Publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders, o estudo aplicou uma terapia chamada Infant start (Início na infância) em sete crianças diagnosticadas com o transtorno. De acordo com os pesquisadores, o programa é baseado em uma abordagem chamada Early Start Denver Model (Modelo de Denver de Início Precoce) e busca alterar seis comportamentos que podem ser observados nos primeiros meses de vida: fixação visual em objetos, repetição anormal de movimentos, falta de atos de comunicação intencionais, ausência de interesse na interação social, desenvolvimento fonético abaixo do esperado e baixa resposta a interações afetuosas, pelo olhar e pela voz.
Para colocar a estratégia em prática, os médicos contaram com a participação de importantes aliados: os pais dos pacientes, que foram os verdadeiros terapeutas dos bebês, que tinham entre 6 e 15 meses quando começaram a ser tratados. “A mãe e o pai estão ao lado dos bebês todos os dias, e é nos pequenos momentos, como a troca de fraldas, a hora de comer, os passeios e as brincadeiras, que eles influenciam na aprendizagem das crianças”, justifica Sally Rogers, uma das autoras do artigo.
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Interação
Segundo Helena Brentani, coordenadora do Programa de Transtornos do Espectro Autista do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), existem diversos estudos que seguem uma linha similar à pesquisa de Rogers e colegas, procurando identificar e diminuir os sintomas por meio da intervenção precoce. “Hoje, sabemos que terapias baseadas na análise do comportamento são consideradas as melhores. Existe uma ciência por trás disso, mas ainda não sabemos como, quando e o que exatamente fazer”, explica.
A análise do comportamento à qual a especialista brasileira se refere é uma corrente da psicologia que aponta para a importância da interação do indivíduo com o meio na definição de como ele age. Ao entrar em contato com os mais variados estímulos, a pessoa sofre consequências que podem aumentar ou diminuir a chance de ela se comportar de determinada forma.
O método testado pela Universidade da Califórnia busca ensinar os pais a interagirem com os bebês de forma a estimulá-los a mudar de comportamento, reduzindo os sintomas que podem indicar o transtorno. Na primeira fase, os pesquisadores realizaram 12 sessões de uma hora cada com os responsáveis e as crianças, nas quais os adultos receberam o conhecimento necessário para agir no dia a dia com os filhos.
O primeiro encontro desse tipo foi dedicado a definir os objetivos de aprendizagem de cada criança e as ferramentas com as quais os pais poderiam trabalhar. Na sessões seguintes, os pais foram orientados em relação às técnicas que poderiam usar de acordo com a necessidade de cada paciente. Por exemplo, se a criança mantinha pouco contato visual ou se mostrava alheia à presença de outras pessoas, o adulto podia imitar os sons do pequeno, de forma a chamar a sua atenção e iniciar um processo de aproximação. No entanto, as famílias foram orientadas de formas distintas, pois o tratamento devia se adequar a cada caso.
Depois que os pais estavam realizando o trabalho em casa, os especialistas forneceram novas orientações para as dificuldades de cada criança. O estudo mediu as respostas tanto das crianças quanto dos pais ao tratamento. Após a primeira fase da terapia, as famílias receberam visitas quinzenais, e foram feitas avaliações regularmente.
Com os dados coletados, Rogers e sua equipe puderam observar que as crianças tiveram uma redução dos sintomas quando estavam com 18 a 36 meses de idade, comparados a um grupo de crianças também sintomáticas que não receberam o mesmo tratamento. Segundo a pesquisadora, no geral, as crianças que participaram da intervenção tiveram menos prejuízos de linguagem e de desenvolvimento do que as do grupo de controle.
Sem milagre
Para Francisco Assumpção, coordenador do Departamento de Psiquiatria da Infância e da Adolescência da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), apesar de os resultados apontarem para a diminuição e até a eliminação dos sintomas do autismo, existem outros fatores que devem ser analisados. “A redução dos sintomas é uma forma de avaliação. Temos que observar o nível de funcionalidade, de independência e de autonomia, fatores que a pesquisa não analisou”, explica.
Um dos grandes pontos do estudo, segundo o coordenador, é que, em nenhum momento, é proposta uma solução milagrosa. “Esse transtorno envolve aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Não existem formas mágicas de resolver todos esses problemas de uma vez só”, comenta. “Temos que pensar em soluções eficazes, factíveis e passíveis de serem realizadas dentro do nosso ambiente”, conclui. Assumpção reforça, também, que o método apresentado pelos americanos aponta um caminho a ser testado sob todos os pontos de vista para que, em algum tempo, seja possível dizer se vale a pena ou não ser utilizado.
De acordo com a psiquiatra Helena Brentani, da USP, os pais, se observarem possíveis sinais do transtorno em seus filhos devem procurar um serviço capacitado para avaliação. A especialista reforça que a presença de sinais como os trabalhados pelos pesquisadores não significa que a criança sofre com o transtorno. “Podemos observar sinais que nos chamam a atenção em crianças de 6 meses, como não se interessarem por pessoas próximas, não olharem para os olhos, não abrirem os braços para a mãe, ficarem muito interessadas em certos objetos e movimentos, e outros casos. Mas isso não quer dizer que a criança é autista”, exemplifica.