Qual é o segredo de pessoas como Denise e André? O que é preciso fazer para construir uma relação duradoura e prazerosa? Receita infalível, garantem os especialistas que se dedicam ao tema, não há. Mas uma recente análise feita por pesquisadores das Universidades de Denver e da Virgínia, nos Estados Unidos, aponta dois fatores curiosos que parecem colaborar para casamentos longevos: quanto mais pessoas presentes à cerimônia e quanto menos parceiros os noivos tiveram antes do casório, maiores as chances de serem felizes na vida a dois.
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A psicóloga Galena K. Rhoades, uma das autoras do levantamento, começa sua análise pela questão dos relacionamentos prévios. Segundo ela, é possível supor que uma pessoa com muita experiência tem mais consciência das alternativas que possui e tende a comparar o atual parceiro com os antigos em diversas áreas, como a forma de lidar com conflitos, a habilidade para se comunicar e a afinidade sexual, entre outras. “Na maior parte das vezes, quanto mais experiência, melhor. Você se torna um candidato a emprego mais forte, por exemplo. Contudo, quando se trata de relacionamentos, nós descobrimos que ter experiência antes de se casar está associado a uma qualidade mais baixa da união”, afirma Rhoades em um comunicado à imprensa.
Rede de apoio
Coincidência ou não, o achado dos cientistas americanos combina com a história de Denise e André. Ambos tiveram poucos namoros antes de se conhecerem. “Eu tive três namoros, que duraram dois meses cada. Então, nem conto. Namorada mesmo, só ela!”, conta o servidor público. O número de pessoas chamadas à cerimônia também vai ao encontro do estudo. Depois de namorarem um ano e quatro meses, o casal reuniu 200 convidados para presenciarem a oficialização da união. No levantamento da doutora Rhoades, os casais mais satisfeitos eram os que tiveram 150 ou mais pessoas na festa de casamento.
Aqui, a questão não é o quanto se gasta na festa, mas a rede de apoio que cerca o jovem casal. A hipótese levantada pelos pesquisadores é que o número de convidados pode ser um sinal de que os noivos terão mais amigos e familiares disponíveis na hora que os desafios comuns de um casamento surgirem. A especialista em terapia de casal Josiana Mota, que não participou do estudo, lembra que a convivência com outras pessoas é importante para o desenvolvimento e a rotina do casal. “É importante estar atento para não cair no excesso, ou seja, privilegiar apenas os amigos ou a família em detrimento do parceiro, nem na falta, vivendo somente em função do parceiro e fechando-se para o restante do mundo”, aconselha.
Denise e André sabem bem da importância de receber apoio nas horas mais difíceis. Quando ainda namoravam, ele recebeu uma proposta de emprego em Brasília, e o casal mudou-se para a capital. Os dois moraram os quatro primeiros meses com a mãe de André, enquanto acertavam os detalhes do casamento. “Como sou filha única, meus pais me fizeram muita falta. Teria sido muito mais difícil se eu não estivesse com minha sogra. Ela me tratou como uma filha”, recorda ela. Denise diz que os almoços de domingo na casa da sogra também foram importantes para que o casal, muito caseiro, não acabasse isolado na nova cidade.
Segundo o psicólogo Vitor Paese, uma rede de pessoas para descarregar as energias é algo muito positivo, mas deve-se sempre estar atento para interferências negativas. “Um casal pode estar junto e feliz, em sintonia. De repente, chega um familiar que não entende a condição em que eles vivem e fala demais, sem perceber. Mesmo que seja por amor, isso pode gerar conflitos e até destruir uma união”, alerta.
Do próprio jeito
O conselho do psicólogo é um lembrete de que, apesar do que apontam alguns estudos, cada casal deve buscar a melhor forma de construir o relacionamento. Paula Galvão, 46 anos, e Carlos Malheiros, 49, sempre se preocuparam em não dar abertura a comentários alheios e tomaram as decisões que pareciam as mais acertadas para eles. Juntos há 22 anos, eles resolveram se casar somente no ano passado, atendendo o pedido dos filhos, Gustavo, 14 anos, e Gabriela, 19. Para a ocasião, chamaram 120 amigos e familiares mais próximos. A especialista em atendimento sistêmico à família Ana Luiza Mendonça concorda com a atitude: “Gosto de pensar que a influência (de outras pessoas) é o que permitimos que ela seja. Somos nós que delimitamos, selecionamos, refletimos e agimos acerca do que está ao nosso redor.”
Paula conta que o evento envolveu tanto os quatro membros da família que todos o chamavam de “nosso casamento”. “Após a cerimônia religiosa na Catedral, seguimos para a festa, na nossa casa. Eu e o Carlos pedimos que fosse posta uma mesa no nosso quarto para jantarmos antes da comemoração. Quando nos sentamos, chegaram a Gabriela e o Gustavo e perguntaram: ‘Cadê nossos lugares?’”, lembra, rindo. “Claro que nos divertimos com a situação! Mandamos prepararem mais dois lugares e jantamos felizes, todos juntos.” Ela acrescenta não quis daminhas, pois tudo deveria ser significativo. No lugar delas, foram os filhos que fizeram as honras. “Foi tão lindo e divertido que depois pensamos: ‘Por que não nos casamos antes?’”, emenda. “Foi muito especial.”
A especialista em terapia familiar Josiana Mota fala que o ritual do casamento antes de morar junto só é relevante caso seja uma idealização do casal ou de um dos parceiros. De acordo com a psicóloga, alguns casais o fazem para acalmar a pressão da família ou por uma questão religiosa: “Mas, para alguns, o casamento pode trazer a sensação de segurança; para outros, pode ser sinônimo de aprisionamento”.
No começo
A estudante Greice Elen Garcia, 20 anos, e o militar da Aeronáutica Sérgio Tanaka, 24, têm apenas oito meses de casados e esperam construir uma longa e feliz relação. Se o estudo das universidades de Denver e da Virgínia fosse uma garantia de sucesso, os dois não teriam nada a temer. O sim foi dado em frente a 200 convidados, e o histórico de relacionamentos anteriores de ambos é bem discreto: Sérgio só se envolveu com uma pessoa antes de Greice, de quem foi o primeiro namorado.
Os dois, no entanto, não tomam os resultados da pesquisa americana como garantia de nada e levam a sério a construção da vida em parceria. O casamento foi planejado durante um ano, e os dois tiveram seis anos para namorar e se conhecerem melhor. E os planos continuam. “A gente pensa em ter filhos, mas agora não dá, porque queremos ser pais presentes. E eu ainda estudo, e ele viaja bastante por causa do trabalho”, afirma Greice.
Por enquanto, eles aproveitam para sair com outros casais, curtem a casa e viajam bastante com as famílias. “Saímos com nossos pais todos os fins de semana, alternando um para a parte dele e um para a minha. Todos se dão bem! Vamos viajar os seis para a Disney no fim do ano. Estamos bastante animados!”, conta a jovem.
Dicas de especialistas
Para ajudar casais a refletirem sobre os relacionamentos, especialistas listam o que costuma fazer bem e mal a um casamento
Bom
- Comprometimento de ambos em trabalhar pela relação
- Comunicação efetiva e clara
- Compartilhamento de valores
- Dedicação tanto a projetos comuns quanto a individuais
- Respeito e admiração mútuos
- Habilidade de comprometer-se, confortar e encorajar
- Aceitação das diferenças e respeito ao espaço e à privacidade do outro
- “Eu te amo”, “por favor”, “obrigado”, “bom dia” e “boa noite”
- Possibilidade de sair com os amigos
- Valorização do que há de positivo no parceiro
Ruim
- Baixa autoestima
- Excesso de carência
- Confusão entre intimidade e falta de respeito
- Expectativas em demasia
- Interferência familiar na relação
- Prioridade aos amigos e não ao parceiro
- Relação de posse sobre o outro
- Uso dos filhos como escudo
- Falta de diálogo
Fontes: psicólogos Vitor Paese, Ana Luiza Mendonça e Josiana Mota