O que a ciência tem demonstrado é que o suco de cranberry, por ser rico em uma substância chamada proantocianidina, impede a aderência da bactéria Escherichia coli nas mucosas e controla a inflamação. Essa bactéria é a causa mais comum de infecção do trato urinário. Sem conseguir crescer ou reproduzir, a E. coli é eliminada pelo trato urinário.
Especialista em nutrição clínica e coordenadora da Câmara Técnica do Conselho Regional de Nutricionistas de Minas Gerais, Márcia Betânia Silva Braga também não recomenda que a fruta seja usada no tratamento da infecção urinária de meninos e meninas. “Nenhum estudo aponta parâmetros de quantidade para o suco ou a cápsula. Se ingerido em excesso, vai propiciar a diarreia. Extratos e sucos de cranberry contêm altos níveis de um composto químico chamado oxalato, que associado com o cálcio, aumenta a probabilidade de cálculo renal”, pondera.
Originário dos Estados Unidos, o cranberry – também conhecido no Brasil como oxicoco - tem tempo de vida útil pequeno. Por essa razão, não é possível encontrar a fruta no Brasil em sua forma natural. O mais comum é encontrá-la em forma de suco concentrado ou diluído. É possível também consumir a frutinha vermelha em cápsulas ou desidratada (fruta seca). O clima brasileiro não viabiliza o plantio da espécie e por essa razão o custo é alto. O preço de uma caixa de um litro de suco de cranberry varia entre R$ 13 e R$ 18.
Assim como morango, cereja, framboesa e mirtilo (ou blueberry), a nutricionista Márcia Betânia Silva Braga lembra que o cranberry é rico em vitaminas A, C e D, flavonoides, fitoquímicos com poderes antioxidantes, e resveratrol, que tem ação antienvelhecimento e protege contra doenças do coração.
A nutricionista ressalta ainda que o cranberry não deve substituir o antibiótico nem para os casos de infecção urinária em adultos. “Particularmente, acredito nos efeitos benéficos, não descarto. A gente é o que a gente consome. Existem pessoas que têm resultado positivo com o uso do suco, mas defendo como tratamento preventivo e coadjuvante”, observa. Para evitar os excessos, Márcia Betânia Silva Braga diz que existe uma referência de 240 a 480ml de suco ao dia ou, no caso de cápsulas, 50 mg por dia de cranberry. Ela insiste: “Estou com infecção? Não adianta ‘encher a cara’ de cranberry”.
Para Penido, é comum hoje em dia as pessoas terem muito medo do uso de antibióticos muitas vezes por total desconhecimento dessas drogas que mudaram para melhor as condições de vida da humanidade. “O uso de antibióticos tanto para tratamento de uma infecção aguda, como em algumas situações especiais em uso profilático, pode significar a diferença entre sobrevida e óbito e entre recuperação total, sequelas ou recidivas frequentes da infecção. Devemos todos ter uma grande preocupação em não usarmos antibióticos sem indicação médica e também usá-lo conforme a prescrição do médico, ou seja, na dose prescrita e pelo tempo determinado pelo médico. Assim evitaremos as resistências bacterianas e com maior chance conseguiremos as curas”, observa. O nefrologista acredita que a medicina deve procurar sempre novas formas de tratamento que sejam menos agressivas, eficazes, de custo mais baixo, que não agridam o meio ambiente e de sabor agradável.
Entenda a infecção urinária
O nefrologista José Maria Penido da Silva explica que a infecção urinária é uma situação onde bactérias da flora intestinal alcançam o trato urinário pela uretra atingindo a bexiga e podendo chegar aos ureteres e até o rim, fixando-se nas paredes desse trato e multiplicando-se. “Essa situação traz um processo infeccioso que dependendo do tipo da bactéria e do local onde ela se fixou trará maiores ou menores sintomas e consequências. Todo o trato urinário é revestido por um epitélio que possui proteção contra a fixação de bactérias”, afirma.
Penido diz ainda que existe uma forte relação entre constipação intestinal (intestino preso) e infecção urinária. “Desse modo, toda criança com infecção urinária deve ser avaliada quando ao seu hábito intestinal e aspecto das fezes. Considera-se constipação intestinal não evacuar todos os dias e ou fezes que não sejam pastosas ou em forma de cilindro macio”, reforça.
Incidência na infância
No primeiro mês de vida, a infecção urinária acomete mais os meninos que as meninas. De um mês até 12 meses, a incidência é semelhante nos dois sexos e, após 1 ano de idade, é uma doença que predomina no sexo feminino. O médico diz que nos primeiros 11 anos de vida ocorre em 3% das meninas e em 1,1% dos meninos pelo menos um episódio de infecção urinária com sintomas. A taxa de recorrência é elevada, sendo que 30% das meninas apresentam um novo episódio dentro do primeiro ano após o episódio inicial e 50% delas apresentam recidiva em cinco anos, algumas podendo apresentar uma série de recidivas. Nos meninos, as recidivas variam em torno de 15 a 20%, sendo raras após o 1º ano de vida”, detalha.
Higienização x infecção
O especialista ressalta que é muito importante que se saiba que não existe nenhuma relação entre limpeza e infecção urinária, ou seja, “caso o cuidador não faça a higiene adequada da criança independentemente do sexo a falta de higiene causará lesões locais como uma assadura ou infecções locais, chamadas de vulvovaginite nas meninas e balanopostites nos meninos, mas não é causa de infecção urinária”.
Sintomas
José Maria Penido da Silva diz que a suspeita de infecção urinária deve surgir sempre que a criança apresentar-se com febre e/ou queixas urinárias. “As crianças com quadro febril devem ser avaliadas pelo pediatra, que caso não consiga descobrir a causa da febre, solicitará exames para confirmar a suspeita de infecção do trato urinário”, cita. Segundo ele, os exames principais são: urina de rotina; a pesquisa de bactérias em uma gota de urina e a cultura de urina. “Aqui cabe um alerta, a coleta deve ser feita de forma rigorosa: no laboratório fazer a limpeza da genitália e a coleta na sequência. Em alguns casos, o pediatra solicitará também exames de sangue (hemograma e PCR) para melhor definir a gravidade do caso”, explica.
Atenção redobrada com recém-nascidos
O especialista diz que é muito importante salientar que quanto mais nova for a criança maior o risco de complicações da infecção urinária. “Nos recém-nascidos há um enorme risco da infecção se disseminar pelo corpo (sepse) e consequentemente o risco de morte. Nas lactentes mais novos (até 3 meses) esse risco existe porém com menor intensidade. Isso implica que os recém-nascidos de uma maneira geral devam ser tratados com muita atenção e internados em hospitais”.
Para ele, toda infecção urinária deve ser prontamente diagnosticada, tratada e avaliada pelo pediatra que definirá quais exames devem ser solicitados durante ou após o tratamento.
Xixi dos filhos: assunto dos pais
José Maria Penido da Silva chama atenção para a disfunção da micção, chamada de ‘Disfunção do Trato Urinário Inferior’. Nessa situação, de acordo com o especialista, as crianças “seguram” muito a urina, têm dificuldade no ato da micção ou fazem manobras para segurar a urina como cruzar as pernas ou ficar “dançando”. “Também um fato muito importante são aquelas crianças que após os 3 ou 4 anos apresentam perdas de urina na roupa, ou seja, perdem algumas gotas de urina (voltam da escola com a cueca ou a calcinha com pequenas manchas de urina) ou urinam sempre na urgência e algumas vezes, se demoram para achar o banheiro, chegam a perder quantidade variadas de urina na roupa. Todos os pais devem observar o padrão de micção dos filhos e informar ao pediatra quando das consultas de rotina ou nas consultas para avaliação de febre ou queixas urinárias”, esclarece.