Ela lava a roupa, cuida da casa, prepara suas refeições e faz parte de um grupo que só cresce no país: o dos idosos que vivem sozinhos. Francisca Luiza Nery, a dona Chiquinha que toda a vizinhança adora, tem 99 anos, mas nem a idade avançada a convenceu de sair de casa para viver sob o cuidado dos filhos. O que virou um problema para a família. “Sinto-me muito bem por poder fazer minhas coisas, mas meus filhos não aceitam. Se for morar com eles não vou ter a mesma liberdade. Aqui eu sou a dona da casa”, defende a quase centenária, famosa pelo café sempre pronto para servir às visitas.
A imagem do idoso incapaz de viver sozinho vem sendo desconstruída com o passar dos anos. De 1992 a 2012, o número de idosos que vivem sozinhos no Brasil triplicou, passando de 1,1 milhão para 3,7 milhões, o que representa crescimento de 236%. Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, no mesmo período, a população de idosos acima de 60 anos passou de 11,4 milhões para 24,8 milhões, incremento de 117%.
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Essa promoção da independência e da autonomia, claramente associadas ao aumento da longevidade, tem naturalizado a escolha dos idosos em viver por conta própria, e também a aceitação dos filhos. O que era visto como abandono começa a ser tratado como autonomia e tende a ser mais comum, como já ocorre em países mais desenvolvidos da Europa. Por lá há uma série de políticas públicas de suporte ao idoso, que segue em sua casa e passa a receber diariamente suas refeições, e mesmo a visita de uma equipe especializada para acompanhamento de outros aspectos do cotidiano, exemplo de um programa inglês.
E é dessa combinação que eles precisam. Segundo Maria Alice de Vilhena Toledo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), o cenário perfeito é aquele no qual o idoso consegue viver só, mas integrado socialmente. “O envelhecimento ativo, além de independência e autonomia, abrange também o aspecto psicossocial. Eles precisam estar bem emocionalmente, porque é nesse momento que vivem suas perdas”, explica a geriatra, especialista capaz de ajudar a família na avaliação da possibilidade, ou não, de um idoso morar sozinho.
Assista ao vídeo e conheça melhor as histórias dos idosos que moram sozinhos:
Dona Chiquinha, por exemplo, tem boa mobilidade, ouve e enxerga bem e não toma remédios, exceto quando a dor de coluna castiga. Sai de casa todos os dias para a missa, onde encontra amigos e se mantém socialmente integrada. Tirando a preocupação da família, soma argumentos para seguir assim. O Bem Viver ouviu outros idosos que estão felizes em casa e não pretendem mudar de endereço. São exemplos de que é possível acreditar em um envelhecimento ativo, no qual o passar dos anos é mais ameno. E muito, muito mais feliz.
AUTONOMIA X INDEPENDÊNCIA
Segundo a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia, autonomia é a habilidade de controlar, lidar e tomar decisões pessoais sobre como se deve viver diariamente, de acordo com as próprias regras e preferências. Independência, por sua vez, é a habilidade de executar funções relacionadas à vida diária – isto é, a capacidade de viver de forma independente na comunidade com alguma ou nenhuma ajuda de outros.
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