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Os ovos dos mosquitos foram contaminados com a bactéria Wolbachia, encontrada em 60% dos insetos, como as drosófilas (pequenas moscas) e pernilongos. Essa bactéria atua como uma espécie de vacina para o Aedes aegypti - ela impede que o vírus da dengue se multiplique no organismo do mosquito, que deixa, assim, de transmitir a doença.
A Wolbachia também atua na reprodução dos insetos. Se o macho contaminado fertilizar ovos de fêmeas que não tenham a bactéria, esses ovos não darão origem às larvas. Se macho e fêmea estiverem contaminados, ou se só a fêmea tiver a bactéria, toda a prole carregará a Wolbachia. A bactéria é transmitida naturalmente para as gerações seguintes de mosquitos e o método se torna autossustentável: Aedes com Wolbachia acabam se tornando predominantes na natureza, sem que os pesquisadores precisem liberar insetos contaminados constantemente. Em localidades da Austrália, isso aconteceu em 10 semanas, em média.
A pesquisa com a Wolbachia começou na Universidade de Monash, na Austrália, em 2008. Inicialmente, os cientistas esperavam que a bactéria reduzisse o tempo de vida do Aedes, mas descobriram que ela também afeta a reprodução e bloqueia a multiplicação do vírus. "Estamos diante de uma estratégia científica inovadora e segura, que poderá contribuir para o controle da dengue e para a melhoria da saúde da população", afirmou o pesquisador da Fiocruz Luciano Moreira, líder do projeto no Brasil. Ele integrava a equipe de cientistas que fez as descobertas na Austrália.
A Wolbachia é uma bactéria intracelular, que só pode ser transmitida de mãe para filho, no processo de reprodução dos mosquitos. Além disso, é maior que o canal salivar do mosquito. Ou seja, não sai pela saliva, meio pelo qual o homem é contaminado. Para garantir que não infecta seres humanos e animais domésticos, durante cinco anos, integrantes da equipe, na Austrália, alimentaram uma colônia de mosquitos com Wolbachia, usando seus próprios braços.
O projeto Eliminar a Dengue: Desafio Brasil foi lançado no Rio de Janeiro, em 2012. Nesses dois anos, os pesquisadores capturaram Aedes aegypti nos locais que servirão de testes, estudaram essas regiões e criaram os mosquitos contaminados em laboratório. Depois de lançados em Tubiacanga, os cientistas poderão avaliar a capacidade dos mosquitos com a bactéria se estabelecerem no meio ambiente e se reproduzirem com os mosquitos locais.
Cerca de 10 mil insetos serão liberados semanalmente em Tubiacanga, por até quatro meses. Para reduzir o incômodo da população, a Secretaria Municipal de Saúde fez uma campanha para eliminar focos de criação do mosquito. Depois da Ilha do Governador, os bairros da Urca e Vila Valqueire, no Rio de Janeiro, e de Jurujuba, em Niterói, receberão os mosquitos. Estudos de larga escala para avaliar o efeito da estratégia estão previstos para ocorrer a partir de 2016.