
saiba mais
-
Portadores do mal de Parkinson em São Paulo contam com transplante que minimiza sintomas da doença
-
Problemas no sono podem ser um alerta para o Alzheimer e o Parkinson
-
Nem todo tremor é sinal de Parkinson. E a doença não é sinônimo de fim da vida
-
Pesquisa brasileira renova esperanças contra o Parkinson
-
Cientistas identificaram molécula que desencadeia Parkinson
-
Mais do que personalizar a casa, trabalho manual é terapêutico
-
Fisioterapia e terapia ocupacional não ajudam pacientes com Parkinson
-
Tratamento contra leucemia tem eficácia contra Parkinson
-
Pacientes com Parkinson podem melhorar problemas de fala com ajuda de fonoaudiólogo
-
Drogas já existentes têm potencial para combater doenças neurodegenerativas como o Parkinson
-
Tango pode ser aliado no tratamento do mal de Parkinson
-
Teste de pele detecta Parkinson e Alzheimer
-
Ação combinada de proteínas gera neurônios e pode ser esperança para pacientes com Alzheimer e Parkinson

“Em minha pesquisa atual, realizamos o primeiro estudo abrangente para medir esse pensamento criativo. Essa não era uma tarefa simples. Como se faz uma medida ou se quantifica a criatividade? Nós mesmos tivemos de pensar criativamente (para resolver isso)”, diz Inzelberg. Os pesquisadores realizaram uma bateria completa de testes em 27 voluntários com a doença degenerativa e tratados por meio de medicamentos e 27 pessoas saudáveis. Todos os participantes tinham idade e nível educacional semelhantes. Os testes incluíram o exame de fluência verbal, em que uma pessoa é convidada a falar palavras diferentes que começam com uma determinada letra ou de uma determinada categoria (frutas, por exemplo).
Os voluntários foram, então, convidados a se submeter a um teste mais desafiador de associação remota, em que tinham que nomear uma quarta palavra (após três dadas) dentro de um contexto fixo. Se o exercício trazia as palavras maçã, banana e mamão, o participante deveria perceber que elas fazem parte do contexto frutas e nomear uma quarta, pêra, por exemplo. Os grupos também foram testados quanto à interpretação de imagens abstratas. O objetivo desse atividade era avaliar a imaginação inerente a respostas e perguntas como “o que você pode fazer com sandálias?”. Durante todas as provas, os participantes com Parkinson deram respostas mais originais e interpretações mais pensativas do que os voluntários saudáveis.

O militar aposentado Carlos Anibal pode ser considerado um dos melhores exemplos das conclusões a que os pesquisadores da instituição israelense chegaram. Ele é presidente da Associação de Parkinson de Brasília, cujos integrantes se reúnem todas as tardes de sábado na Escola Classe da 206 Sul e se dedicam a atividades artísticas como principal incentivo à realização de movimentos. O coral de música popular é uma delas.
A música como terapia para parkinsonianos também tem suporte científico. Duas vezes ao mês, um grupo diversificado de pessoas com a doença se reúnem no Northwestern Memorial’s Prentice Women's Hospital, em Illinois, nos Estados Unidos, e comprovam a teoria. “Nosso objetivo é encontrar novas abordagens para ajudar esses pacientes a tratar a doença”, explica Diane Breslow, coordenadora e assistente social do Centro de Terapia pela Arte do hospital. “Muitas vezes, com a doença de Parkinson, há um medo do futuro e do desconhecido. Queremos dar a esses pacientes uma melhor maneira de viver com a doença.”
Além dos benefícios psicológicos, Breslow observa melhoria da coordenação motora e do movimento funcional, consciência postural e enriquecimento da fala e da voz. “Na parte de música, os pacientes estão aprendendo o conceito de ritmo que os ajuda a melhorar a marcha e o movimento.”
Comum na terceira idade
A principal causa da doença de Parkinson é a morte das células do cérebro, principalmente na área chamada de substância negra, que está ligada à produção da dopamina. Segundo o manual , a doença degenerativa e progressiva afeta um em cada 250 indivíduos com mais de 40 anos e um em cada 100 que tenham passado dos 65 anos. Em geral, começa de forma assintomática. Depois, em dois terços dos pacientes surgem os tremores rítmicos da mão, que desaparecem durante o sono. Outros sintomas associados ao início da doença são rigidez muscular, distúrbios da fala, dificuldade para engolir, depressão, distúrbios do sono, respiratórios e urinários. O tratamento pode ser medicamentoso, psicoterápico e até cirúrgico.
Influência de um neurotransmissor
A doença de Parkinson evolui envolvendo preferencialmente o sistema motor. Somente na fase tardia, a cognição passa a ser comprometida, podendo ocorrer, inclusive, a demência associada. Neurologista do Centro de Doença de Alzheimer e Parkinson do Rio de Janeiro (CDAP/RJ), Vanderson Carvalho Neri explica que o estudo israelense que relaciona o problema degenerativo e a criatividade não descreveu o tempo médio de sintomas dos participantes. Ele acredita que certamente foram incluídos pacientes na fase inicial ou intermediária da doença, até mesmo porque a existência de demência foi considerada como critério de exclusão. Portanto, diz o médico, a administração de dopamina nessa fase poderia, sim, ter impacto em várias funções cerebrais, inclusive nas descritas pelos autores, como criatividade verbal e visual.
Um fator que muitas vezes pode mascarar essa informação é a ingestão, durante o tratamento, de outros medicamentos que causem efeitos colaterais e que interfiram nessas funções. “Entretanto, trata-se de um estudo inédito, com importantes informações nos quesitos que se propõe avaliar e que nos desperta para a necessidade de estimular a criatividade desses pacientes também como um aspecto para melhorar a qualidade de vida deles”, avalia.
Neri ressalta que a terapia dopaminérgica, mais prescrita para pacientes com Parkinson, não inclui apenas a administração de levodopa, droga que, no cérebro, se converte em dopamina, mas também dos antagonistas ao neurotransmissor, isto é, as substâncias que favorecem a liberação da dopamina intraneuronal. O médico lembra que, com a evolução inexorável da doença, há uma degeneração neuronal, inclusive do córtex cerebral. Portanto, ele considera que os resultados estão relacionados ao tipo de tratamento utilizado e à fase de evolução da doença em que os pacientes foram estudados.
“A avaliação com testagens específicas para esses achados certamente confirma isso. Na prática clínica, esse fato não é tão fácil de ser observado, uma vez que, em nosso sistema de saúde, muitas vezes não é possível, ou viável, a aplicação de tantos questionários de avaliação cognitiva”, argumenta. Assim, essa diferença não se torna tão evidente, não é percebida ou relatada com frequência pelos cuidadores, mesmo em serviços com grande número de pacientes como o deles. O neurologista acredita que esse é um dado a mais sobre o universo do Parkinson e serve para elucidar outro aspecto da doença: a cognição, o que seria importante para o desenvolvimento de procedimentos de reabilitação, também cognitiva, além das técnicas motoras já existentes para estimular funções cerebrais. (BS)
Efeitos diversos
É um neurotransmissor reduzido no cérebro do parkinsoniano e reconhecidamente envolvido no processo motor. A dopamina participa de uma série de outras vias cerebrais, como as ligadas à memória, ao sistema de recompensa, à atenção, ao sono, ao humor e à aprendizagem. Trata-se, portanto, de um neurotransmissor muito variado, com muitas vias partindo do seu local de origem: a substância negra do cérebro. Se falta dopamina, a motrocidade automática de um indivíduo é interrompida. Essa pessoa, então, passa a ter dificuldade para realizar movimentos simultâneos, como andar e conversar ao mesmo tempo. O cérebro acaba se ocupando em cuidar de tarefas que deveriam ser automáticas e deixando de lado outras funções importantes. A dopamina é prescrita no tratamento de pacientes com Parkinson justamente para estimular o funcionamento de vias que estejam se tornando latentes pela falta dela.