Nova geração de idosos chega à terceira idade experimentando a autonomia e a independência

Geração acostumada a depender da mãe, e depois das mulheres, vive uma nova fase

07/09/2014 09:18

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Edésio Ferreira / EM / DA Press
O aposentado Marcolino Antônio Gomes, de 81 anos, faz seu almoço e lava suas roupas, e pensa em arrumar nova companheira (foto: Edésio Ferreira / EM / DA Press)
Elas ganham em expectativa de vida. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2012, mostraram que enquanto as mulheres vivem cerca de 78 anos, os homens vivem 71. Elas também são a maior fatia entre os idosos independentes e autônomos: 65% dos que vivem só são mulheres. Mas mesmo entre eles há sinais de maior independência. O percentual de homens que vivem sozinhos passou de 31% para 35% de 1992 para 2012. Muitos estão experimentando, na terceira idade, uma sensação que nunca viveram antes, já que são de gerações acostumadas a depender da mãe, e depois das mulheres.

Policial civil aposentado, Marcolino Antônio Gomes, de 81 anos, faz seu almoço e lava suas roupas. Antes de ficar viúvo, em 2006, recebia tudo das mãos da esposa, Lourdinha, que, como ele, trabalhava fora. A partida da companheira deixou Marcolino só. Na época, o único filho do casal morava com a família no exterior, de onde voltou há pouco mais de um ano. Mas Marcolino tinha aprendido a se virar nas caçadas que fez durante 20 anos seguidos, quando passava uma longa temporada no sertão de Goiás. Cozinhar, então, não era problema.

Forte e cheios de planos para o futuro, ele faz caminhadas diariamente e é ministro da eucaristia na igreja do bairro, mas seu grande prazer é viajar. Mesmo antes de ficar viúvo, Marcolino começou a participar, junto com as irmãs, do Encontro da Feliz Idade, quando milhares de idosos de todo o país se reúnem em alguma cidade turística para uma série de atividades de integração. “Sinto-me feliz de ver gente de tudo quanto é lado. Gente que trabalhou a vida toda e agora quer aproveitar a vida”, conta Marcolino, que faz parte da caravana que sai de São João del-Rei, vizinha à sua cidade natal, Tiradentes.

 

DISPOSIÇÃO

Nesses momentos, dançar é a melhor parte. “Quando vou a um baile parece que vou viver mais cinco anos. Fico animado, me sinto diferente”, conta o aposentado, que quer agora arrumar uma nova companheira. “Gosto de namorar. Todo homem gosta de carinho, mas, infelizmente, estou sozinho há um ano”, conta Marcolino, que, apesar de se virar bem em casa, às vezes acha chato morar só. “Em alguns momentos fico triste e me sinto isolado”, lamenta. Mas também não quer sair de casa, deixando o encontro com o filho e netos para o almoço de domingo.

Esse é o perfil do novo idoso. Segundo Maria Alice de Vilhena Toledo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), há uma nova geração de pessoas chegando à idade mais avançada com autonomia e independência. “São idosos capazes de determinar o que fazer e comer, além de como gastar seu dinheiro. Idosos capazes de gerir suas vidas, mesmo que, às vezes, com ajuda. Quando uma pessoa experimenta a terceira idade com tanta autonomia e independência temos um envelhecimento bem-sucedido”, explica.

Para a especialista, todos que têm essa condição devem ser respeitados pelos filhos em sua vontade de permanecer em casa, cabendo a eles o papel do suporte, arrumando alternativas para facilitar a rotina. Mas como saber se aquele idoso pode ou não se virar sozinho? O geriatra é o profissional capaz de avaliar se o idoso tem capacidade de se autoadministrar e se está em plena atividade, ajudando a família nessa decisão. “Mas também é preciso levar em consideração o desejo do idoso, já que ele precisa se sentir feliz com sua condição”, defende.

Dona Chiquinha, de 99 anos, por exemplo, não precisa fazer seu almoço. Uma sobrinha teve a ideia de ela receber uma marmitinha todos os dias, com horário marcado. “Só preciso fazer o meu café, mas quando quero comer meu macarrãozinho ligo lá e digo: ‘Hoje não precisa entregar, quero comer da minha comida’”, conta. Há dois meses, para agradar aos filhos, aceitou ter uma companhia dormindo em casa. “Meus filhos falaram que era isso ou iam me levar. Então, arrumei uma moça, mas ela nem vem todo dia”, sorri Chiquinha, com a satisfação de uma jovem que ganhou o direito de morar sozinha.

“Falam que sou teimosa, mas penso que se eu sair não vou me dar bem. Aqui todos me conhecem, minha casa está sempre cheia de visitas. Se eu sair vou morrer, como aconteceu com minha amiga. Os filhos insistiram tanto que ela se mudou para a Pampulha. Um dia antes fui me despedir dela, que estava triste, dizendo que ia sentir falta de tudo. Ela foi e 14 dias depois morreu. Consigo ficar sozinha e não paro não. Agora, é esperar os 100 anos em fevereiro. Falaram que vão fazer uma festa para mim na igreja”, sonha Chiquinha... É claro que ela ainda pode sonhar.