eliminação de catarro nas fezes. “Isso chama a atenção para uma doença mais grave e indica a necessidade de fazer uma colonoscopia”, indica.

Para cada quatro indíviduos que sofrem de constipação intestinal, três são mulheres. De acordo com Simone Chaves de Miranda Silvestre, nutróloga do Hospital Felício Rocho, isso ocorre por fatores emocionais e também hormonais, além dos alimentares. “O fator emocional surge, por exemplo, quando uma pessoa passa a usar um banheiro com o qual não está acostumada. Mas também existe uma ligação entre o ressecamento intestinal e as alterações hormonais do ciclo menstrual”, observa. Segundo ela, algumas dietas, principalmente as que estão na moda, chamadas de lowcarb, com baixo teor de carboidrato, podem causar o problema. “Há dietas que preconizam a não ingestão de folhas e verduras em geral e isso reduz muito a quantidade de fibras, o que pode evoluir para uma constipação intestinal”, alerta.

Para os padrões ocidentais, é considerado normal evacuar de três vezes ao dia a três vezes por semana, mas é preciso levar em conta que não existem padrões rígidos para classificar a frequência normal de funcionamento dos intestinos. “Se uma pessoa não sente cólicas, se as fezes não estão ressecadas, está tudo absolutamente normal. Devemos considerar que aquilo que é considerado constipação intestinal para uma pessoa, para outra não é”, diz o professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG. Ele explica que há pessoas que dizem que têm o intestino preso porque evacuam pouco, outras fazem isso diariamente, mas com um esforço tremendo. “Tudo isso faz parte do quadro”, observa.

A empresária Magda Baccarini tem prisão de ventre há muitos anos e conta que aprendeu a conviver com isso. “Faço atividade física duas vezes na semana, ando o dia inteiro enquanto trabalho, minha alimentação inclui verduras e frutas. Como esse ressecamento não é repentino, resolvi parar de me cobrar e encarar a realidade: meu intestino é preguiçoso”, declara. Magda já se acostumou e assegura que não sente mal-estar, inchaço no abdome ou gases. “Cansei de pegar receitas com os amigos. Nada resolvia”, desabafa. Apesar de manter uma alimentação saudável, rica em fibras, a empresária reconhece que não tem o costume de tomar muita água, hábito que, segundo os médicos, é essencial para o funcionamento regular do intestino.

“Muitos médicos receitam a ingestão de fibras para melhorar a prisão de ventre e se esquecem de orientar que, junto com elas, é preciso ingerir uma quantidade abundante de líquido”, lembra o proctologista Antonio Lacerda Filho. De acordo com o gastroenterologista Décio Chinzon, quando a razão da constipação intestinal é orgânica, o fator casual pode ser eliminado e assim o intestino volta a funcionar normalmente. Quando não é possível identificar uma causa objetiva, existem medidas higienodietéticas que podem ajudar, como a estimulação por exercícios físicos, correção da dieta e ingestão de medicamentos e suplementos que podem ser indicados pelo médico para solucionar o problema”, explica Dr. Chinzon. Uma da medidas que ele recomenda é justamente o aumento da ingestão de água.

Para evitar a prisão de ventre

» Vá ao banheiro sempre que tiver vontade. Não fique muito tempo forçando, pois isso pode levar ao aparecimento de hemorroidas
» Beba muito líquido (de dois a três litros por dia)
» Use álcool com moderação, porque ajuda a desidratar as fezes
» Saiba que a ingestão de farelo em pó pode aumentar a produção de gases
» Coma frutas, se possível com casca, nos intervalos entre as refeições. Algumas frutas que ajudam o intestino a funcionar melhor são: mamão (se possível, coma com o caroço), laranja com o bagaço, ameixa-preta ou água de ameixa (deixe quatro delas dentro da água durante a noite e, pela manhã, descarte-as e tome somente a água. Pode usar a água também para fazer um suco verde, com couve, agrião, melão e limão)
» Evite alimentos muito pastosos. Muita gente acha que deve tomar sopa, mas é bom evitar.
» Coma fibras, mas não deixe de tomar água pois senão o efeito pode ser contrário
» Tente administrar as situações de estresse e as crises de ansiedade. Se precisar de ajuda, não se acanhe. As emoções podem ter influência sobre o funcionamento dos intestinos. Lembre-se de que esse órgão já foi chamado de segundo cérebro.
» Procure assistência médica se notar mudanças significativas nos hábitos intestinais. Não deixe também de ir ao médico se as fezes estiverem muito ressecadas ou muito finas, se houver sinais de sangramento ou se você estiver emagrecendo sem nenhuma explicação aparente.