O Novembro Azul, campanha idealizada pelo Instituto Lado a Lado pela Vida, em parceria com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), é uma oportunidade importante para difundir informações corretas e esclarecer mitos como o da disfunção erétil - popularmente conhecida como impotência sexaul - após a prostatectomia radical, que é assim chamada por que a cirurgia não retira apenas a próstata, mas também estruturas adjacentes como as vesículas seminais, linfonodos e parte da uretra.
A chance de cura de um câncer de próstata descoberto no início é de 90%. Dados do Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos mostram que a taxa de sobrevida global em cinco anos para os tumores diagnosticados no início é de quase 100% e cai para 28% quando a doença é detectada em estágio avançado.
Câncer e sexo
Em janeiro de 2012, o advogado especializado em direito financeiro, Marco Antônio de Moura Mesquita, 59 anos, passou por essa intervenção cirúrgica. Ele é um exemplo de combinação ideal entre diagnóstico precoce, cirurgia bem-sucedida e vida sexual plena após o tratamento contra o tumor na próstata. O pai de Marco teve a doença. Parentesco em primeiro grau é considerado o principal fator de risco e, nesses casos, os exames preventivos devem começar aos 40 anos. E era assim que ele fazia ano após ano até que, em meados de 2011, o resultado do PSA deu alterado. “Meu médico pediu que eu repetisse o exame e, em um intervalo de cinco meses, o resultado só aumentava. Ele fez uma biópsia da próstata e, em 16 filetes que foram retirados, apenas um mostrou a presença do tumor”, recorda-se. Marco detalha essa parte da história para evidenciar o quanto a doença foi detectada no início.
Em 9 de janeiro, entrou para o bloco cirúrgico e 40 dias depois teve sua primeira relação sexual com a esposa. Marco está no segundo casamento, ele teve um filho com a primeira mulher que hoje está com 26 anos. “Passei dez dias andando com uma sonda, foi a parte da recuperação que achei mais difícil. Três meses após a cirurgia, minha vida sexual já era como antes do procedimento”, relata.
Após essa cirurgia, Marco tentou ser pai novamente. Com 40 anos, a atual companheira do advogado, que ainda não tem filho, desejava um. O casal fez uma inseminação artificial, mas a gravidez não foi adiante. Ele também não sofreu com a incontinência urinária e conta que, após a retirada da próstata, tomou, por recomendação médica, 28 comprimidos para estimular as ereções. “Depois disso, não tomei mais. Falo desse assunto sem nenhum grilo, não tenho nada do que reclamar e tenho amigos que também fizeram a cirurgia e têm uma boa vida sexual”, afirma.
A história “perfeita” é para estimular que outros homens aproveitem esse mês de conscientização sobre o câncer de próstata para procurar um médico. O desfecho nem sempre será esse. Por isso, o Saúde Plena conversou com dois oncologistas para detalhar as consequências da prostatectomia radical, principal tratamento da doença.
Ereção
Oncologista e diretor do Cetus Hospital Dia Oncologia, Charles Pádua afirma que o medo da disfunção erétil leva muitos homens a não se submeterem ao procedimento cirúrgico. Segundo ele, em alguns casos a radioterapia pode substituir essa intervenção, mas mesmo assim há risco da disfunção.
O especialista destaca que vários estudos que analisam a questão da ereção após a retirada da próstata mostram que 36% dos homens já apresentavam algum grau importante de disfunção erétil antes do diagnóstico. “A dificuldade de ereção não pode ser atribuída somente à prostatectomia radical”, diz. Além disso, o especialista reforça que muitos homens, por tabu, não confessam socialmente que tinham o problema antes da intervenção e atribuem a disfunção erétil à cirurgia.
Segundo ele, o problem está intimamente relacionado à idade. “Homens mais jovens têm chance menor de ter dificuldades de ereção, o tamanho do tumor também influencia. Se é um caso que já invade a parte neural, as chances aumentam”, observa. Charles reforça que o principal recado é que as técnicas cirúrgicas estão se aprimorando para preservar a enervação.
Outra informação importante é que a disfunção erétil pode ser temporária e, por isso, a força emocional é importante para não influenciar negativamente a evolução do quadro. Se o problema persistir, o paciente ainda pode fazer uso de medicamentos para aumentar a eficácia da ereção. Se ainda assim não surtir efeito, existe a opção da prótese peniana (leia matéria sobre o procedimento e depoimento de um paciente)
Oncologista da Oncomed BH, Leandro Ramos reforça que o risco da disfunção erétil é maior em homens acima dos 60 anos, varia entre 50 e 60% dos casos e explica que doenças concomitantes como hipertensão, diabetes e tabagismo podem aumentar a chance de redução efetiva da ereção após a cirurgia. “Até três meses após o procedimento é normal a dificuldade para ereção, mas depois o paciente vai se recuperando. Em alguns casos, pode acontecer de o homem manter relações sexuais sem uma ereção plena, em outros podem não recuperá-la nem com a ajuda medicamentosa”, pondera.
Ejaculação
Charles Pádua explica que 90% do esperma é composto de líquido prostático. Dessa forma, o homem não terá uma ejaculação com volume norma. “Ele alcançará o orgasmo, mas terá uma ejaculação chamada de seca que tem impacto psicológico, mas não deve ser encarada como um grande fator negativo”, pondera.
Incontinência urinária
A incontinência urinária pós-cirurgia atinge menos de 5% dos homens. “O problema é reversível em até 4 meses com a ajuda de fisioterapia para revitalizar a musculatura. Disfunção erétil e incontinência são independentes”, explica Leando Ramos.
Charles Pádua cita uma expressão da literatura médica, a curva de aprendizado, para explicar que, a cada dia, as técnicas cirúrgicas atingem níveis altíssimos de qualidade que são traduzidos em menos consequências ruins após a retirada da próstata. Ele cita como exemplo a assessoria robótica, uma técnica nova que, apesar de ser restritas a alguns centros, tem níveis altíssimos de segurança. O especialista faz a seguinte ressalva: o comprometimento dos homens com os exercícios de fisioterapia tem impacto significativo na recuperação.
Fertilidade
O câncer de próstata é uma doença comum após os 50 anos. Geralmente, homens nessa idade já têm a prole formada e, por essa razão, a fertilidade não é um motivo de preocupação com a cirurgia. No caso do tumor em homens jovens, o oncologista Charles Pádua diz que é importante o paciente entender a diferença entre ser fértil e ter capacidade de ser pai pelas vias normais. “Na prostatectomia radical, ocorre uma oclusão do ducto responsável por conduzir os espermatozóides produzidos pelos testículos. Na grande maioria dos casos, o homem não vai conseguir espelir esses espermatozóides, ou seja, a fertilidade por vias normais fica prejudica”, detalha. Nesses casos, a solução é a reprodução assistida.
Leandro Ramos explica que em caso de tumor metastático - quando é necessário lançar mão de tratamentos hormonais - ocorre a redução de testoterona e o homem perde o desejo sexual. “Se o paciente tiver planos de ser pai o recomendado é congelamento dos espermatozóides antes de iniciar o tratamento”, recomenda.
O oncologista alerta que a melhor arma contra a doença são os exames preventivos e cita os sintomas do câncer de próstata: “alteração do fluxo urinário que pode se manifestar em um jato mais fraco ou interrompido, necessidade de urinar mais vezes durante à noite, dor ou ardor na hora de urinar, pequena quantidade de sangue na urina. E em casos da doença metastática, fadiga, prostração e anemia”, diz.