No câncer, tudo é superlativo. A começar pelo susto de receber o diagnóstico. A incidência da doença é altíssima e em escala mundial. Nos países em desenvolvimento, são 7 milhões de novos casos a cada ano, sendo que 4.820 pacientes vão a óbito. Esses números não são tão menores em países desenvolvidos: são 5,5 milhões de casos anuais e 2 milhões de mortes. Além disso, milhões são investidos na busca por novos tratamentos.
Para que a batalha contra esse mal seja vitoriosa, milhares de cientistas em todo o mundo se debruçam sobre microscópios e equipamentos de última geração para tentar entender o comportamento dos tumores e descobrir a fórmula mágica para detê-los. Um grupo desses pesquisadores está concentrado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Pfizer, em La Jolla, em San Diego, na Califórnia. São cinco prédios, nos quais estão instalados laboratórios e equipamentos especializados em biologia computacional e estrutural, design molecular, metabolismo de medicamentos, química de alto rendimento e farmacologia.
Desses esforços se espera, senão a cura, a descoberta de tratamentos que melhorem a sobrevida dos pacientes. Um longo caminho já foi percorrido desde os anos 1980, quando ganhou força a administração de citóxicos e de quimioterapia. Esse tipo de droga tem a desvantagem de destruir as células saudáveis além das cancerígenas. Na década passada, muito se falou de terapia-alvo e da possibilidade de “mirar” o tumor. Agora, as apostas são em medicina de precisão, aquela que estuda a genética do tumor e personaliza o tratamento, usando medicamentos específicos para cada pessoa, com respostas muito mais eficientes.
A Revista do Correio conversou com o oncologista Roberto Uehara, médico da Pfizer da América Latina, para traduzir esses termos médicos que indicam os avanços da oncologia. “Estamos falando de pacientes com doença incurável e avançada. O objetivo é fazer com que eles vivam mais e com qualidade. E também minimizar a chance de a doença voltar”, resume o especialista.
Apostas da ciência
Terapia-alvo
“É quando existe um medicamento o qual se sabe exatamente onde ele vai atuar. Essa terapia-alvo é interessante porque já está vindo a segunda geração do mesmo remédio. Para aqueles pacientes que ficaram resistentes, desenvolveu-se a mesma droga, da mesma classe, contra o mesmo tipo de alvo, só que de segunda geração, que vai combater a resistência daquele tumor.”
Medicina de precisão
“Em uma população de 10 pessoas com câncer de pulmão, por exemplo, você faz um teste genético do tumor para saber quem vai se beneficiar com aquele tratamento. Na prática, é retirado um pedaço do tumor e feito um teste para saber se ele tem aquela mutação para qual a medicação é indicada. Isso beneficia o paciente porque ele não vai receber uma terapia que não precisa e terá menos efeitos colaterais. Um exemplo é um tumor hematológico chamado mieloma. Existem várias drogas para tratar esse tumor, mas não se sabe qual dar para qual paciente. Então o que se faz? Dá um, não funciona. Quando progride, dá outro. Tem alguns tumores que você sabe qual é a mutação, mas não sabe qual a droga-alvo para a mutação.”
Imuno-oncologia
“O tratamento imunológico não é novo, mas agora está vindo uma imunoterapia nova, mais assertiva porque sabe-se em que parte do sistema imunológico exatamente ela vai atuar. Dessa maneira, estão tentando descobrir qual o marcador que vai selecionar melhor o paciente. Esse é o esforço da medicina hoje. Na imunoterapia, basicamente, busca-se que o sistema imunológico combata o tumor. Esse é o objetivo maior. Uma das teorias é que o câncer é uma célula do seu corpo e o sistema imunológico procura combater aquilo que é extremamente diferente, como uma bactéria ou um vírus. Como a célula do tumor se parece com você, o sistema imunológico fica meio confuso. É célula do corpo, mas não é, pois algumas coisas são diferentes. Esse é um mecanismo inteligente que o tumor criou para escapar do sistema imunológico. Uma das coisas que essas drogas fazem é tentar estimular o sistema imunológico para ele que identifique, de maneira mais eficiente, que aquilo é célula de câncer e passe a atacá-la.”
Vacinas
O conceito tradicional de vacinas é quando você pega um agente estranho e coloca em contato com seu sistema imune, como é feito com a vacina da gripe, da tuberculose. Pega-se uma parte da bactéria, coloca em contato com o soro humano. Então, é produzido um anticorpo especificamente contra aquilo e, depois, injetado na pessoa, que fica imunizada. Com o câncer, estão tentando fazer a mesma coisa. Existe uma vacina aprovada para o câncer de próstata, por exemplo. Tira-se um fragmento do tumor, prepara aquilo no laboratório com células do paciente e injeta na pessoa de novo. Esse é o conceito clássico da vacina e pode ser usado quando a doença é metastática.”
Epigenética
“Quando se controla a expressão dos genes, especialmente os que são relacionados ao câncer, pode-se controlar o desenvolvimento, a disseminação e a progressão dos tumores. Há alguns tumores que a gente sabe: se ele tiver determinado gene, será mais ou menos agresssivo. Esse gene está superativado naquele câncer. Ao inibi-lo sem destruir a célula, consigo evitar que esse gene mande a sinalização de progressão e de divisão celular.”
Biomarcadores
“Como o próprio nome diz, é um marcador biológico, que vai dar alguma informação específica. Por exemplo, um biomarcador pode dizer que tal tumor é positivo para aquela mutação genética, ou não, se vai ser sensível à determinada terapia.”
Anticorpo monoclonal
“Esse anticorpo é uma molécula grande. Não é como os outros fármacos de moléculas sintéticas, que entram na célula tumoral. O anticorpo monoclonal, como é grande, fica do lado de fora da célula. Existem substâncias na membrana celular que são como chave e fechadura, e o anticorpo monoclonal tem de se encaixar exatamente naquela fechadura, que só aquela célula tem. Assim, é possível combiná-lo com a quimioterapia e a medicação só vai chegar naquela célula específica, na qual o anticorpo se ligou. O tratamento é mais específico e com menos efeitos adversos. Temos dois fármacos assim para doenças hematológicas, por exemplo.”
Angiogênese
“Para o tumor crescer e se proliferar dentro do paciente, um dos mecanismos é secretar substâncias que vão produzir e gerar vasos sanguíneos, que vão sair do tumor para outras partes do corpo. Por que ele faz isso? Porque ele quer sangue, oxigênio e nutrientes. Assim, ele se dissemina. Quando esse processo de angiogênese é bloqueado, o tumor é controlado. Os medicamentos antiangiogênicos bloqueiam a formação de novos vasos e agridem o tumor. É como se ele morresse por inanição.”
* A repórter viajou a convite da Pfizer.
Para que a batalha contra esse mal seja vitoriosa, milhares de cientistas em todo o mundo se debruçam sobre microscópios e equipamentos de última geração para tentar entender o comportamento dos tumores e descobrir a fórmula mágica para detê-los. Um grupo desses pesquisadores está concentrado no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Pfizer, em La Jolla, em San Diego, na Califórnia. São cinco prédios, nos quais estão instalados laboratórios e equipamentos especializados em biologia computacional e estrutural, design molecular, metabolismo de medicamentos, química de alto rendimento e farmacologia.
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Apostas da ciência
Terapia-alvo
“É quando existe um medicamento o qual se sabe exatamente onde ele vai atuar. Essa terapia-alvo é interessante porque já está vindo a segunda geração do mesmo remédio. Para aqueles pacientes que ficaram resistentes, desenvolveu-se a mesma droga, da mesma classe, contra o mesmo tipo de alvo, só que de segunda geração, que vai combater a resistência daquele tumor.”
Medicina de precisão
“Em uma população de 10 pessoas com câncer de pulmão, por exemplo, você faz um teste genético do tumor para saber quem vai se beneficiar com aquele tratamento. Na prática, é retirado um pedaço do tumor e feito um teste para saber se ele tem aquela mutação para qual a medicação é indicada. Isso beneficia o paciente porque ele não vai receber uma terapia que não precisa e terá menos efeitos colaterais. Um exemplo é um tumor hematológico chamado mieloma. Existem várias drogas para tratar esse tumor, mas não se sabe qual dar para qual paciente. Então o que se faz? Dá um, não funciona. Quando progride, dá outro. Tem alguns tumores que você sabe qual é a mutação, mas não sabe qual a droga-alvo para a mutação.”
Imuno-oncologia
“O tratamento imunológico não é novo, mas agora está vindo uma imunoterapia nova, mais assertiva porque sabe-se em que parte do sistema imunológico exatamente ela vai atuar. Dessa maneira, estão tentando descobrir qual o marcador que vai selecionar melhor o paciente. Esse é o esforço da medicina hoje. Na imunoterapia, basicamente, busca-se que o sistema imunológico combata o tumor. Esse é o objetivo maior. Uma das teorias é que o câncer é uma célula do seu corpo e o sistema imunológico procura combater aquilo que é extremamente diferente, como uma bactéria ou um vírus. Como a célula do tumor se parece com você, o sistema imunológico fica meio confuso. É célula do corpo, mas não é, pois algumas coisas são diferentes. Esse é um mecanismo inteligente que o tumor criou para escapar do sistema imunológico. Uma das coisas que essas drogas fazem é tentar estimular o sistema imunológico para ele que identifique, de maneira mais eficiente, que aquilo é célula de câncer e passe a atacá-la.”
Vacinas
O conceito tradicional de vacinas é quando você pega um agente estranho e coloca em contato com seu sistema imune, como é feito com a vacina da gripe, da tuberculose. Pega-se uma parte da bactéria, coloca em contato com o soro humano. Então, é produzido um anticorpo especificamente contra aquilo e, depois, injetado na pessoa, que fica imunizada. Com o câncer, estão tentando fazer a mesma coisa. Existe uma vacina aprovada para o câncer de próstata, por exemplo. Tira-se um fragmento do tumor, prepara aquilo no laboratório com células do paciente e injeta na pessoa de novo. Esse é o conceito clássico da vacina e pode ser usado quando a doença é metastática.”
Epigenética
“Quando se controla a expressão dos genes, especialmente os que são relacionados ao câncer, pode-se controlar o desenvolvimento, a disseminação e a progressão dos tumores. Há alguns tumores que a gente sabe: se ele tiver determinado gene, será mais ou menos agresssivo. Esse gene está superativado naquele câncer. Ao inibi-lo sem destruir a célula, consigo evitar que esse gene mande a sinalização de progressão e de divisão celular.”
Biomarcadores
“Como o próprio nome diz, é um marcador biológico, que vai dar alguma informação específica. Por exemplo, um biomarcador pode dizer que tal tumor é positivo para aquela mutação genética, ou não, se vai ser sensível à determinada terapia.”
Anticorpo monoclonal
“Esse anticorpo é uma molécula grande. Não é como os outros fármacos de moléculas sintéticas, que entram na célula tumoral. O anticorpo monoclonal, como é grande, fica do lado de fora da célula. Existem substâncias na membrana celular que são como chave e fechadura, e o anticorpo monoclonal tem de se encaixar exatamente naquela fechadura, que só aquela célula tem. Assim, é possível combiná-lo com a quimioterapia e a medicação só vai chegar naquela célula específica, na qual o anticorpo se ligou. O tratamento é mais específico e com menos efeitos adversos. Temos dois fármacos assim para doenças hematológicas, por exemplo.”
Angiogênese
“Para o tumor crescer e se proliferar dentro do paciente, um dos mecanismos é secretar substâncias que vão produzir e gerar vasos sanguíneos, que vão sair do tumor para outras partes do corpo. Por que ele faz isso? Porque ele quer sangue, oxigênio e nutrientes. Assim, ele se dissemina. Quando esse processo de angiogênese é bloqueado, o tumor é controlado. Os medicamentos antiangiogênicos bloqueiam a formação de novos vasos e agridem o tumor. É como se ele morresse por inanição.”
* A repórter viajou a convite da Pfizer.