A estimativa é de que de 600 a 800 milhões de famílias ao redor do globo estejam em maior risco de doenças pulmonares, como infecções do trato respiratório, pneumonia, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), asma e câncer de pulmão, de acordo com as descobertas relatadas na edição desta quarta-feira da revista Lancet Respiratory Medicine. Isso porque, normalmente, os combustíveis usados são sujos e dispersam uma grande quantidade de fumaça ao serem usados em lareiras e fogões simples. Uma vez que dentro da residência a ventilação tende a ser limitada, os níveis de poluição doméstica podem chegar a índices alarmantes.
O dado que mais chamou a atenção dos pesquisadores está na Índia. Estudos no país indicam que, em alguns locais, a poluição dentro das casas é maior que a detectada fora delas, até três vezes maior do que a registrada em uma rua de Londres e muito acima da recomendada como segura pela Organização Mundial da Saúde. Condições como essa teriam matado aproximadamente 4 milhões de pessoas em 2010, sugere o trabalho.
“Mas isso simplesmente não é uma história sobre a pobreza e o acesso à energia. Os riscos de morte e invalidez por doença respiratória relacionada com a poluição doméstica não são partilhados equitativamente na casa”, observa Gordon. Ele explica que fatores sociais e culturais complexos afetam as origens da doença e todas as soluções propostas. “É uma exposição doméstica, e relacionadas a funções e atividades domésticas. Por isso, as mulheres e as crianças têm exposições especialmente elevadas.”
Como acontece no caso de todas as exposições ambientais, o pesquisador considera que o esforço inicial para proteger uma casa ou uma população é a prevenção primária. Isto é, a remoção do risco o mais cedo possível, antes que haja qualquer evidência de doença respiratória ou início de mecanismos de complicações que predisponham a eventual manifestação da enfermidade.
Integrante da Divisão Médica de Cuidados Críticos, Pulmonares e Alérgicos do Centro Médico da Universidade de Columbia, Neil Schluger acredita que o impacto da doença pulmonar associada à exposição a toxinas ambientais interior é enorme, e que essa carga se estende a países de alta renda. “A boa notícia é que muitas dessas exposições podem ser melhoradas, com benefícios grandes de saúde pública.” Ele considera que a consciência da ameaça é o primeiro passo a ser seguido em todos os setores — saúde, direito, indústria e economia — nos países de baixa e média rendas.