A equipe liderada por Martin Prince, do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociências da King’s College of London, examinou criticamente evidências para a existência de fatores de risco modificáveis para a demência. “Nós nos concentramos em quatro domínios fundamentais: desenvolvimentos psicológico e psicossocial, estilo de vida e fatores de risco cardiovascular”, enumera. Eles garantem, com base em dados científicos, que, mesmo com o envelhecimento da população, a incidência do problema pode ser modificada com a redução do uso do tabaco e um melhor controle e detecção da hipertensão e do diabetes. A última doença, de acordo com as conclusões do grupo, pode aumentar o risco de males neurodegenerativos em 50%.
Independentemente da idade e da carga genética, a demência causada pelo Alzheimer pode ser prevenida. A receita não foge ao tripé que sustenta uma vida saudável e longeva: não fumar, comer bem e se exercitar. Os pesquisadores resumiram as recomendações em uma máxima: “O que é bom para o coração é bom para o cérebro”. Isso porque a redução dos casos da doença percebida por eles tem como pano de fundo uma melhora na saúde cardiovascular em países de alta renda. “Existem evidências de vários estudos de que a incidência de demência pode estar caindo em países de alta renda, vinculada a melhorias na educação e na saúde cardiovascular. Precisamos fazer tudo o que pudermos para acentuar essas tendências”, afirma Martin. Os pesquisadores lançaram os resultados na semana que antecede o Dia Mundial do Alzheimer, no próximo domingo, como forma de manter a mobilização e atenção em torno do tema.
Simpósio
Em Belo Horizonte, amanhã e depois, ocorre o II Simpósio de Manejo da Depressão e Demência no Idoso: Desafios da Prática Clínica, na Faculdade de Medicina da UFMG. O programa é organizado pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Medicina Molecular (INCT-MM), o Núcleo de Geriatria e Gerontologia (NUGG), ambos da UFMG, e pelo Laboratório de Investigação em Neurociências Clínicas (Linc). Para o professor adjunto de saúde mental da Faculdade de Medicina da UFMG, Breno Satler Diniz, antes de qualquer tratamento, o mais importante é se fazer diagnósticos adequados dos quadros por meio de avaliações médicas (com psiquiatra, geriatra, neurologista etc.) e de exames neuropsicológicos feitos por psicólogos especializados nessa área, além de exames complementares, como a ressonância do cérebro.
“A partir do diagnóstico, há várias estratégias de tratamento. Nos pacientes com quadros demenciais, podemos usar medicamentos – como a rivastigmina, a donepezila e a galantamina – associados ou não a treinamento de memória e reabilitação cognitiva. Já em idosos com depressão, o ideal é usar antidepressivos com a terapia”, revela.
No Alzheimer, os principais exames nos estágios iniciais da doença são ressonância do cérebro e outros exames de imagem, como a tomografia por emissão de protons (PET) e a visualização in vivo da proteína beta-amiloide cerebral, com a avaliação da concentração da proteína beta-amilóide e a proteína Tau no liquor. “Apesar de aumentar a confiabilidade do diagnóstico, esses exames são complementares às avaliações médica e neuropsicológica. Além disso, eles não estão amplamente disponíveis em todos os lugares para a população”, revela o médico.
Os chamados tratamentos alternativos, como dança, aulas especiais, atividades físicas e maior atenção aos hobbies, em geral, são, segundo Breno Satler, intervenções muito importantes, pois podem melhorar o comportamento dos pacientes e, consequentemente, sua qualidade de vida. “No entanto, elas não devem substituir as medicações ou intervenções mais estruturadas, como psicoterapia ou a terapia ocupacional”, diz.
Diversas pesquisas vêm sendo conduzidas sobre essas doenças. O Instituto Jenny Andrade de Farias, do Hospital das Clínicas da UFMG, em conjunto com o Serviço de Geriatria e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Medicina Molecular busca desenvolver novas técnicas para diagnóstico mais preciso da depressão e da doença de Alzheimer em idosos. “Além disso, pesquisamos o desenvolvimento de novas estratégias de tratamento para tais quadros, como a reabilitação cognitiva, neuromodulação e uso de medicamentos específicos”, completa Satler.
Principais conclusões do estudo da ADI
» O diabetes pode aumentar o risco de demência em 50%
» A obesidade e a falta de atividade física são fatores de risco importantes para o diabetes e hipertensão. Portanto, devem também ser alvo de cuidados especiais
» Parar de fumar reduz o risco de demência. Estudos de incidência de demência entre pessoas com 65 anos ou mais mostram que os ex-fumantes têm um risco semelhante aos que nunca fumaram, enquanto aqueles que continuam a fumar correm risco muito maior.
» Aqueles que tiveram melhores oportunidades educacionais apresentam menor risco de demência no fim da vida. Evidências sugerem que a educação não tem impacto sobre as mudanças cerebrais que levam à demência, mas reduz o seu impacto no funcionamento intelectual.
» Pouco mais de um sexto (17%) das pessoas pesquisadas entendem que a interação social com amigos e familiares pode ter impacto sobre
o risco.
» Apenas um quarto delas (25%) identificaram o excesso de peso como um possível fator.
» Somente um em cada cinco (23%) dos pesquisados disse que a atividade física pode afetar o risco de desenvolver demência e perda de memória.
» Mais de dois terços (68%) das pessoas entrevistadas em todo o mundo estão preocupadas com a obtenção de demência no futuro.
Fonte: Alzheimer's Disease International (ADI)
» O diabetes pode aumentar o risco de demência em 50%
» A obesidade e a falta de atividade física são fatores de risco importantes para o diabetes e hipertensão. Portanto, devem também ser alvo de cuidados especiais
» Parar de fumar reduz o risco de demência. Estudos de incidência de demência entre pessoas com 65 anos ou mais mostram que os ex-fumantes têm um risco semelhante aos que nunca fumaram, enquanto aqueles que continuam a fumar correm risco muito maior.
» Aqueles que tiveram melhores oportunidades educacionais apresentam menor risco de demência no fim da vida. Evidências sugerem que a educação não tem impacto sobre as mudanças cerebrais que levam à demência, mas reduz o seu impacto no funcionamento intelectual.
» Pouco mais de um sexto (17%) das pessoas pesquisadas entendem que a interação social com amigos e familiares pode ter impacto sobre
o risco.
» Apenas um quarto delas (25%) identificaram o excesso de peso como um possível fator.
» Somente um em cada cinco (23%) dos pesquisados disse que a atividade física pode afetar o risco de desenvolver demência e perda de memória.
» Mais de dois terços (68%) das pessoas entrevistadas em todo o mundo estão preocupadas com a obtenção de demência no futuro.
Fonte: Alzheimer's Disease International (ADI)
Uma grande interrogação
A depressão é o principal transtorno psiquiátrico em idosos, com uma prevalência de 10%. Dados da Previdência Social revelam que é a principal causa de aposentadorias precoces, a primeira relacionada à área da psiquiatria e a segunda causa geral, perdendo apenas para as lombalgias crônicas. “Apesar disso, os transtornos mentais são considerados menos graves que as doenças cardiovasculares e diabetes, mesmo sabendo-se que grande maioria desse pacientes chegam a passar mais de 30 anos sem trabalhar”, diz o professor Erico Castro-Costa, pesquisador associado do Centro de Pesquisa Rene Rachou da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que estará no evento em Belo Horizonte, abordando a prevalência e o impacto da depressão e da demência na sociedade.
“O paciente deprimido está verdadeiramente doente, mas a sua falta de interesse pela vida costuma ser vista, infelizmente, pelos seus familiares como um distúrbio de caráter, como falta de força de vontade ou simplesmente preguiça. O psiquiatra nunca é o primeiro médico que a família procura. Geralmente, os pacientes passam antes pelos clínicos, cardiologistas ou neurologistas, deixando a psiquiatria como última opção, muitas vezes pela falta de conhecimento, fuga e a dificuldade de assumir o quadro”, aponta o médico.
Em países desenvolvidos, como o Reino Unido, a França, a Noruega e os Estados Unidos, as demências são prioridade de saúde pública, sendo desenvolvidos planos específicos e estratégias de cuidados. Segundo Castro-Costa, o envelhecimento populacional tem causado um grande impacto na epidemiologia das demências, principal causa de incapacidade e de dependências dos idosos. “A população idosa apresenta maiores taxas de crescimento na China, Índia e países latino-americanos. Mas o Brasil já é a sexta maior população idosa do mundo, com 16 milhões de pessoas.”
Serviço
Os interessados em participar do II Simpósio de Manejo da Depressão e Demência no Idoso: Desafios da Prática Clínica podem se inscrever no site da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) acessando o link https://www.cursoseeventos.ufmg.br/CAE/DetalharCae.aspx?CAE=6286