A intolerância à lactose, que vem a ser uma doença resultante da ausência ou deficiência da enzima lactase nas células da mucosa do trato gastrointestinal, e, em consequência, uma inabilidade para se quebrar o dissacarídeo lactose presente no leite, para que possa ser absorvido, atinge, no Brasil, de 6% a 8% das crianças com menos de 3 anos. Entre os adultos, essa porcentagem é de 2% a 3%, segundo dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia. E mais: cerca de 60% das pessoas que desenvolvem essa intolerância não sabem que a têm e convivem com a doença sofrendo os seus efeitos. Para fazer frente a essa demanda, indústrias oferecem cada vez mais produtos como iogurtes e queijos sem lactose.
Formada em nutrição pelo Centro Universitário de Lavras (Unilavras), com especialização em nutrição e saúde pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), Mariana Villela explica também que a intolerância à lactose pode ser congênita, onde bebês recém-nascidos já apresentam deficiência na lactase, resultando em diarreia e desidratação (às vezes letais) quando se alimentam de leite ou fórmulas à base de lactose. A deficiência de lactase primária, por sua vez, é a ausência de lactase, parcial ou total, que se desenvolve na infância ou em diferentes idades, até em adultos, ao passo que a deficiência secundária é o resultado de lesões no intestino delgado ou por alguma patologia, como enterite regional, colite ulcerativa, desnutrição e câncer, entre outras. “A intolerância à lactose é caracterizada pela ausência ou deficiência da enzima lactase, molécula responsável pela degradação da lactose em duas moléculas de açúcar menores, galactose e glicose. Essas moléculas são facilmente absorvidas pelo intestino, não causando, então, sintomas da doença”, diz Mariana.
Outros sintomas de intolerância à lactose podem ser dores de cabeça e vertigens inesperadas, perda de concentração, dificuldade de memória de curto prazo, dores musculares e articulares, cansaço intenso, alergias diversas, arritmia cardíaca, úlceras orais, dor de garganta e aumento de frequência da micção. “Se esses sintomas sistêmicos persistirem, é preciso que se faça uma avaliação para saber se, de fato, decorrem da intolerância à lactose, se são sintomas coincidentes ou se provêm da alergia à proteína do leite de vaca”, diz Mariana.
DIGESTÃO
Quanto ao processo de tirar a lactose do leite, ela afirma que é adicionada ao alimento e aos seus derivados a enzima lactase, que é responsável pela hidrólise (quebra) da lactose em glicose e galactose, que são facilmente absorvidos pela mucosa intestinal. E, uma vez ocorrida a reação, a lactose não é novamente formada, sendo essa uma dúvida comum entre os consumidores intolerantes.
"O ganho é que, agindo assim, o consumidor aproveita todos os benefícios do leite e seus derivados, como proteínas, cálcio, fósforos e vitaminas, que são muito importantes para a saúde e não desenvolvem os sintomas indesejados provocados pela presença da lactose”, afirma a nutricionista.
Ela explica também que a principal característica dos produtos livres de lactose é sua alta digestibilidade, e isso se dá porque a molécula de lactose é transformada em moléculas mais simples durante o processo produtivo. "Esse processo ocorre por meio da edição de enzima lactase, responsável pela quebra das moléculas de lactose, simulando o que ocorre no organismo humano durante a digestão. E, como resultado, os nutrientes do leite são absorvidos de maneira mais rápida e eficiente pelo organismo, trazendo uma agradável sensação de leveza e bem-estar", diz Mariana.
Ainda de acordo com ela, os intolerantes à lactose têm de restringir o alimento causador da doença. "Depois de diagnosticado o problema, recomenda-se evitar o consumo do leite e seus derivados na sua forma natural. A boa notícia é que é possível viver bem e plenamente sem a lactose, uma vez que já existe uma série de produtos e fórmulas, como os que desenvolvemos aqui na Verde Campo, com as mesmas propriedades do leite, só que isentos da lactose", conclui a nutricionista.
Para Álvaro Gazolla, diretor comercial da Verde Campo, que está no mercado há cerca de 10 anos, e em 2010 deu início às pesquisas e desenvolvimento da linha lacfree, para, no ano seguinte, lançar o primeiro iogurte sem lactose do Brasil, no início, o público tinha receio de experimentar os produtos, acreditando que o sabor não era agradável. Mas, com o tempo, isso foi mudando, e, hoje, a linha lacfree ocupa em torno de 5% do faturamento da categoria. "Atualmente, produzimos também queijos, entre eles, o cottage, iogurtes light e diet, além de creme de leite e requeijão, todos sem lactose", diz Álvaro.