Vaginismo é a contração involuntária da musculatura vaginal que impede a penetração. Essa disfunção sexual acomete entre 1 e 6% das mulheres com vida sexual ativa. Pouco conhecida e muitas vezes confundida com a dor na relação sexual – cujo nome técnico é dispareunia -, é comum não só que a mulher receba o diagnóstico errado, já que muitos profissionais desconhecem o problema, como também tenha que se submeter a um rosário de especialistas com tratamentos, inclusive, inadequados. “As pacientes relatam ser tratadas como neuróticas ou difíceis e acusadas de não colaborarem com o exame médico. Às vezes se referem ao exame ginecológico como um estupro, já que a questão básica dessa disfunção sexual é a incapacidade em permitir a penetração vaginal, seja através do ato sexual, do exame ginecológico ou em alguma outra situação, mas nem sempre em todas”, explica o ginecologista, sexólogo, coordenador do Departamento de Sexologia Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais (FCMMG) e presidente do Comitê de Sexologia da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig), Ramon Luiz Braga Dias Moreira.
A jornalista H. B., 33 anos, conta que recebeu o diagnóstico vaginismo no parto de sua filha, hoje com 13 anos. “O obstetra tentava fazer o exame de toque para ver a minha dilatação e involuntariamente o músculo da minha vagina apertava a mão dele, sendo que o tempo todo ele me pedia para relaxar para facilitar o exame. Ele me disse que não era normal sentir dor no exame de toque, mas eu sentia muita porque os músculos se contraíam, como se quisessem impedir a penetração de sua mão. Ele não me disse nada na hora, mas foi até à minha mãe e disse a ela que eu deveria procurá-lo para tratar de vaginismo. Na hora, ela ficou sem entender nada”, relata.
Em artigo publicado na Revista Médica de Minas Gerais, Ramon Luiz Braga afirma que existem imprecisões quanto ao próprio conceito de vaginismo, mas também em relação ao diagnóstico, forma de tratamento e participação de vários especialistas como psicólogos, fisioterapeutas, ginecologistas, psiquiatras, sexólogos e psicanalistas no esforço de propor uma abordagem à paciente. Atualmente, a literatura médica coloca como definição de vaginismo “a dificuldade persistente ou recorrente da mulher em permitir a entrada vaginal do pênis ou dedo e/ou objeto, apesar do desejo expresso da mulher em fazê-lo. Ocorre geralmente evitação (fóbica), contração involuntária da musculatura pélvica e antecipação/medo/experiência de dor. Devem ser excluídas outras anormalidades estruturais ou físicas”. O conceito consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicação norte-americana que é conhecida como ‘bíblia da psiquiatria’.
Membro também da Sogimig, a ginecologista Ana Lucia Valadares explica que o vaginismo é classificado como primário ou secundário. No primeiro caso, segundo ela, a mulher apresenta o problema já no início da vida sexual. “O secundário é quando a disfunção aparece em algum momento da vida sexual”, afirma a médica.
Depois do nascimento da filha, H. B. foi ao consultório do médico que assistiu o parto e o profissional fez o encaminhamento a um sexólogo. “Achei super estranho, mas como confiava muito nele, fui o mais rápido possível. O sexólogo também era ginecologista, me examinou e viu que clinicamente não havia nada de errado. Nesta mesma consulta, ele fez três moldes de gesso (pequeno, médio e grande) e pediu que eu usasse todos os dias e fosse aumentando o tamanho gradativamente. Eu colocava o molde dentro de um preservativo masculino e introduzia na vagina. Ficava com ele o dia todo. A intenção era fazer com que a musculatura vaginal se acostumasse com a penetração e parasse com os movimentos involuntários sempre que algo se aproximasse. O tratamento durou apenas três dias, confesso que tenho nervoso de ficar mexendo muito, nem absorvente interno eu uso, mas por incrível que pareça, usei apenas o molde P nos três dias e o problema foi completamente resolvido. Desde então eu tenho relações normais e prazerosas do início ao fim”, relata.
Causas
Ramon Luiz Braga afirma que o histórico de uma educação sexual rígida - seja moral, religiosa ou ambas - é a causa mais comum do vaginismo. “Mulheres com histórico de abusos sexuais na infância e estupro em qualquer fase da vida podem desenvolver a disfunção sexual. É comum também quando a primeira relação sexual foi insatisfatória, dolorosa ou forçada”, explica o especialista.
O ginecologista e sexólogo diz ainda que lesões prévias sobre a vulva e a vagina, história de infecções repetidas que causam dores e irritações crônicas também podem ocasionar o problema. “A dispareunia pode evoluir para o vaginismo”, observa.
Mulheres que sofreram traumas não sexuais no passado - como acidentes de automóveis, violência doméstica e assaltos à mão armada - também podem desenvolver essa disfunção sexual. “Nesses casos, pode-se dizer que é sintoma atípico de síndrome de pânico. O vaginismo pode também ser a negação à homossexualidade, nas mulheres que insistem em relação heterossexual que não é o seu objeto de desejo. Há casos em que o vaginismo constitui-se em rejeição específica ao parceiro sexual e a condição desaparece quando a paciente troca de parceiro”, detalha o médico. Outra situação em que o vaginismo pode aparecer é após a menopausa devido à atrofia genital no período ou mesmo sem esse fator.
Causas físicas também podem gerar o vaginismo. “Processos anatômicos, ou seja, quando a mulher nasce com algum defeito na vagina, câncer de colo de útero, câncer da vagina, atrofia da vagina e o próprio tratamento contra o câncer podem ocasionar essa disfunção sexual”, explica Ramon. Mulheres que passaram pela episiotomia (corte entre a vagina e o ânus) no parto via vaginal também podem desenvolver vaginismo.
Leia também: Mulheres precisam se informar para evitar episiotomia desnecessária e ponto do marido no parto via vaginal
O especialista chama atenção para as cirurgias estéticas da vagina. “É uma região de muitas terminações nervosas, com risco de cicatriz dolorosa que pode afetar a vida sexual da mulher para sempre. Qualquer corte na vagina necessita de uma indicação bem precisa, que faça diferença para a saúde da mulher. Não se pode sair indicando plástica na vagina para todo mundo, mas apenas quando os grandes lábios e pequenos lábios estiverem atrapalhando algum processo fisiológico ou causando algum transtorno para a vida dessa mulher”, avalia.
Dificuldade no diagnóstico
H. B. diz que, por três anos, sentiu dor nas relações sexuais. “Eu expliquei ao sexólogo que era uma luta para conseguir ter relações sexuais, a dor era quase insuportável e eu ficava machucada (assada) com poucos minutos. Eu achava que aquilo era normal e que, provavelmente, acontecia porque eu não tinha relações sexuais frequentes. E naquela época eu não contava isso pra ninguém, só contei depois que me curei. Ele me explicou que o vaginismo ocorre, geralmente, por algum problema ou trauma psicológico. Eu não me lembro de nenhum, mas o que importava era me tratar”, conta.
A jornalista relata que conseguia sentir algum prazer no sexo. “Antes de chegar ao orgasmo, o queimor como de uma assadura começava e atrapalhava tudo. Como a musculatura se comprimia o tempo todo como se quisesse expulsar o pênis, isso causava uma irritação horrível, parecia que tinha sofrido queimaduras mesmo. Em três anos eu cheguei ao orgasmo duas vezes”, narra.
Ela diz ainda que o namorado sempre foi muito paciente. “Quando eu pedia para parar, ele respeitava o meu pedido sem ficar chateado e eu tentava compensá-lo de outras maneiras. Como ele foi o meu primeiro parceiro, parece que ele pensava igual a mim, que isso acontecia porque eu não tinha relações frequentes e porque ainda era inexperiente. Mas como achávamos normal, nunca falamos em procurar ajuda médica”, afirma.
Após o tratamento, H. B. descreve a sensação quando teve a primeira relação sexual sem dor. “Aí eu descobri o que era prazer de verdade. Relação sexual não tem absolutamente nada a ver com dor. E o bacana é que meu namorado na época também viu o quanto a nossa relação ficou melhor. Eu chegava ao orgasmo sem interrupções e a penetração se tornou um momento super tranquilo. Nada de tensão”, revela. A jornalista diz que não tem qualquer receio de o problema voltar. “Nem penso nisso. Na verdade nem lembro do vaginismo na minha vida”, reforça.
A jornalista recebeu o diagnóstico de vaginismo tanto do médico que fez o parto da filha dela, quanto do sexólogo que a acompanhou.“Olha, o que eu sei é que dava trabalho para o meu namorado, viu? A penetração era doída para ele também porque eu travava a musculatura de uma forma impressionante. Para você ter ideia, nós chegamos a ir umas três vezes ao motel e saímos de lá sem ter tido penetração. Em outras ocasiões, nós conseguimos, com muito custo, mas conseguimos”, resume.
Ramom Luiz Braga reforça que a própria definição de vaginismo traz em si algumas ambivalências como ser descrita na seção de doenças mentais apesar de o diagnóstico ser feito por ginecologistas. “Como fazer o diagnóstico de vaginismo se a mulher não permite o exame vaginal? Como saber se ela tem espasmo (contração involuntária) da musculatura se não se tem acesso à sua vagina? Só resta pensar que esse diagnóstico é feito por ‘presunção’”, explica. A terceira dúvida é resumida assim por ele: “O que se contesta hoje é se a mulher realmente possui um espasmo crônico da vagina e por isso não consegue a penetração ou se ela contrai a vagina e o períneo devido ao medo da penetração, somente na hora em que essa ameaça aparece”.
Tratamento
O desconhecimento geral do problema é uma das dificuldades a ser superada pela mulher que tem vaginismo. “A primeira providência é informar essa mulher sobre a disfunção e assegurar que há tratamentos disponíveis. Um dos grandes erros é propor uma solução cirúrgica, o que raramente é necessário, somente quando a causa do vaginismo é física”, pontua Ramon Luiz Braga.
Segundo o especialista, existem vários tratamentos para o vaginismo, mas o mais importante é a psicoterapia associada ao acompanhamento médico. “O vaginismo é uma reação fóbica da mulher à penetração, é muito comum em mulheres com conceito errado da sexualidade, que receberam uma educação sexual rígida”, reforça.
O ginecologista e sexólogo explica que é necessário que a musculatura vaginal da mulher retorne ao tônus normal. Para isso, é feito uma dilatação manual com o uso de vasodilatadores. “Também é possível provocar a alteração desse tônus com um aparelho de fisioterapia chamado biofeedback. São eletrodos que são introduzidos na vagina para provocar contraçãoes involuntárias e diminuir o tônus muscular”, explica. Outra alternativa é a injeção de toxina botulínica (botox) para relaxar a musculatura. Segundo Ramon, ainda existem medicamentos que provocam esse relaxamento. A terapia é importante, inclusive, para trabalhar a relação da paciente com a própria genitália. “O índice de resolução do problema varia entre 90% a 95% e acontece no período de três a seis meses”, diz o médico. Ramon Luiz Braga salienta que as mulheres que ficam focadas no ginecologista não encontram tratamento correto.
O que mostram os avanços sobre o conhecimento do vaginismo é que ele requer abordagem multidisciplinar. “Os profissionais que se dedicam ao tratamento desse assunto devem entender o sofrimento por que passam as pacientes”, afirma Ramon. Segundo ele, novos tratamentos estão em progresso e os estudos na área da fisioterapia têm sido muito importantes para impedir que o vaginismo impeça a vida sexual e o bem-estar de muitos casais.
A jornalista H. B., 33 anos, conta que recebeu o diagnóstico vaginismo no parto de sua filha, hoje com 13 anos. “O obstetra tentava fazer o exame de toque para ver a minha dilatação e involuntariamente o músculo da minha vagina apertava a mão dele, sendo que o tempo todo ele me pedia para relaxar para facilitar o exame. Ele me disse que não era normal sentir dor no exame de toque, mas eu sentia muita porque os músculos se contraíam, como se quisessem impedir a penetração de sua mão. Ele não me disse nada na hora, mas foi até à minha mãe e disse a ela que eu deveria procurá-lo para tratar de vaginismo. Na hora, ela ficou sem entender nada”, relata.
Em artigo publicado na Revista Médica de Minas Gerais, Ramon Luiz Braga afirma que existem imprecisões quanto ao próprio conceito de vaginismo, mas também em relação ao diagnóstico, forma de tratamento e participação de vários especialistas como psicólogos, fisioterapeutas, ginecologistas, psiquiatras, sexólogos e psicanalistas no esforço de propor uma abordagem à paciente. Atualmente, a literatura médica coloca como definição de vaginismo “a dificuldade persistente ou recorrente da mulher em permitir a entrada vaginal do pênis ou dedo e/ou objeto, apesar do desejo expresso da mulher em fazê-lo. Ocorre geralmente evitação (fóbica), contração involuntária da musculatura pélvica e antecipação/medo/experiência de dor. Devem ser excluídas outras anormalidades estruturais ou físicas”. O conceito consta no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), publicação norte-americana que é conhecida como ‘bíblia da psiquiatria’.
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Dilatador vaginal pode ajudar no tratamento do vaginismo
Depois do nascimento da filha, H. B. foi ao consultório do médico que assistiu o parto e o profissional fez o encaminhamento a um sexólogo. “Achei super estranho, mas como confiava muito nele, fui o mais rápido possível. O sexólogo também era ginecologista, me examinou e viu que clinicamente não havia nada de errado. Nesta mesma consulta, ele fez três moldes de gesso (pequeno, médio e grande) e pediu que eu usasse todos os dias e fosse aumentando o tamanho gradativamente. Eu colocava o molde dentro de um preservativo masculino e introduzia na vagina. Ficava com ele o dia todo. A intenção era fazer com que a musculatura vaginal se acostumasse com a penetração e parasse com os movimentos involuntários sempre que algo se aproximasse. O tratamento durou apenas três dias, confesso que tenho nervoso de ficar mexendo muito, nem absorvente interno eu uso, mas por incrível que pareça, usei apenas o molde P nos três dias e o problema foi completamente resolvido. Desde então eu tenho relações normais e prazerosas do início ao fim”, relata.
Causas
Ramon Luiz Braga afirma que o histórico de uma educação sexual rígida - seja moral, religiosa ou ambas - é a causa mais comum do vaginismo. “Mulheres com histórico de abusos sexuais na infância e estupro em qualquer fase da vida podem desenvolver a disfunção sexual. É comum também quando a primeira relação sexual foi insatisfatória, dolorosa ou forçada”, explica o especialista.
O ginecologista e sexólogo diz ainda que lesões prévias sobre a vulva e a vagina, história de infecções repetidas que causam dores e irritações crônicas também podem ocasionar o problema. “A dispareunia pode evoluir para o vaginismo”, observa.
Mulheres que sofreram traumas não sexuais no passado - como acidentes de automóveis, violência doméstica e assaltos à mão armada - também podem desenvolver essa disfunção sexual. “Nesses casos, pode-se dizer que é sintoma atípico de síndrome de pânico. O vaginismo pode também ser a negação à homossexualidade, nas mulheres que insistem em relação heterossexual que não é o seu objeto de desejo. Há casos em que o vaginismo constitui-se em rejeição específica ao parceiro sexual e a condição desaparece quando a paciente troca de parceiro”, detalha o médico. Outra situação em que o vaginismo pode aparecer é após a menopausa devido à atrofia genital no período ou mesmo sem esse fator.
Causas físicas também podem gerar o vaginismo. “Processos anatômicos, ou seja, quando a mulher nasce com algum defeito na vagina, câncer de colo de útero, câncer da vagina, atrofia da vagina e o próprio tratamento contra o câncer podem ocasionar essa disfunção sexual”, explica Ramon. Mulheres que passaram pela episiotomia (corte entre a vagina e o ânus) no parto via vaginal também podem desenvolver vaginismo.
Leia também: Mulheres precisam se informar para evitar episiotomia desnecessária e ponto do marido no parto via vaginal
O especialista chama atenção para as cirurgias estéticas da vagina. “É uma região de muitas terminações nervosas, com risco de cicatriz dolorosa que pode afetar a vida sexual da mulher para sempre. Qualquer corte na vagina necessita de uma indicação bem precisa, que faça diferença para a saúde da mulher. Não se pode sair indicando plástica na vagina para todo mundo, mas apenas quando os grandes lábios e pequenos lábios estiverem atrapalhando algum processo fisiológico ou causando algum transtorno para a vida dessa mulher”, avalia.
Dificuldade no diagnóstico
H. B. diz que, por três anos, sentiu dor nas relações sexuais. “Eu expliquei ao sexólogo que era uma luta para conseguir ter relações sexuais, a dor era quase insuportável e eu ficava machucada (assada) com poucos minutos. Eu achava que aquilo era normal e que, provavelmente, acontecia porque eu não tinha relações sexuais frequentes. E naquela época eu não contava isso pra ninguém, só contei depois que me curei. Ele me explicou que o vaginismo ocorre, geralmente, por algum problema ou trauma psicológico. Eu não me lembro de nenhum, mas o que importava era me tratar”, conta.
A jornalista relata que conseguia sentir algum prazer no sexo. “Antes de chegar ao orgasmo, o queimor como de uma assadura começava e atrapalhava tudo. Como a musculatura se comprimia o tempo todo como se quisesse expulsar o pênis, isso causava uma irritação horrível, parecia que tinha sofrido queimaduras mesmo. Em três anos eu cheguei ao orgasmo duas vezes”, narra.
Ela diz ainda que o namorado sempre foi muito paciente. “Quando eu pedia para parar, ele respeitava o meu pedido sem ficar chateado e eu tentava compensá-lo de outras maneiras. Como ele foi o meu primeiro parceiro, parece que ele pensava igual a mim, que isso acontecia porque eu não tinha relações frequentes e porque ainda era inexperiente. Mas como achávamos normal, nunca falamos em procurar ajuda médica”, afirma.
Após o tratamento, H. B. descreve a sensação quando teve a primeira relação sexual sem dor. “Aí eu descobri o que era prazer de verdade. Relação sexual não tem absolutamente nada a ver com dor. E o bacana é que meu namorado na época também viu o quanto a nossa relação ficou melhor. Eu chegava ao orgasmo sem interrupções e a penetração se tornou um momento super tranquilo. Nada de tensão”, revela. A jornalista diz que não tem qualquer receio de o problema voltar. “Nem penso nisso. Na verdade nem lembro do vaginismo na minha vida”, reforça.
A jornalista recebeu o diagnóstico de vaginismo tanto do médico que fez o parto da filha dela, quanto do sexólogo que a acompanhou.“Olha, o que eu sei é que dava trabalho para o meu namorado, viu? A penetração era doída para ele também porque eu travava a musculatura de uma forma impressionante. Para você ter ideia, nós chegamos a ir umas três vezes ao motel e saímos de lá sem ter tido penetração. Em outras ocasiões, nós conseguimos, com muito custo, mas conseguimos”, resume.
Ramom Luiz Braga reforça que a própria definição de vaginismo traz em si algumas ambivalências como ser descrita na seção de doenças mentais apesar de o diagnóstico ser feito por ginecologistas. “Como fazer o diagnóstico de vaginismo se a mulher não permite o exame vaginal? Como saber se ela tem espasmo (contração involuntária) da musculatura se não se tem acesso à sua vagina? Só resta pensar que esse diagnóstico é feito por ‘presunção’”, explica. A terceira dúvida é resumida assim por ele: “O que se contesta hoje é se a mulher realmente possui um espasmo crônico da vagina e por isso não consegue a penetração ou se ela contrai a vagina e o períneo devido ao medo da penetração, somente na hora em que essa ameaça aparece”.
Tratamento
O desconhecimento geral do problema é uma das dificuldades a ser superada pela mulher que tem vaginismo. “A primeira providência é informar essa mulher sobre a disfunção e assegurar que há tratamentos disponíveis. Um dos grandes erros é propor uma solução cirúrgica, o que raramente é necessário, somente quando a causa do vaginismo é física”, pontua Ramon Luiz Braga.
Segundo o especialista, existem vários tratamentos para o vaginismo, mas o mais importante é a psicoterapia associada ao acompanhamento médico. “O vaginismo é uma reação fóbica da mulher à penetração, é muito comum em mulheres com conceito errado da sexualidade, que receberam uma educação sexual rígida”, reforça.
O ginecologista e sexólogo explica que é necessário que a musculatura vaginal da mulher retorne ao tônus normal. Para isso, é feito uma dilatação manual com o uso de vasodilatadores. “Também é possível provocar a alteração desse tônus com um aparelho de fisioterapia chamado biofeedback. São eletrodos que são introduzidos na vagina para provocar contraçãoes involuntárias e diminuir o tônus muscular”, explica. Outra alternativa é a injeção de toxina botulínica (botox) para relaxar a musculatura. Segundo Ramon, ainda existem medicamentos que provocam esse relaxamento. A terapia é importante, inclusive, para trabalhar a relação da paciente com a própria genitália. “O índice de resolução do problema varia entre 90% a 95% e acontece no período de três a seis meses”, diz o médico. Ramon Luiz Braga salienta que as mulheres que ficam focadas no ginecologista não encontram tratamento correto.
O que mostram os avanços sobre o conhecimento do vaginismo é que ele requer abordagem multidisciplinar. “Os profissionais que se dedicam ao tratamento desse assunto devem entender o sofrimento por que passam as pacientes”, afirma Ramon. Segundo ele, novos tratamentos estão em progresso e os estudos na área da fisioterapia têm sido muito importantes para impedir que o vaginismo impeça a vida sexual e o bem-estar de muitos casais.