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O primeiro contato da Nigéria com o ebola ocorreu em 20 de julho, quando o diplomata liberiano Patrick Sawyer desembarcou no aeroporto internacional de Lagos, maior cidade nigeriana, apresentando os sintomas da doença. Os funcionários do local não estavam preparados para a situação, e não havia sido criadas unidades de isolamento em hospitais, o que fez com o que primeiro paciente, que morreu da doença na Libéria, infectasse 19 pessoas. O governo conseguiu localizar e isolar as 300 pessoas que tiveram contato direto ou indireto com o diplomata, evitando uma propagação maior do vírus.
“A Nigéria não estava realmente preparada para o surto, mas a resposta rápida do governo federal, dos governos estaduais e das organizações internacionais foi essencial”, disse, à agência Reuters, Samuel Matoka, gerente de Operações do Ebola na Nigéria para a Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho. Rui Gama Vaz ressalta que o êxito mostra que a doença pode ser contida, mas ainda há muito a ser feito em todo o continente. “É preciso ficar claro que só ganhamos uma batalha, a guerra só vai acabar quando toda a África Ocidental for declarada livre do ebola”.
O trabalho de investigação feito na Nigéria foi equivalente ao do Senegal, país declarado livre da doença na última sexta-feira. As autoridades rastrearam e isolaram 74 contatos próximos ao jovem que chegou da Guiné com os sintomas do ebola. Mesmo após a cura dele, em 5 de setembro, as autoridades mantiveram ativo o alerta para novos casos com o objetivo de detectar infecções não reportadas.
Havana
A declaração sobre o fim do ebola na Nigéria coincidiu com anúncios de medidas para a contenção do vírus além da África. Presidentes e ministros de 12 países da América Latina e do Caribe reuniram-se em Havana, em um encontro extraordinário da Aliança Bolivariana para os Povos da América (Alba), e se comprometeram a reforçar a segurança nas fronteiras e a elaborar um “plano de ação” contra o ebola na região. Entre os 23 pontos aprovados pelos dirigentes, está o compromisso de elaboração, até 5 de novembro, de um plano de ação redigido pelos ministérios de Saúde. Em 29 e 30 deste mês, também em Cuba, técnicos dos países participarão de um encontro para trocar experiências e propostas de estratégias.
Participaram do encontro de ontem representantes de Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Cuba, Antigua e Barbuda, Dominica, Santa Luzia, San Vicente e Granadinas, Haiti, Granada e São Cristóvão e Nevis. O presidente cubano, Raúl Castro, aproveitou a cúpula para anunciar o envio de mais médicos a Libéria e Guiné. Eles se somarão aos 165 profissionais que viajaram para Serra Leoa no último dia 1º.
Reunidos em Luxemburgo, ministros das Relações Exteriores da União Europeia (UE) divulgaram um comunicado em que ressaltam a importância de “unidade, coordenação e um esforço maior para conter a epidemia”, evitando que ela se converta em uma ameaça global. Ainda nesta semana, chefes de Estado discutirão em Bruxelas como prevenir a propagação do vírus em solo europeu. Os ministros devem concordar com um sistema de repatriação conjunta, independentemente da nacionalidade do agente humanitário infectado.
Morre terceiro funcionário da ONU
A Organização das Nações Unidas (ONU) confirmou ontem a morte do terceiro funcionário em decorrência do ebola. De acordo com um comunicado da ONU Mulher, desde 2005, Edmond Bangura-Sesay trabalhou para a agência e faleceu no sábado, em Serra Leoa, pouco depois de ter feito um exame que deu positivo para a doença. Stephane Dujarric ficou de quarentena após a mulher dele adoecer, em 14 de outubro. Ela permanece internada. Um sudanês que trabalhou como funcionário sanitário da ONU na Libéria morreu na Alemanha na semana passada, e um liberiano, em setembro.
Terapias funcionam na Europa
Espanha e Noruega comemoram os bons resultados no tratamento de duas profissionais de saúde infectadas pelo ebola. Ontem, o Hospital Universitário de Oslo divulgou que a médica Silje Lehne Michalsen está curada depois de ter sido assistida, desde o último 7, em uma ala isolada. Integrante do Médicos sem Fronteiras (MSF), a paciente foi repatriada de Serra Leoa, onde foi contaminada pelo vírus. “Hoje, estou bem de saúde e já não sou capaz de transmitir a doença”, disse, em entrevista coletiva.
O hospital não deu detalhes sobre o tratamento recebido por Silje, mas a médica ressaltou as diferenças se comparado à realidade dos países mais atingidos pela epidemia. “Ter ebola na África Ocidental é mais do que ter sintomas. Eles estão perdendo irmãs, pais e vizinhos (…) são mantidos em barracas quentes, lotadas, com camas duras e cadáveres nas camas vizinhas”, detalhou.
O porta-voz da MSF na Noruega, Jonas Haagensen, comemorou o resultado do tratamento de Silje. “Estamos muito contentes de nos inteirarmos de que nossa colega está curada.” Desde o início da epidemia, em dezembro passado, a organização de ajuda internacional teve 18 profissionais de saúde infectados pelo ebola, sendo que 10 morreram. Dois dos contaminados trabalham como agentes internacionais. Os outros 16 são de Guiné, Libéria e Serra Leoa, os três países mais afetados pelo vírus.
Sem carga viral
Primeira pessoa infectada pelo ebola fora da África, a auxiliar de enfermagem espanhola Teresa Romero foi submetida a um exame de sangue que deu negativo para a presença do vírus. Um novo teste será feito para que a paciente possa ser considerada curada. Segundo Teresa Mesa, porta-voz da família, os médicos do Hospital Carlos III, em Madri, onde Romero está internada, estão otimistas e confiantes de que também não haverá detecção de carga viral na próxima sondagem.
Romero recebeu dois tratamentos experimentais simultaneamente: um antiviral e o plasma de um pessoa que sobreviveu à doença. Mesmo se confirmada a cura, não há previsão de alta. De acordo com Teresa Mesa, os pulmões da auxiliar de enfermagem estão muito afetados e ela voltou a se alimentar pela boca há três dias. A expectativa é de que fique internada por pelo menos mais três semanas.
A auxiliar de enfermagem que trabalha no hospital em que está sendo tratada apresentou os primeiros sintomas do ebola em 29 de setembro, após tratar dois missionários que haviam sido repatriados da África. Ambos morreram. Quinze pessoas, incluindo o marido de Romero, continuam em observação no Carlos III, mas não apresentaram sintomas da doença.