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Segundo a médica, esse tipo de parto não depende só do conhecimento científico. “Se dependesse só disso, faz tempo que nós ter íamos reduzido esse tipo de cirurgia, que continua aumentando de 1% a 2% ao ano, no Brasil”, disse. Por isso, reiterou que a informação fornecida por estudos e pesquisas é importante, mas sozinha, ela não gera uma mudança de atitude entre os profissionais e as mulheres.

A cesariana envolve a questão da conveniência e do planejamento. “No parto normal, ele [bebê] chega de repente”. Disse que essa multicausalidade, que embute o processo histórico, mais a conveniência e o planejamento, leva muitas mulheres a quererem adotar o mesmo padrão de vida de personalidades famosas como a ex-jogadora de basquete Hortência, que agendou a cesárea dos filhos de acordo com o mapa astral, ou o cantor Caetano Veloso, que marcou a intervenção da então mulher Paula Lavigne, para que o nascimento do filho coincidisse com o do maestro e compositor Antonio Carlos Jobim, no dia 25 de janeiro. “Se eles podem, por que eu não posso? Pensam algumas mulheres. Eles são modelos de comportamento social, são formadores de opinião”, disse.
Segundo Daphne Rattner, vai ser preciso um esforço grande para levar o conhecimento científico às mulheres para que possam fazer escolhas bem formadas. Apesar de a informação ser importante, ressaltou que sem a tomada de consciência das mulheres e a oferta de partos humanizados que respeitem a fisiologia, em que a mulher possa participar das decisões, “vai ser muito difícil mudar”.
Um fato mais sério, apontou a presidenta da ReHuNa, é que nas faculdades de medicina, os estudantes não aprendem como funciona o parto normal. “Só intervenções. Eles se sentem inseguros de assistir a partos normais. Então, além das mulheres, nós temos que mudar radicalmente o jeito como a obstetrícia é ensinada nas faculdades de medicina e de enfermagem”. Nesse caso, ressaltou o papel que o Ministério da Educação tem que assumir e promover uma mudança nos currículos, de modo a ensinar o que é parto normal. Observou que o Ministério da Saúde vem fazendo um grande esforço com a Rede Cegonha, política pública que favorece o parto normal. Mas criticou o fato de, na saúde suplementar, a taxa de intervenções cesáreas beirar 85%, enquanto a Organização Mundial da Saúde recomenda 10% a 15% de cesarianas. “É um absurdo”.
Ela celebrou, porém, o fato de cada vez mais as mulheres estarem mais conscientes de que a cesárea tira delas uma experiência “única e gratificante”, que é o parto normal. Recordou que na semana passada, sete mulheres em Uberlândia, Minas Gerais, se mobilizaram e conseguiram obter do promotor público a garantia de terem um parto vaginal humanizado, em hospitais da cidade. Ela disse ainda, que as mulheres, para fugir de intervenções cesáreas, que podem pagar, estão buscando o parto domiciliar ou o Sistema Único de Saúde (SUS), “porque sabem que na rede privada, não vão conseguir [fazer o parto normal]”.