Na forma inicial, o Alzheimer causa alterações na memória, na personalidade e em habilidades espaciais e visuais. A progressão pode ser rápida ou lenta, mas, em todos os casos, tem como estágio final uma resistência à execução de tarefas diárias, perda da razão e da habilidade de cuidar de si próprio, incontinência urinária e fecal e deficiência motora progressiva. Essas características altamente debilitantes são o que assustam cerca de 68% das pessoas entrevistadas em todo o globo pela Alzheimer's Disease International (ADI). A equipe de pesquisadores multidisciplinar divulgou hoje o Relatório Global do Alzheimer 2014 com essa e outras conclusões importantes. Em alguns países, nos últimos 20 anos, por exemplo, há uma redução da incidência de demência. O motivo, segundo o documento, é o melhor controle do diabetes, da hipertensão e a diminuição do tabagismo.
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Independentemente da idade e da carga genética, a demência causada pelo Alzheimer pode ser prevenida. A receita não foge ao tripé que sustenta uma vida saudável e longeva: não fumar, comer bem e se exercitar. Os pesquisadores resumiram as recomendações em uma máxima: “O que é bom para o coração é bom para o cérebro”. Isso porque a redução dos casos da doença percebida por eles tem como pano de fundo uma melhora na saúde cardiovascular em países de alta renda. “Existem evidências de vários estudos de que a incidência de demência pode estar caindo em países de alta renda vinculadas a melhorias na educação e na saúde cardiovascular. Precisamos fazer tudo o que pudermos para acentuar essas tendências”, afirma Martin.
Ao mesmo tempo, é previsto um maior aumento na prevalência do Alzheimer nas próximas décadas em nações de baixa e média renda, em que os fatores de risco identificados no relatório representam um problema crescente. As evidências mais fortes para possíveis associações causais com demência são baixa escolaridade na infância e adolescência, hipertensão na meia-idade e tabagismo e diabetes durante toda a vida. De acordo com o estudo, aqueles que tiveram melhores oportunidades educacionais têm um menor risco de demência quando envelhecem. A educação não teria impacto sobre as mudanças cerebrais que levam ao problema, mas reduziria o impacto no funcionamento intelectual.
Multifatorial
Coordenador do Núcleo de Excelência e Memória do Hospital Israelita Albert Einstein, Ivan Okamoto explica que o Alzheimer é multifatorial, pois tem fatores genéticos e ambientais. “Se pensarmos somente no genético, a doença não tem essa queda de incidência tão rápida. Vinte anos é pouco tempo para uma mudança de perda genética na população”, avalia. Por esse motivo, segundo ele, a queda nos casos pode ser atribuída ao melhor controle de fatores ambientais. “Isso comprova aquela coluna de medidas que todos os médicos falam: controle da pressão, do colesterol, não tabagismo, alimentação saudável e atividade física.”
Cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25% das com mais de 85 anos podem apresentar algum sintoma do Alzheimer, e são inúmeros os casos que evoluem para a demência. Feito o diagnóstico, o tempo médio de sobrevida varia de oito a 10 anos. A prevenção por meio de hábitos saudáveis, ainda que reconhecida pela ciência, não é de conhecimento da população.
Segundo o relatório global, pouco mais de um sexto (17%) dos entrevistados reconhece que a interação social com amigos e familiares pode ter impacto sobre o risco de desenvolver o Alzheimer. Apenas 25% identificam o excesso de peso como um possível fator e um a cada cinco (23%) vê a atividade física como algo que pode afetar o risco de ocorrência da doença.
A expectativa do grupo de pesquisadores é de que, como parte da campanha internacional de sensibilização em torno da doença — que chega ao ápice neste domingo, Dia Mundial do Alzheimer — novas medidas de conscientização e prevenção sejam adotadas. Eles propõem a integração de mensagens de promoção da saúde do cérebro em campanhas de saúde pública em geral, como as de combate ao tabaco e a doenças não transmissíveis. Essas ações devem ser direcionadas também para os adultos mais velhos, que raramente são alvo específico dos programas de prevenção.
“Não há evidências fortes o suficientes, neste momento, para afirmar que as mudanças de estilo de vida vai prevenir a demência de forma individual. No entanto, combinar os esforços para combater a carga global e a ameaça das doenças não transmissíveis é importante”, afirma o relatório. “Se todos nós podemos entrar na velhice com o cérebro mais saudável e desenvolvido, estamos propensos a viver vidas mais longas, felizes e independentes, com uma chance muito menor de desenvolver demência”, finaliza.
Aparelho vigia pacientes
Entre os 15 finalistas da Feira de Ciências do Google, está um aparelho que pode ajudar na segurança de pacientes com Alzheimer. O mecanismo foi desenvolvido pelo norte-americano Kenneth Shinozuka, de apenas 15 anos. Trata-se de um dispositivo que funciona como sensor de pressão. Ele fica preso no pé ou na meia do paciente, ligado a um chip RFID. Todas as vezes em que esses pés conectados chegam ao chão, o sensor é ativado e um aviso, enviado ao smartphone do cuidador. A ideia surgiu após Kenneth observar a atividade noturna do avô que sofre com a doença. À noite, ele levanta e perambula pela casa, hábito comum em mais da metade de pessoas com o problema. O avô, inclusive, foi a “cobaia” do experimento durante seis meses e comprovou a funcionalidade do equipamento.
Sem remédio milagroso
“Nossos dados mostram que a prevalência do Alzheimer dobra a cada cinco anos e que a incidência aumenta muito com a idade. Agora, estamos falando do que é possível interferir para diminuir esse aumento. Alguns trabalhos indicam que, se juntarmos atividade física, dieta e o treino cognitivo, que é manter a mente funcionando, diminuímos a ocorrência, e, se ela acontecer, se dá de forma mais branda. Há casos em que existe o fator genético, imodificável, mas existe uma predisposição capaz de alterar essa possibilidade. Não tem remédio milagroso, temos atos de controle saudáveis que podem diminuir essas chances.”
Norberto Anízio Ferreira Frota, vice-coordenador do Departamento Científico de Neurologia Cognitiva e do Envelhecimento da Academia Brasileira de Neurologia