Apesar de a informação de que sexo não faz mal ao bebê estar chegando cada vez mais às mulheres brasileiras já que o acesso ao pré-natal tem aumentado no país, muitos casais não conseguem superar questões culturais que envolvem a temática. Informações do Ministério da Saúde (MS) reunidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Síntese de Indicadores Sociais de 2013 mostram que 46% das gestantes passaram por sete ou mais consultas de pré-natal em 2000. Uma década depois, esse número passou para 61,1%. O MS informa ainda que ampliou em 87% as consultas de pré-natal entre 2003 e 2012.
No entanto, quando se trata de sexualidade até a abordagem com o médico costuma ser tabu. “Até hoje é um assunto pouco abordado no pré-natal. Temos tanto a situação da vergonha do casal em falar sobre sexo quanto o próprio tempo da consulta – que em muitos casos é curto – e até o despreparo do médico”, afirma o especialista em reprodução humana da Criogênesis, o ginecologista Renato de Oliveira.
Para ele, as questões sexuais fazem parte da gestação e devem ser esclarecidas. “Se o homem ou a mulher sentirem a diminuição do desejo seja por medo, preconceito ou falta de informação, devem buscar as respostas. O casal não deve abrir mão da sexualidade, porque o sexo traz benefícios para o casal e a gestação”, diz.
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Mulheres têm pouco conhecimento sobre questões básicas de sexo e gravidez, diz estudo
Veja o que é mito e o que é verdade
Artigo intitulado ‘Percepção do casal grávido quanto sua sexualidade’, de autoria de Karla Cristina Alves de Oliveira e Isolina de Lourdes Rios Assis, da PUC Goiás, mostra uma queda na atividade sexual que varia entre 40 e 60%. No entanto, Renato de Oliveira explica que o sexo é contraindicado em situações bem específicas. “Em casos de sangramento atípico, ameaça de aborto ou alterações da competência do colo de útero também chamada de insuficiência istmo cervical. Ou seja, algumas mulheres não conseguem manter o colo do útero fechado”, afirma. Para o médico, restringir a sexualidade durante toda a gravidez pode ter consequências no relacionamento. Por isso, se o médico contraindicar, é importante conversar sobre outras maneiras de ter uma relação sexual sem penetração.
SEXO NA GRAVIDEZ É SEGURO
VERDADE . “Se for uma gravidez normal, sem complicações ou riscos, o sexo é seguro, liberado e recomendado. Muitas pesquisas já mostraram que as relações sexuais são bem-vindas na gravidez, tanto fisicamente quanto emocionalmente, já que isso ajuda a manter um vínculo efetivo entre o casal”, afirma Renato de Oliveira.
O ginecologista explica que a gestação é dividida em três grandes períodos, cada um deles com alterações específicas para mãe e para o bebê. “No primeiro trimestre é comum o medo da mulher em perder o bebê. É a fase também em que ela se atém mais a perceber as mudanças no corpo, as náuseas são mais comuns. A partir da 14ª semana, no entanto, essa indisposição acaba. Nesses três primeiros meses é a fase que o homem enxerga a mulher como alguém que carrega a sua prole e um filho é ainda uma afirmação social. Tudo isso atrapalha as relações sexuais”, observa.
O segundo trimestre, chamado de lua-de-mel da gravidez, é o momento em que os níveis de estrogênio e progesterona da mulher aumentam. “Com uma lubrificação vaginal maior, a libido da mulher pode até ficar aumentada, o que levaria a um maior desejo sexual em alguns casos”, afirma. Já o último trimestre, com a barriga já bem protuberante, a alteração do eixo de equilíbrio, dor nas costas e descobrir uma posição confortável para as relações sexuais podem deixar a mulher realmente sem vontade.
Para ele, é importante que o parceiro compreenda as transformações no corpo da mulher, perceba esse momento como transitório e saiba que a esposa continua sendo mulher com desejos sexuais. “A sexualidade não é só genitália. O sexo ajuda a desestressar, a manter a afinidade do casal ao longo da gestação e deve ser estimulado”, pontua.
HÁ MULHERES QUE TÊM A LIBIDO DIMINUÍDA
VERDADE . “Há mulheres que sentem ainda mais prazer pelo fato de não terem que se preocupar com a contracepção, mas outras ficam mais cansadas ou enjoadas, principalmente no primeiro trimestre”, explica o especialista em reprodução humana.
Renato de Oliveira explica que a libido é influenciada por fatores hormonais, anatômicos e psicológicos. “Em uma gestação não planejada, por exemplo, pode ocorrer uma baixa na libido já que a mulher vai associar que o bebê dentro dela é responsabilidade do ato sexual. Medo, a mudança na estrutura familiar com a chegada de uma nova pessoa também podem alterar a libido dela ou do parceiro”, explica.
Se todos os parâmetros forem normais - gestação bem planejada, mulher bem equilibrada – o fator hormonal só terá interferência entre a 14ª e 28ª semanas com o aumento da lubrificação vaginal.
ATO SEXUAL PREJUDICA O BEBÊ
MITO. O ginecologista Renato de Oliveira afirma que o bebê não é prejudicado com o ato sexual, pois a membrana protetora que sela a cérvix ou colo do útero ajuda a protegê-lo. “Além disso, o saco amniótico e os fortes músculos do útero também o protegem. Durante um orgasmo, por exemplo, o bebê pode mexer-se mais vezes”, observa.
O médico reforça que o bebê não sente a relação sexual e sequer fica incomodado. “O bebê percebe apenas as sensações agradáveis: a mãe relaxada, se sentindo bem. Esse é mais um fator favorável ao sexo durante a gestação”, diz. Lembre-se: toda situação de bem-estar beneficia a gestação e a criança.
GRÁVIDA NÃO TEM ORGASMO
MITO . A mulher grávida pode ter orgasmos normalmente. “Se isso não estiver ocorrendo a mulher deve fazer uma avaliação médica, mas o que poderia atrapalhar a relação é o fator psicológico”, explica Renato Oliveira. O ginecologista diz que há casais que optam por não ter relações sexuais com penetração, devido ao tamanho da barriga ou à proximidade com o parto, preferindo dedicar-se ao sexo oral ou a masturbação mútua. “Esta opção pode ser feita”, recomenda.
ORGASMO PODE INDUZIR O PARTO
VERDADE. “Essa possibilidade existe uma vez que o orgasmo libera ocitocina, hormônio que faz com que o útero sofra contrações. O sêmen também contém prostaglandinas, que podem causar um efeito semelhante se for ejaculado na vagina nestas condições”, explica Renato de Oliveira.
Essa indução aconteceria, entretanto, perto do final da gestação. “Falta na literatura médica a informação de que a liberação de ocitocina durante o orgasmo feminino favoreceria o trabalho de parto prematuro. Há um achismo de que poderia levar ao trabalho de parto sem muito respaldo científico”, observa.
'Ele não queria sequer queria me ver pelada'
“Quem ficou desanimado foi o marido. Ele simplesmente travou. No começo, falava que tinha medo de machucar o bebê... Aproveitei e dei uma aula de biologia. Resolvemos então tentar, mas não deu. Racionalmente, ele sabia que não tinha impedimento, mas passou a me ver como mãe, que carregava o filho dele. Eu fiquei abaladíssima até por que me achava a grávida mais maravilhosa do mundo, a Grace Kelly das grávidas, mas ele não queria sequer me ver pelada, alisava a barriga, beijava, mas eu era do neném. Fiquei mal. Depois que nosso filho nasceu, demoramos a normalizar a vida sexual. E quando ele fez 1 ano e três meses já estava grávida novamente.
Dessa vez, eu não quero sexo, estou na 12ª semana, minha pressão está baixa, minhas costas doem, as pernas estão inchadas. Até acho que ele está mais disposto, mas não estou vendo luz no fim do túnel.
Outro dia fui à padaria e uma vizinha que não tenho muito intimidade me perguntou: ‘E o sexo?’. Comecei a falar, desabafar que não estava dando conta e vi os olhos dela se arregalarem... Ela me perguntava sobre o sexo do bebê...
Meu marido fez um trabalho mental de que ‘tenho que transar com a minha mulher enquanto ela estiver grávida’, mas às vezes penso que ele está até um pouco aliviado com o meu desânimo. Na primeira gestação, me jogava em cima dele. Agora, vou deixar o barco rolar...” - Juliana Ferreira*, advogada, 35 anos, mãe de um menino de 1 ano e seis meses e grávida de 12 semanas.
'Acordava de madrugada querendo sexo'
“Minha gravidez foi super planejada, enjoei demais no início, mas a atividade sexual foi mantida como era antes. Quando já estava barriguda, fiquei completamente tarada. Eu acordava de madrugada querendo sexo, sonhava com sexo. Na 36ª semana comecei a ter muita contração e tive que parar, inclusive, de fazer caminhada para ‘segurar’ a gestação. Duas semanas depois as contrações pararam e entrei na fase de querer que meu filho nascesse logo e retomamos o sexo. Trinta dias depois que o Felipe nasceu de parto normal já me sentia bem. A primeira vez após o parto parece que a gente é virgem de novo, senti um pouco de dor.
Eu sempre fui muito magra, engordei 18 quilos na gestação e foi uma época que me sentia muito bem, sensual e desejável. Pode até ser que a barriga de grávida não seja a coisa mais bonita do mundo, mas me achava gostosona. Não é por que me tornava mãe que deixei de ser mulher. Depois que o filho nasce, a relação muda, eram meus últimos momentos de total liberdade e aproveitei para fazer o que quisesse na hora que eu quisesse” – Bebel Soares, arquiteta.
Observações de uma sexóloga
A neuropsicóloga, professora de Teoria Psicanalítica da Sexualidade e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Sônia Eustáquia Fonseca enumera os motivos que podem explicar a redução na atividade sexual do casal. “A mulher fica voltada para o que acontece de novo no corpo dela em um processo que chamamos narcísico. Esse novo não é só o corpo em transformação, mas a perspectiva de uma vida nova, a preparação para chegada do bebê. Dessa forma, a energia sexual é afetada por outra demanda e fica diminuída no envolvimento da mulher com o marido”, explica. Segundo ela, se o homem se envolve nessas questões, ambos podem desfrutar com prazer desses afazeres para aonde a energia sexual será canalizada. “O marido, por mais envolvido que esteja na gestação, nunca terá o alcance do que é uma gravidez no corpo de uma pessoa”, observa.
Ela também afirma que a diminuição do desejo sexual também pode acontecer com o homem. “Alguns vêem ou sentem a gravidez como sagrada e por isso o desejo sexual fica completamente hipoativo. É o filho dele que está dentro daquela barriga e a ideia da penetração pode passar a ser vista como algo indecente, inapropriado ou profano. Esse homem então passar a evitar a mulher, deixa de cortejá-la e as relações sexuais param de acontecer”, explica. É comum também existirem repressões sexuais de todos os níveis na maternidade. “A educação sexual recebida na infância, pela família e sociedade dita muito mais as leis do inconsciente do que as informações recebidas de médicos ou sexólogos”, diz Sônia.
A estética da gravidez também pode ser motivo para que os maridos evitem suas companheiras. “Existem casos que simplesmente o homem passa a não se sentir mais atraído pela mulher e situações em que a mulher se sente menos feminina e feia durante a gravidez. Tudo isso também pode atrapalhar as relações sexuais”, cita. Mas não é uma regra: “Há homens que adoram grávidas que vêem as esposas em plena vida, em pleno processo de criação e querem sexo e as seduzem. Quando coincide de o casal estar feliz com a gravidez, eles conseguem sentir desejo um pelo outro e ter relações sexuais até bem perto do parto”, afirma a especialista.
Em casos de gravidez não planejada – e a recente pesquisa ‘Nascer no Brasil’ mostra que 46% das mulheres não desejaram a gestação -, Sônia Eustáquia Fonseca diz que a mulher pode ficar em estado de humor rebaixado com nuances depressivas pelo fato de o bebê “atrapalhar” o projeto de vida que ela tinha. “Essa mulher está triste, incomodada, preocupada. Ela pode se sentir perdida, ficar ansiosa”, diz. No início da gravidez, muitas ainda sentem enjoo, dor nos seios e todos esses fatores podem fazer com que elas evitem a relação sexual. “É incompatível não por causa dela, mas por causa dos sintomas. Durante a gestação, aquela que foi amparada pelo marido ou tem uma boa estrutura familiar, termina a gravidez melhor, mais preparada”, observa ainda.
A especialista diz que existem também os casos de mulheres que simplesmente não gostam de fazer sexo com os maridos e têm a desculpa pronta até o final do puerpério. No entanto, Sônia Eustáquia Fonseca reforça que o sexo na gravidez é saudável: “São muitos os neurotransmissores do bem que atuam nesse momento. A mulher se sente valorizada e a autoestima aumenta se ela é desejada pelo parceiro”.
* Nome trocado a pedido da entrevistada.
No entanto, quando se trata de sexualidade até a abordagem com o médico costuma ser tabu. “Até hoje é um assunto pouco abordado no pré-natal. Temos tanto a situação da vergonha do casal em falar sobre sexo quanto o próprio tempo da consulta – que em muitos casos é curto – e até o despreparo do médico”, afirma o especialista em reprodução humana da Criogênesis, o ginecologista Renato de Oliveira.
Para ele, as questões sexuais fazem parte da gestação e devem ser esclarecidas. “Se o homem ou a mulher sentirem a diminuição do desejo seja por medo, preconceito ou falta de informação, devem buscar as respostas. O casal não deve abrir mão da sexualidade, porque o sexo traz benefícios para o casal e a gestação”, diz.
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Mulheres têm pouco conhecimento sobre questões básicas de sexo e gravidez, diz estudo
Veja o que é mito e o que é verdade
Artigo intitulado ‘Percepção do casal grávido quanto sua sexualidade’, de autoria de Karla Cristina Alves de Oliveira e Isolina de Lourdes Rios Assis, da PUC Goiás, mostra uma queda na atividade sexual que varia entre 40 e 60%. No entanto, Renato de Oliveira explica que o sexo é contraindicado em situações bem específicas. “Em casos de sangramento atípico, ameaça de aborto ou alterações da competência do colo de útero também chamada de insuficiência istmo cervical. Ou seja, algumas mulheres não conseguem manter o colo do útero fechado”, afirma. Para o médico, restringir a sexualidade durante toda a gravidez pode ter consequências no relacionamento. Por isso, se o médico contraindicar, é importante conversar sobre outras maneiras de ter uma relação sexual sem penetração.
SEXO NA GRAVIDEZ É SEGURO
VERDADE . “Se for uma gravidez normal, sem complicações ou riscos, o sexo é seguro, liberado e recomendado. Muitas pesquisas já mostraram que as relações sexuais são bem-vindas na gravidez, tanto fisicamente quanto emocionalmente, já que isso ajuda a manter um vínculo efetivo entre o casal”, afirma Renato de Oliveira.
O ginecologista explica que a gestação é dividida em três grandes períodos, cada um deles com alterações específicas para mãe e para o bebê. “No primeiro trimestre é comum o medo da mulher em perder o bebê. É a fase também em que ela se atém mais a perceber as mudanças no corpo, as náuseas são mais comuns. A partir da 14ª semana, no entanto, essa indisposição acaba. Nesses três primeiros meses é a fase que o homem enxerga a mulher como alguém que carrega a sua prole e um filho é ainda uma afirmação social. Tudo isso atrapalha as relações sexuais”, observa.
O segundo trimestre, chamado de lua-de-mel da gravidez, é o momento em que os níveis de estrogênio e progesterona da mulher aumentam. “Com uma lubrificação vaginal maior, a libido da mulher pode até ficar aumentada, o que levaria a um maior desejo sexual em alguns casos”, afirma. Já o último trimestre, com a barriga já bem protuberante, a alteração do eixo de equilíbrio, dor nas costas e descobrir uma posição confortável para as relações sexuais podem deixar a mulher realmente sem vontade.
Para ele, é importante que o parceiro compreenda as transformações no corpo da mulher, perceba esse momento como transitório e saiba que a esposa continua sendo mulher com desejos sexuais. “A sexualidade não é só genitália. O sexo ajuda a desestressar, a manter a afinidade do casal ao longo da gestação e deve ser estimulado”, pontua.
HÁ MULHERES QUE TÊM A LIBIDO DIMINUÍDA
VERDADE . “Há mulheres que sentem ainda mais prazer pelo fato de não terem que se preocupar com a contracepção, mas outras ficam mais cansadas ou enjoadas, principalmente no primeiro trimestre”, explica o especialista em reprodução humana.
Renato de Oliveira explica que a libido é influenciada por fatores hormonais, anatômicos e psicológicos. “Em uma gestação não planejada, por exemplo, pode ocorrer uma baixa na libido já que a mulher vai associar que o bebê dentro dela é responsabilidade do ato sexual. Medo, a mudança na estrutura familiar com a chegada de uma nova pessoa também podem alterar a libido dela ou do parceiro”, explica.
Se todos os parâmetros forem normais - gestação bem planejada, mulher bem equilibrada – o fator hormonal só terá interferência entre a 14ª e 28ª semanas com o aumento da lubrificação vaginal.
ATO SEXUAL PREJUDICA O BEBÊ
MITO. O ginecologista Renato de Oliveira afirma que o bebê não é prejudicado com o ato sexual, pois a membrana protetora que sela a cérvix ou colo do útero ajuda a protegê-lo. “Além disso, o saco amniótico e os fortes músculos do útero também o protegem. Durante um orgasmo, por exemplo, o bebê pode mexer-se mais vezes”, observa.
O médico reforça que o bebê não sente a relação sexual e sequer fica incomodado. “O bebê percebe apenas as sensações agradáveis: a mãe relaxada, se sentindo bem. Esse é mais um fator favorável ao sexo durante a gestação”, diz. Lembre-se: toda situação de bem-estar beneficia a gestação e a criança.
GRÁVIDA NÃO TEM ORGASMO
MITO . A mulher grávida pode ter orgasmos normalmente. “Se isso não estiver ocorrendo a mulher deve fazer uma avaliação médica, mas o que poderia atrapalhar a relação é o fator psicológico”, explica Renato Oliveira. O ginecologista diz que há casais que optam por não ter relações sexuais com penetração, devido ao tamanho da barriga ou à proximidade com o parto, preferindo dedicar-se ao sexo oral ou a masturbação mútua. “Esta opção pode ser feita”, recomenda.
ORGASMO PODE INDUZIR O PARTO
VERDADE. “Essa possibilidade existe uma vez que o orgasmo libera ocitocina, hormônio que faz com que o útero sofra contrações. O sêmen também contém prostaglandinas, que podem causar um efeito semelhante se for ejaculado na vagina nestas condições”, explica Renato de Oliveira.
Essa indução aconteceria, entretanto, perto do final da gestação. “Falta na literatura médica a informação de que a liberação de ocitocina durante o orgasmo feminino favoreceria o trabalho de parto prematuro. Há um achismo de que poderia levar ao trabalho de parto sem muito respaldo científico”, observa.
'Ele não queria sequer queria me ver pelada'
“Quem ficou desanimado foi o marido. Ele simplesmente travou. No começo, falava que tinha medo de machucar o bebê... Aproveitei e dei uma aula de biologia. Resolvemos então tentar, mas não deu. Racionalmente, ele sabia que não tinha impedimento, mas passou a me ver como mãe, que carregava o filho dele. Eu fiquei abaladíssima até por que me achava a grávida mais maravilhosa do mundo, a Grace Kelly das grávidas, mas ele não queria sequer me ver pelada, alisava a barriga, beijava, mas eu era do neném. Fiquei mal. Depois que nosso filho nasceu, demoramos a normalizar a vida sexual. E quando ele fez 1 ano e três meses já estava grávida novamente.
Dessa vez, eu não quero sexo, estou na 12ª semana, minha pressão está baixa, minhas costas doem, as pernas estão inchadas. Até acho que ele está mais disposto, mas não estou vendo luz no fim do túnel.
Outro dia fui à padaria e uma vizinha que não tenho muito intimidade me perguntou: ‘E o sexo?’. Comecei a falar, desabafar que não estava dando conta e vi os olhos dela se arregalarem... Ela me perguntava sobre o sexo do bebê...
Meu marido fez um trabalho mental de que ‘tenho que transar com a minha mulher enquanto ela estiver grávida’, mas às vezes penso que ele está até um pouco aliviado com o meu desânimo. Na primeira gestação, me jogava em cima dele. Agora, vou deixar o barco rolar...” - Juliana Ferreira*, advogada, 35 anos, mãe de um menino de 1 ano e seis meses e grávida de 12 semanas.
'Acordava de madrugada querendo sexo'
“Minha gravidez foi super planejada, enjoei demais no início, mas a atividade sexual foi mantida como era antes. Quando já estava barriguda, fiquei completamente tarada. Eu acordava de madrugada querendo sexo, sonhava com sexo. Na 36ª semana comecei a ter muita contração e tive que parar, inclusive, de fazer caminhada para ‘segurar’ a gestação. Duas semanas depois as contrações pararam e entrei na fase de querer que meu filho nascesse logo e retomamos o sexo. Trinta dias depois que o Felipe nasceu de parto normal já me sentia bem. A primeira vez após o parto parece que a gente é virgem de novo, senti um pouco de dor.
Eu sempre fui muito magra, engordei 18 quilos na gestação e foi uma época que me sentia muito bem, sensual e desejável. Pode até ser que a barriga de grávida não seja a coisa mais bonita do mundo, mas me achava gostosona. Não é por que me tornava mãe que deixei de ser mulher. Depois que o filho nasce, a relação muda, eram meus últimos momentos de total liberdade e aproveitei para fazer o que quisesse na hora que eu quisesse” – Bebel Soares, arquiteta.
Observações de uma sexóloga
A neuropsicóloga, professora de Teoria Psicanalítica da Sexualidade e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, Sônia Eustáquia Fonseca enumera os motivos que podem explicar a redução na atividade sexual do casal. “A mulher fica voltada para o que acontece de novo no corpo dela em um processo que chamamos narcísico. Esse novo não é só o corpo em transformação, mas a perspectiva de uma vida nova, a preparação para chegada do bebê. Dessa forma, a energia sexual é afetada por outra demanda e fica diminuída no envolvimento da mulher com o marido”, explica. Segundo ela, se o homem se envolve nessas questões, ambos podem desfrutar com prazer desses afazeres para aonde a energia sexual será canalizada. “O marido, por mais envolvido que esteja na gestação, nunca terá o alcance do que é uma gravidez no corpo de uma pessoa”, observa.
Ela também afirma que a diminuição do desejo sexual também pode acontecer com o homem. “Alguns vêem ou sentem a gravidez como sagrada e por isso o desejo sexual fica completamente hipoativo. É o filho dele que está dentro daquela barriga e a ideia da penetração pode passar a ser vista como algo indecente, inapropriado ou profano. Esse homem então passar a evitar a mulher, deixa de cortejá-la e as relações sexuais param de acontecer”, explica. É comum também existirem repressões sexuais de todos os níveis na maternidade. “A educação sexual recebida na infância, pela família e sociedade dita muito mais as leis do inconsciente do que as informações recebidas de médicos ou sexólogos”, diz Sônia.
A estética da gravidez também pode ser motivo para que os maridos evitem suas companheiras. “Existem casos que simplesmente o homem passa a não se sentir mais atraído pela mulher e situações em que a mulher se sente menos feminina e feia durante a gravidez. Tudo isso também pode atrapalhar as relações sexuais”, cita. Mas não é uma regra: “Há homens que adoram grávidas que vêem as esposas em plena vida, em pleno processo de criação e querem sexo e as seduzem. Quando coincide de o casal estar feliz com a gravidez, eles conseguem sentir desejo um pelo outro e ter relações sexuais até bem perto do parto”, afirma a especialista.
Em casos de gravidez não planejada – e a recente pesquisa ‘Nascer no Brasil’ mostra que 46% das mulheres não desejaram a gestação -, Sônia Eustáquia Fonseca diz que a mulher pode ficar em estado de humor rebaixado com nuances depressivas pelo fato de o bebê “atrapalhar” o projeto de vida que ela tinha. “Essa mulher está triste, incomodada, preocupada. Ela pode se sentir perdida, ficar ansiosa”, diz. No início da gravidez, muitas ainda sentem enjoo, dor nos seios e todos esses fatores podem fazer com que elas evitem a relação sexual. “É incompatível não por causa dela, mas por causa dos sintomas. Durante a gestação, aquela que foi amparada pelo marido ou tem uma boa estrutura familiar, termina a gravidez melhor, mais preparada”, observa ainda.
A especialista diz que existem também os casos de mulheres que simplesmente não gostam de fazer sexo com os maridos e têm a desculpa pronta até o final do puerpério. No entanto, Sônia Eustáquia Fonseca reforça que o sexo na gravidez é saudável: “São muitos os neurotransmissores do bem que atuam nesse momento. A mulher se sente valorizada e a autoestima aumenta se ela é desejada pelo parceiro”.
* Nome trocado a pedido da entrevistada.