Em entrevista exclusiva à TV Alterosa nesta quarta-feira (3) a médica urologista Myriam Priscilla de Rezende Castro, de 34 anos, condenada a seis anos de prisão por ter ordenado a mutilação do ex-noivo em Juiz de Fora, na Zona da Mata, em 2002, pediu desculpas a Wendel José de Souza. ”Eu só tenho a dizer que sinto muito pelo meu ex-noivo e espero que ele tenha recuperado a função dele. Desejo tudo de bom a ele. Eu falo que desejo pra mim o que desejo pra ele”. Atualmente, ela cumpre pena em regime semiaberto na Penitenciária Estevão Pinto.
O crime de motivação passional que repercutiu em todo o país deixa sempre uma pergunta no ar. Wendel teria vida sexual após a castração? O Saúde Plena conversou com o urologista Luis Otávio Amaral Duarte Pinto, que é membro do Departamento de Estética Genital e Cirurgia de Transgêneros da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), para entender quais recursos a medicina tinha à época para devolver à vítima as funções básicas do pênis: penetração, possibilidade de reproduzir com o coito e urinar em pé.
O especialista observa que casos de mutilação peniana não são incomuns. “Os casos que chamam atenção são os oriundos de violência sexual, em que mulher castra o marido, mas a automutilação é frequente em pacientes com distúrbios psiquiátrios e em transexuais”, conta. Um caso famoso que ocorreu na década de 90 serve de exemplo para mostrar que, após a situação traumática, a vida do homem pode voltar à normalidade no sentido fisiológico. O norte-americano John Wayne Bobbitt, 47 anos, teve o pênis cortado com uma faca pela própria esposa. Após a mutilação, Lorena Bobbitt entrou no carro, dirigiu por quilômetros e jogou no meio do mato o órgão do marido. No entanto, a equipe que socorreu a vítima conseguiu encontrá-lo, John passou por uma cirurgia reconstrutora e atuou em dois filmes pornôs. Ano passado, declarou em entrevista ao Daily News: “já dormi com 70 mulheres depois que minha mulher cortou meu pênis”.
"Os casos que existem na literatura médica mostram que é possível tentar implantar o pênis contanto que tenha estrutura adequada para isso”, explica o urologista Luis Otávio Amaral. O médico recomenda que a equipe de socorristas deve captar o órgão, realizar a limpeza e envolvê-lo em uma compressa embebida em solução fisiológica. Em seguida, colocar a estrutura em um saco plástico estéril em um recipiente com gelo”, diz. Segundo ele, até 24 horas depois da mutilação, o reimplante pode ser realizado. No entanto, quanto mais precocemente o socorro for feito, maior a chance sucesso da cirurgia. “A cirurgia de reconstrução é um procedimento muito delicado que envolve cerca de dez horas de trabalho, microscópio cirúrgico e instrumentais de microcirurgia. O fio que é utilizado para costurar os nervos e vasos são da espessura de um fio de cabelo”, detalha.
Caso não seja viável o reimplante do órgão, a conduta seria similiar a de um câncer de pênis em que foi necessária a amputação. "Tudo vai depender do remanescente que ficou”, ressalta. O tamanho da área amputada influencia diretamente no que pode ser feito. “Se o coto (pedaço) que ficou tenha a partir de 5cm, é possível reavivar as funções básicas do órgão (penetração, procriar com coito e função urinária). Se a amputação deixou menos de 5cm, o homem ainda pode ter orgasmos e ejaculação - o líquido seminal ou esperma é produzido em maior quantidade pelas vesículas seminais. É comum as pessoas associarem o orgasmo masculino à ereção, mas o homem consegue ter orgasmo com o pênis mole, caso dos paraplégicos”, explica o especialista. Em casos de amputação muito próxima à base, segundo o médico, fica a possibilidade de desviar o canal da uretra para a região perineal (entre o escroto e o ânus) para que a urina não saia espalhada como um spray. O homem faria xixi sentado, mas com menos incômodo já que o líquido sairia em jato.
Síndrome do membro fantasma
O urologista diz que o pênis é um órgão que tem muitos nervos e a região conhecida como ‘freio’ é uma das áreas mais enervadas do corpo, ou seja, muito dolorosa. Por isso, quando a região é submetida a procedimentos, a área é anestesiada em separado. “Temos relatos na literatura médica da Síndrome do Membro Fantasma em situações de amputação peniana em que o paciente pode reviver a dor”, esclarece.
Por isso, o acompanhamento psicológico é imprescindível. “É muito comum o suicídio entre homens que tiveram o pênis amputado”. Segundo o médico, vivemos em uma sociedade falocêntrica. “O homem é bombardeado por imagens de pênis muito acima da média, sejam em filmes pornográficos, em anúncio de cuecas. As mulheres que atualmente já têm mais experiência sexual – não é como antigamente que o marido era o único parceiro -, comentam sobre tamanho e o homem se preocupa muito com essa parte genital”. Luis Otávio Amaral lembra ainda que o homem não conversa sobre o assunto nem com os amigos e nem com o urologista. “A fonte de pesquisa na maioria dos casos é a internet e eles vão criando a concepção de que quem não tem pênis grande, é ruim”, explica.
Relembre o caso
Em 2002, Myriam Priscilla de Rezende Castro, de 34 anos, mandou cortar o pênis do noivo que teria desistido do casamento três dias antes da celebração. Conforme a investigação da Polícia Civil, revoltada com a situação, ela e o pai dela procuraram dois homens e acertaram com eles a mutilação de Wendel José de Souza.
A vítima foi rendida pelos criminosos quando estava na companhia do irmão, que desmaiou ao presenciar a cena de violência. Os homens usaram uma faca para cortar o pênis do rapaz e disseram que estavam cometendo o ato a mando da mulher. Além disso, Wendel teve o carro e a casa incendiados após o fim do noivado.
Myriam Priscilla de Rezende Castro se formou em medicina e se especializou em urologia. Ela foi julgada em 2009 e condenada a seis anos de prisão, mas fugiu. Presa em abril passado, cumpre pena na penitenciária de mulheres de Belo Horizonte.
Atualmente, ela cumpre pena em regime semiaberto e voltou a trabalhar há dois meses, mas a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não tem tem informações sobre o município, nem do local de trabalho da médica.
O crime de motivação passional que repercutiu em todo o país deixa sempre uma pergunta no ar. Wendel teria vida sexual após a castração? O Saúde Plena conversou com o urologista Luis Otávio Amaral Duarte Pinto, que é membro do Departamento de Estética Genital e Cirurgia de Transgêneros da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), para entender quais recursos a medicina tinha à época para devolver à vítima as funções básicas do pênis: penetração, possibilidade de reproduzir com o coito e urinar em pé.
O especialista observa que casos de mutilação peniana não são incomuns. “Os casos que chamam atenção são os oriundos de violência sexual, em que mulher castra o marido, mas a automutilação é frequente em pacientes com distúrbios psiquiátrios e em transexuais”, conta. Um caso famoso que ocorreu na década de 90 serve de exemplo para mostrar que, após a situação traumática, a vida do homem pode voltar à normalidade no sentido fisiológico. O norte-americano John Wayne Bobbitt, 47 anos, teve o pênis cortado com uma faca pela própria esposa. Após a mutilação, Lorena Bobbitt entrou no carro, dirigiu por quilômetros e jogou no meio do mato o órgão do marido. No entanto, a equipe que socorreu a vítima conseguiu encontrá-lo, John passou por uma cirurgia reconstrutora e atuou em dois filmes pornôs. Ano passado, declarou em entrevista ao Daily News: “já dormi com 70 mulheres depois que minha mulher cortou meu pênis”.
"Os casos que existem na literatura médica mostram que é possível tentar implantar o pênis contanto que tenha estrutura adequada para isso”, explica o urologista Luis Otávio Amaral. O médico recomenda que a equipe de socorristas deve captar o órgão, realizar a limpeza e envolvê-lo em uma compressa embebida em solução fisiológica. Em seguida, colocar a estrutura em um saco plástico estéril em um recipiente com gelo”, diz. Segundo ele, até 24 horas depois da mutilação, o reimplante pode ser realizado. No entanto, quanto mais precocemente o socorro for feito, maior a chance sucesso da cirurgia. “A cirurgia de reconstrução é um procedimento muito delicado que envolve cerca de dez horas de trabalho, microscópio cirúrgico e instrumentais de microcirurgia. O fio que é utilizado para costurar os nervos e vasos são da espessura de um fio de cabelo”, detalha.
Caso não seja viável o reimplante do órgão, a conduta seria similiar a de um câncer de pênis em que foi necessária a amputação. "Tudo vai depender do remanescente que ficou”, ressalta. O tamanho da área amputada influencia diretamente no que pode ser feito. “Se o coto (pedaço) que ficou tenha a partir de 5cm, é possível reavivar as funções básicas do órgão (penetração, procriar com coito e função urinária). Se a amputação deixou menos de 5cm, o homem ainda pode ter orgasmos e ejaculação - o líquido seminal ou esperma é produzido em maior quantidade pelas vesículas seminais. É comum as pessoas associarem o orgasmo masculino à ereção, mas o homem consegue ter orgasmo com o pênis mole, caso dos paraplégicos”, explica o especialista. Em casos de amputação muito próxima à base, segundo o médico, fica a possibilidade de desviar o canal da uretra para a região perineal (entre o escroto e o ânus) para que a urina não saia espalhada como um spray. O homem faria xixi sentado, mas com menos incômodo já que o líquido sairia em jato.
Síndrome do membro fantasma
O urologista diz que o pênis é um órgão que tem muitos nervos e a região conhecida como ‘freio’ é uma das áreas mais enervadas do corpo, ou seja, muito dolorosa. Por isso, quando a região é submetida a procedimentos, a área é anestesiada em separado. “Temos relatos na literatura médica da Síndrome do Membro Fantasma em situações de amputação peniana em que o paciente pode reviver a dor”, esclarece.
Por isso, o acompanhamento psicológico é imprescindível. “É muito comum o suicídio entre homens que tiveram o pênis amputado”. Segundo o médico, vivemos em uma sociedade falocêntrica. “O homem é bombardeado por imagens de pênis muito acima da média, sejam em filmes pornográficos, em anúncio de cuecas. As mulheres que atualmente já têm mais experiência sexual – não é como antigamente que o marido era o único parceiro -, comentam sobre tamanho e o homem se preocupa muito com essa parte genital”. Luis Otávio Amaral lembra ainda que o homem não conversa sobre o assunto nem com os amigos e nem com o urologista. “A fonte de pesquisa na maioria dos casos é a internet e eles vão criando a concepção de que quem não tem pênis grande, é ruim”, explica.
Relembre o caso
Em 2002, Myriam Priscilla de Rezende Castro, de 34 anos, mandou cortar o pênis do noivo que teria desistido do casamento três dias antes da celebração. Conforme a investigação da Polícia Civil, revoltada com a situação, ela e o pai dela procuraram dois homens e acertaram com eles a mutilação de Wendel José de Souza.
A vítima foi rendida pelos criminosos quando estava na companhia do irmão, que desmaiou ao presenciar a cena de violência. Os homens usaram uma faca para cortar o pênis do rapaz e disseram que estavam cometendo o ato a mando da mulher. Além disso, Wendel teve o carro e a casa incendiados após o fim do noivado.
Myriam Priscilla de Rezende Castro se formou em medicina e se especializou em urologia. Ela foi julgada em 2009 e condenada a seis anos de prisão, mas fugiu. Presa em abril passado, cumpre pena na penitenciária de mulheres de Belo Horizonte.
Atualmente, ela cumpre pena em regime semiaberto e voltou a trabalhar há dois meses, mas a Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) não tem tem informações sobre o município, nem do local de trabalho da médica.