Em vídeo, Cida conta como pegou Aids do marido
“Como médica especializada em Aids, um assunto que me preocupa há muito tempo é o desconhecimento da epidemia entre mulheres. O tratamento hoje é muito eficaz. O que propaga a epidemia é que as pessoas não sabem que são portadoras do vírus”, explica. Essa situação fica ainda mais complicada quando os envolvidos são do sexo feminino, já que as mulheres até hoje continuam enfrentando dificuldades de negociar o uso de preservativos com seus parceiros. Hoje já não existem apenas grupos de risco ou vulnerabilidade para a Aids, e sim uma população-chave, como no caso das mulheres heterossexuais com relacionamento estável. “Para um grupo de mulheres, pedir que o parceiro use camisinha é um problema, mesmo que ela desconfie que ele está sendo infiel. Quando faz isso, ela própria começa a ser acusada de infidelidade. Em muitos casos, apanha do marido e depende dele para se sustentar”, observa.
saiba mais
-
Aids surgiu no Congo nos anos 20, revela história genética do vírus
-
HIVBr18: conheça a vacina brasileira da Aids
-
Pesquisadores sugerem descriminalizar a prostituição para facilitar o controle da Aids
-
HIV: autoridades de saúde reclamam que preservativos são muito pequenos para os ugandenses
-
Droga anti-HIV também ataca vírus da hepatite
-
Caso raro de transmissão de HIV entre mulheres é divulgado nos EUA
-
Mudanças no corpo são um desafio no tratamento dos pacientes com HIV
-
Mulheres são mais vulneráveis ao HIV e sofrem mais preconceito
-
Pesquisadores da UFMG conseguem impedir passagem do vírus HIV de mães para bebês
-
HIV muda de forma para infectar células
Cida, a professora aposentada mostrada no início da matéria, é uma das sete soropositivas que participaram do documentário Positivas, produzido e dirigido por Suzanna Lira, que conta a história e a luta de sete mulheres que confiaram nos votos de fidelidade de seus parceiros e foram surpreendidas pelo vírus da Aids em suas vidas. “Quando soube que estava com Aids, tive muita raiva de mim. Fui irresponsável e ao mesmo tempo responsável pelo que aconteceu comigo porque permiti que meu parceiro deixasse de usar preservativo. No começo até que usávamos, mas o tempo passou e paramos. A gente acha que o amor imuniza e que não há necessidade de maiores cuidados e, se somos fiéis, para que usar preservativos? Mas isso é um erro”, sustenta. De acordo com a professora, pior do que receber a notícia da doença foi perder a visão e, com ela, sua independência. “Fiquei um ano chorando, com raiva da vida, de mim e de Deus. Mas depois percebi que doença não é castigo. Reagi e me transformei em ativista da luta contra a Aids”, conta.
Janela imunológica O infectologista Antônio Carlos Toledo Júnior explica que é justamente o fato de essas mulheres não fazerem parte do grupo de risco que as expõe à possibilidade de contaminação. “O risco é dos parceiros. Por isso, muitas vezes essas mulheres descobrem tardiamente o problema. Não procuram assistência por ignorar que podem estar contaminadas. Não raro, o diagnóstico é dado primeiro ao parceiro e só depois o exame é pedido à parceira”, explica. Apesar do maior número de casos de contaminação entre mulheres, ele acredita que o número de diagnósticos é maior hoje. “Estamos vivendo um momento difícil: a banalização da doença, decorrente dos avanços no tratamento.” Ainda segundo ele, os exames precisam ser feitos, mas não sem aconselhamento médico, já que há casos de falsos positivos e falsos negativos. “A pessoa pode estar no período de janela imunológica, que chega a seis meses. O importante é procurar um médico e se aconselhar para fazer o exame”, orienta.
Trabalho de peso
Há 26 anos, a epidemiologista Irene Adams fundou em Belo Horizonte a Ação Multiprofissional com Meninos em Risco, mais conhecida como Clínica Ammor, para a prevenção, detecção precoce e acompanhamento da infecção do vírus HIV/Aids entre meninos e meninas em risco social. A ideia nasceu de um projeto de pesquisa com o objetivo de determinar os fatores de risco como base para um trabalho de prevenção da Aids e de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) entre crianças e jovens moradores de rua. Trabalhando como uma clínica ambulatorial, a Ammor é hoje referência entre a população em risco social e baseia seu atendimento em três atividades: atendimento médico (enfermagem, pronto atendimento, check up, planejamento familiar, ginecologia, psicologia clínica, nutrição), intervenções educativas entre os jovens e capacitação dos educadores.
Aids no Brasil
» Heterossexuais adultos são maioria nas novas notificações de infecção pelo vírus HIV.
» Em 2012, 67,5% dos casos informados pela rede de saúde pertenciam ao grupo de heterossexuais, sendo a maioria formada por mulheres, com 58,2%.
» A maior incidência de contaminação está na faixa de
30 a 49 anos, incluindo héteros e homossexuais.
» Desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2012, o Brasil tem 656.701 casos registrados.
» Entre 2001 e 2011, a incidência de Aids no Brasil foi de 20,2 casos por 100 mil habitantes.
» A Aids está mais presente na faixa etária de 25 a 49 anos de ambos os sexos e em jovens de 13 a 19 anos.
» Em 2002, a taxa de mortalidade era 6,3 por 100 mil habitantes, passando para 5,6 em 2011
» Os grupos vulneráveis, somados, responderam por um 1/3 nas notificações.
Fonte: Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde