
A pesquisa, divulgada na última quinta-feira (28) pela revista científica Science Translational Medicine, tem à frente Vanessa Zambelli, do Instituto Butantan, em São Paulo, que trabalhou com a equipe de Daria Mochly-Rosen, professora da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos. O trabalho foi iniciado no projeto de doutorado de Zambelli e teve continuidade na universidade norte-americana, onde ela foi bolsista no programa de pós-doutorado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A tecnologia foi transferida para o Instituto Butantan, local de finalização da pesquisa.
A chave para o fim da dor está na molécula Alda-1, desenvolvida no laboratório de Mochly-Rosen há alguns anos. Só que os norte-americanos estavam focados no tratamento de problemas cardíacos. “Descobrimos um outro alvo terapêutico em que essa molécula pode atuar”, diz Zambelli. Ela explica que uma organela celular chamada mitocôndria, responsável pela produção de energia, tem em seu interior a ALDH2. Essa enzima desempenha como função clássica a metabolização de aldeídos (compostos tóxicos) gerados pelo consumo do álcool.
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Preliminar
Na opinião do presidente da Sociedade Brasileira para Estudo da Dor, José Tadeu Tesseroli de Siqueira, ainda que experimental, o estudo de Zambelli é bastante promissor. Ele aponta dois fatores importantes da pesquisa. Primeiro, a confirmação de que a molécula é ativa e por uma via diferente à anti-inflamatória clássica. A ausência dos efeitos colaterais percebidos em outros medicamentos prescritos para o tratamento da dor também chama a atenção. “São diferentes dos dos opioides, como sonolência, sedação e até mesmo a adição (capacidade de gerar vício). Nesse sentido, é altamente promissor.”
Siqueira ressalta que o trabalho ainda é preliminar e há um longo caminho pela frente. “Mas, sem dúvidas, existe um grande mérito dos pesquisadores em buscar uma nova droga que fuja dos efeitos colaterais que já conhecemos.” Ele ressalta que o mecanismo proposto pela cientista do Instituto Butantan também promove o importante efeito de proteção cardíaca, essencial em casos de combate à dor aguda. “Nesse modelo, foi altamente eficiente e promissor. No futuro, talvez possa se provar também em dor crônica. Essas são as duas grandes demandas clínicas no momento”, avalia.

Complicações fatais
Galvão detalha que os anti-inflamatórios podem acarretar uma série de complicações em órgãos fundamentais para o funcionamento do corpo, como o rim, o estômago e o fígado. “Podemos medicar por algum tempo, mas, a longo prazo, haverá muitos efeitos adversos.” Ao mesmo tempo, os opioides podem causar dependência, prisão de ventre, defeitos cognitivos, entre outros problemas. “Quando tratamos um quadro doloroso, primeiro com a dor aguda, conseguimos manipular essas opções porque os medicamentos podem ser deixados em pouco tempo — não o suficiente para efeitos colaterais graves.”
Ainda assim, é preciso avaliar todo o histórico de quem está sendo medicado. Por exemplo, uma pessoa com insuficiência renal não pode tomar anti-inflamatório. Quem tem complicações psiquiátricas não pode ingerir opiáceos. “Na dor aguda, sempre temos o que fazer. A crônica é o grande problema”, diz Galvão. O neurologista afirma que o ideal seria uma substância que tratasse a dor crônica, sem perder efetividade, causar dependência ou efeitos colaterais. Hoje, esses casos são administrados com o equilíbrio de terapias.