A mãe de Augusto explica que justamente pela inconstância no recebimento dessas fórmulas específicas, é comum que as famílias entrem na justiça para garantir que a prescrição médica seja cumprida em periodicidade e quantidade. “Tem mês que tem, tem mês que não se recebe o suficiente”, detalha. Em março de 2013, a juíza Moema de Carvalho Balbino Lucas concedeu liminar para garantir que Augusto recebesse o alimento. No entanto não foi cumprida. “A quem vou recorrer agora?”, questiona a pedagoga que divulgou a situação em seu perfil no Facebook e está recebendo doações para manter a dieta do filho. “É humilhante, além da insegurança constante já que não sei se quando acabar a lata vou receber outra”, desabafa.
Em nota ao Saúde Plena, a Secretaria Municipal de Saúde disse: “Enquanto o fornecimento não estiver regularizado, o usuário da dieta pode ser reavaliado pelo nutricionista do seu centro de saúde de referência, para que tenha uma dieta alternativa, que reponha suas necessidades nutricionais”. Chyntia Araújo rebate: “Meu filho precisa desse leite, ele está em fase de desenvolvimento cognitivo e as necessidades dele não serão supridas por leite vegetal como o de arroz ou de amêndoa. Talvez até seja possível em caso de crianças maiores que já têm uma alimentação mais ampla”, afirma.
A administradora de empresas descobriu a alergia de João Roberto à proteína do leite de vaca e soja entre o terceiro e quarto mês de vida do filho. “Eu fiz a dieta de restrição de consumo desses alimentos e amamentei o João Roberto até os sete meses”, conta. Desde então, só recebeu da prefeitura uma remessa da fórmula. Por enquanto, tem comprado o alimento semanalmente na esperança de que a situação seja regularizada. Chyntia conta que o tipo de alergia do filho é a que é sinalizada com sangue nas fezes. “A cada fralda é uma surpresa, fora o desconforto para a criança como as dores abdominais e o refluxo”, diz.
Presidente da Sociedade Mineira de Pediatria e especialista em alergia e imunologia geral e pediátrica, Rachel Pithcon explica que a alergia à proteína do leite de vaca tem diagnóstico difícil por que são quatro subtipos. “Nos casos mais graves, a criança não pode ter contato com nenhuma molécula do leite de vaca, inclusive sob risco de vida”, explica. A alergia à proteína do leite de vaca pode ser manifestada também através de refluxo, vômitos, doenças de pele ou respiratórias. “Outro tipo são as gastrointestinais que podem levar à desnutrição da criança que perde muita proteína através das fezes”, observa. A pediatra explica ainda que a alergia é um processo dinâmico que vai mudando as características ao longo da idade. “Ao longo da vida da criança, o quadro pode evoluir para uma dessensibilização à proteína do leite. Quanto mais grave a alergia mais tarde ela vai desaparecer”, diz. Para ela, a reavaliação constante desse grupo de alérgicos é importante para definir, afastar ou observar a evolução.
No entanto, Rachel Pithcon afirma que, para aqueles que se mantêm alérgicos, o uso da fórmula à base de aminoácidos é essencial. “As fórmulas não podem ser substituídas por leite de amêndoas ou de arroz, que são inadequados para o desenvolvimento do bebê. O grupo que precisa usar tem que usar. Não ter a fórmula disponível é um risco do ponto de vista de nutrição e um risco em relação à saúde, já que a criança, dependendo do tipo de alergia, pode voltar a ter diarreia, intensificar quadro de desnutrição ou ter um choque anafilático”, reforça.
No caso específico de Augusto, Marcela Bracarense reforça a necessidade da fórmula: “Meu filho apresenta sérios problemas de saúde ocasionados por acidente genético. A alimentação indicada é a formula infantil livre de aminoácidos. Desde que adotou essa dieta, Augusto obteve ganho de peso, crescimento e desenvolvimento motor que até então não apresentara. Além disso, é certo que a alergia às proteínas do leite de vaca e soja manifestada foi a responsável pela sequência de infecções e outros males que acometiam sua saúde e o obrigavam a recorrentes tratamentos com antibióticos, o que também deixou de acontecer após o inicio da alimentação especial. A demora no fornecimento da dieta causará danos irreparáveis. Apesar desta não ser a única fonte alimentar, sua falta pode causar desnutrição com efeitos sobre a saúde”.