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A explicação não é científica, mas caminha na mesma direção de descobertas recentes. Estudo publicado na última edição da revista científica Nature Immunology demonstrou como a interação entre nutrição, metabolismo e imunidade está envolvida no processo de envelhecimento. Os pesquisadores da Universidade College London, no Reino Unido, comprovaram, mais uma vez, em laboratório, que é possível reforçar a imunidade celular a partir apenas da intervenção dietética. Eles não indicam nenhum alimento em específico, mas confirmam uma suspeita amplamente investigada na ciência do envelhecimento: menos é mais.
Nesse caso, menos calorias no prato significam mais anos de vida. À medida que o organismo humano começa a envelhecer, o sistema imunológico passa a entrar em declínio. Pessoas mais velhas sofrem com o aumento da incidência e da gravidade de infecções, além do fato de a vacinação contra muitos males se tornar menos eficiente. Em um primeiro trabalho, o grupo de cientistas mostrou que o envelhecimento das células do sistema imunológico, conhecidas como linfócitos T, pode ser controlado pela molécula p38 MAPK, que atua como um freio para evitar funções celulares. A molécula é ativada por baixos níveis de nutrientes com sinais associado aos envelhecimento. “O estudo reforça a questão da dieta com restrição calórica: ter uma dieta regrada e de baixa calorias”, resume Einstein Francisco Camargos, geriatra do Hospital Universitário de Brasília (HUB).
A restrição calórica é, inclusive, uma das teorias mais estudadas do ponto de vista do envelhecimento mais lento, tanto em humanos quanto em animais. Camargos define essa recomendação como criar o hábito de ingerir até 70% do que deixaria um indivíduo saciado. Os resultados dessa prática já eram observados clinicamente, e os estudos científicos chegam para identificar os marcadores moleculares resultantes dela. “As teorias falam que a restrição calórica reduz a glicose, o colesterol, melhora o metabolismo. Mas são hipóteses. Estudos como esses mostram o que acontece dentro da célula.”
Antes da gestação
O pai da medicina fixou há quase 2.500 anos: “Que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio”. A regra ditada pelo médico grego Hipócrates é seguida à risca pela servidora pública Heloene Bento, 53 anos. Depois de uma intoxicação alimentar em um restaurante próximo ao trabalho, há 15 anos, ela reformulou todo o relacionamento com a comida. De vilãs, as refeições passaram a ser parceiras. “Quando vejo que tive uma pequena alteração em exames, como no colesterol, mudo uma coisa ou outra na alimentação e, rapidinho, tudo se normaliza novamente”, ensina. Ela conta com o auxílio de uma nutricionista, que segue o pedido de Heloene para priorizar verduras, frutas e cereais.
O controle da saúde feito pela alimentação é algo que ela deseja passar para toda a família, ainda que tenha que lidar com certa resistência dos filhos. “Minha filha mais nova é vegana e não come nada de origem animal. Já meu filho não se importa tanto com questões de alimentação. Eles estão novos, mas acho que vão começar a se conscientizar mais com a idade.” O avançar dos anos colabora para o desequilíbrio de um balanço importante dentro do organismo humano entre radicais livres e antioxidantes. Os radicais livres são obtidos pela alimentação e hábitos nada saudáveis, como tabagismo, sedentarismo e o sono irregular. Eles passam a se acumular no corpo e promovem morte celular, processos inflamatórios, aterosclerose e câncer. Todos, problemas ligados ao envelhecimento.
“A influência da alimentação na prevenção de doenças está comprovada. Um exemplo é a dieta mediterrânea e a longevidade dos povos que a seguem. A atividade física e o sono reparador também protegem contra doenças”, reforça Camargos. O geriatra pondera que a prevenção deve começar ainda no útero materno ou mesmo pelas gerações anteriores, mas mudanças feitas na idade mais avançada são, com certeza, capazes de trazer benefícios. “Não é tão robusto, mas ajuda. A prevenção começa no útero da mãe. Os estudos mostram isso. A alimentação que sua mãe e até a que seus avós tiveram interferem na sua longevidade.”
Os contatos sociais também ajudam
O estilo de vida adequado é um aspecto positivo e deve vir bem acompanhado. O número de pesquisas que apontam os relacionamentos interpessoais como fator relevante para a longevidade é crescente. As pesquisadoras Brooke Feeney, da Universidade de Carnegie Mellon, e Nancy Collins, da Universidade da Califórnia em Santa Barbara, ambas nos Estados Unidos, enfatizam a importância das relações no apoio a indivíduos não só na capacidade deles de lidar com o estresse ou a adversidade, mas também nos esforços para aprender, crescer, explorar, alcançar objetivos, cultivar novos talentos e encontrar propósito e significado na vida. “Relacionamentos podem permitir que uma pessoa prospere, mas, infelizmente, sabemos relativamente pouco sobre como eles promovem ou dificultam a longevidade”, avalia Feeney.
Segundo as cientistas, existem certas características das companhias que aumentam a capacidade de elas fornecerem apoio significativo. “Não é só se alguém fornece suporte, mas é como ele ou ela faz isso que determina o resultado desse apoio.” A opinião é compartilhada pela presidente do Departamento de Gerontologia da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), Maria Angélica Sanchez. Para ela, os relacionamentos deixam as pessoas mais felizes em qualquer momento da vida. “Viver isolado não é bom para ninguém. Desde cedo, é importante se preocupar em manter relacionamentos estáveis, seja com um grupo de amigos, seja com vizinhos, com a comunidade ou com a família.”
Sanchez conta que acontecem mudanças expressivas na vida de idosos quando eles começam a frequentar os centros de convivência. A gerontóloga ouve relatos de idosos que se mostram mais felizes participando das atividades por se sentirem até mesmo mais úteis. “Hoje, estamos observando que esses grupos de convivência acabam também estimulando o exercício de algumas atividades. Os idosos têm voltado inclusive para o mercado de trabalho porque descobriram algum talento frequentando esses grupos”, observa.
Bem acompanhados
Um trabalho do Centro Médico da Universidade Duke (EUA), em outubro passado, concluiu que chegar à meia-idade sem nunca ter se casado pode mais do que dobrar o risco de uma pessoa morrer precocemente. O artigo, publicado pela revista científica Annals of Behavioral Medicine, analisou a relação entre a taxa de mortalidade e o estado civil de 4.802 pessoas. Os resultados mostram que, em comparação com pessoas que vivem com um parceiro durante a meia-idade, aquelas que nunca se casaram apresentaram um risco 2,3 vezes maior de morrer precocemente.