A pressão sempre 12 por 8 chega a 15 por 9. O coração acelera e o braço parece dormente. E tudo de repente. Corrida ao médico. Será algo grave? O interesse sexual já não é o mesmo. Do nada, um ataque de asma. Sem explicação, aparece uma alergia. De uma hora para outra, dor muscular, lombalgia. Diagnóstico: nenhuma doença séria. Tudo resultado ou culpa do estresse, um vilão silencioso e perigoso.
A psiquiatra e psicanalista Sandra Maria Melo Carvalhais explica que é frequente associarmos o estresse com doenças, como se fosse sempre uma vivência nociva, patológica, com consequências negativas para a sua saúde física e/ou mental. Entretanto, ela enfatiza que ele é uma reação de defesa e adaptação frente a um agente estressor (ou situação estressante), com o objetivo de preparar o organismo para perceber a situação e reagir ao estímulo com as respostas adequadas.
“O estresse remonta aos primórdios da história do homem, necessário à sobrevivência diante dos perigos. É um mecanismo normal e benéfico, autorregulado pelo organismo, que deveria cessar quando a situação de risco é afastada.” Ela conta que situações de desafio, mesmo desejadas, estimulantes e de conotação agradável, também provocam essa reação, que prepara as pessoas para lidar com elas (emprego novo, promoções, novos relacionamentos).
Sandra conta que a expressão corporal e emocional dessa reação é mediada por substâncias que são liberadas no organismo. As duas mais importantes são a adrenalina e o cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”. “Fisiologicamente, as situações de estresse provocam aumento geral da ativação do organismo, com aumento do metabolismo, frequência respiratória, pressão arterial, aceleração cardíaca e contração muscular.” Entretanto, a médica diz que é frequente vermos que essa resposta deixa de ter esse aspecto positivo, adaptativo, e se manifesta de forma negativa (o distress). “As pessoas frequentemente se dizem estressadas. Pode ser pelo uso inadequado da palavra, aplicada para falar de cansaço, preocupações, angústia e tristeza, que são respostas corporais e emocionais compreensíveis diante das situações da vida. Mas também pode ser o ‘estresse negativo’, quando essa reação perde a capacidade de permitir a nossa adaptação aos embates da vida e passa a ser disfuncional.”
A psiquiatra destaca que a resposta ao estressor é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio. “Depende da singularidade de cada um, da forma como o indivíduo filtra e processa a informação e sua avaliação sobre as situações ou estímulos a serem considerados como relevantes, agradáveis, aterrorizantes, etc.” Sandra enfatiza que as pessoas têm reações diferentes para o mesmo estímulo. “Nem todos desenvolvem psicopatologia.” E as situações ambientais provocadoras de estresse podem ser eventos intensos, de grande carga emocional, acontecimentos diários próprios da nossa rotina habitual ou podem ser situações de tensão crônica.
Conforme Sandra, o enfrentamento do estresse não deve ser adiado. É importante refletir sobre as formas como nos posicionamos nas situações pessoais, familiares, sociais, de trabalho, de estudos e da competitividade da vida moderna. “Quando percebemos os sinais de que algo não está bem na nossa forma de reagir (leve ou grave), deveríamos ser capazes de reformular nosso estilo de vida. Mudar hábitos nem sempre é fácil e com frequência é necessário buscar o auxílio da psicoterapia e até mesmo da psiquiatria. Os sintomas orgânicos são tratados com o clínico geral. Os tratamentos devem ser complementares.” A psiquiatra lembra que o grande perigo é representado pelas “fugas”, o alívio de forma inadequada: automedicação (ansiolíticos), uso e abuso de bebida, consumo de drogas ilícitas e aumento da quantidade de cigarros. Sandra reforça ainda que é necessário “fazer exercícios físicos, para ajudar a aliviar o problema, assim como realizar atividades prazerosas e adotar uma alimentação adequada, rica em alimentos que combatam os radicais livres, como frutas e legumes”.
CHORAR É BOM O estresse afeta tanto as pessoas, que a oftalmologista Márcia Guimarães, do Hospital de Olhos de Minas Gerais, conta que as lágrimas são um veículo ótimo, essencial mesmo, para reduzir o estresse emocional em seres humanos (únicos animais que choram por razões emocionais).
“Um estudo do centro de pesquisa em lágrima e olho seco St. Paul-Ramsey Medical Center, em Minnesota, descobriu que voluntários que foram induzidos ao choro em filmes tristes produzem lágrimas com mais proteínas do que quando choram por estimulação química (cortar cebola), embora os dois tipos de lágrima tenham substâncias estressantes, como o hormônio ACTH e a leucina encefalina, que é um composto parecido com a morfina e ajuda a aliviar a dor.”
A médica destaca ainda outro estudo, da Marquette University, em Milwaukee, com 100 pacientes comprovou que “quando o ato de chorar é contido por ser considerado sinal de fraqueza, há uma incidência maior de doenças gastrointestinais por estresse, como úlceras e cólon irritável”.
Mente e corpo desconectados
O estresse é o mal do século 21. Está no dia a dia e afeta crianças, jovens, adultos e velhos. A preocupação em lidar com ele é tanta que o Centro de Saúde Geraldo de Paula Souza, da Faculdade de Saúde Púbica (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), implantou em 2011 a Clínica de Redução do Estresse, que tem como referência o Programa de Redução do Estresse Baseado na Atenção Plena. Programa similar à Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR), da Stress Reduction Clinic da University of Massachusetts, fundada em 1979.
O trabalho é coordenado pelo psicólogo da saúde e especialista em psicanálise Rubens de Aguiar Maciel, doutor pela FSP. A clínica tem como fundamento o emprego da meditação da mente alerta, cada vez mais popular no meio médico e aplicada sistematicamente em estudos como parte de tratamento clínico e psicológico.
Membro da Shambhala International Meditation Center, Rubens ressalta a importância e o valor da meditação. “Ela é o conhecimento da mente. Ajuda a eliminar o sofrimento e encontrar o bem-estar e a felicidade.” Para ele, é fundamental que pessoas inquietas, agitadas e preocupadas com a busca material a pratiquem. “Meditação é quietude, apesar de muitos a perceberem como tediosa. Ela proporciona visão clara e acalma o metabolismo hiperacelerado. O mundo hoje exige pessoas produtivas e multitarefas. Mas é bom saber que não levamos nada dessa vida, a não ser bem-estar, saúde e bons relacionamentos.”
O psicanalista conta que há mais de três décadas de pesquisa nos EUA e Europa e mais de 100 mil trabalhos de pesquisa sobre os efeitos da meditação na saúde. “A prática leva à redução de medicamentos para insônia, gastrite, pânico. O equilíbrio físico que estabelece retira o lixo e devolve a saúde. A mente agitada cria estresse e o hormônio cortisol destrói a capacidade do sistema imunológico. Temos de cuidar do nosso sistema psiconeuroimunológico.” Rubens diz que há várias práticas, mas as mais sérias são a tibetana e a zen. E afirma que nos hospitais do mundo inteiro, inclusive do Brasil – em São Paulo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro –, a meditação tem espaço considerável. “É a busca pela vida simples. O que interessa é gerar condição de felicidade para você. É o que leva à evolução.”
A psiquiatra e psicanalista Sandra Maria Melo Carvalhais explica que é frequente associarmos o estresse com doenças, como se fosse sempre uma vivência nociva, patológica, com consequências negativas para a sua saúde física e/ou mental. Entretanto, ela enfatiza que ele é uma reação de defesa e adaptação frente a um agente estressor (ou situação estressante), com o objetivo de preparar o organismo para perceber a situação e reagir ao estímulo com as respostas adequadas.
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Sandra conta que a expressão corporal e emocional dessa reação é mediada por substâncias que são liberadas no organismo. As duas mais importantes são a adrenalina e o cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”. “Fisiologicamente, as situações de estresse provocam aumento geral da ativação do organismo, com aumento do metabolismo, frequência respiratória, pressão arterial, aceleração cardíaca e contração muscular.” Entretanto, a médica diz que é frequente vermos que essa resposta deixa de ter esse aspecto positivo, adaptativo, e se manifesta de forma negativa (o distress). “As pessoas frequentemente se dizem estressadas. Pode ser pelo uso inadequado da palavra, aplicada para falar de cansaço, preocupações, angústia e tristeza, que são respostas corporais e emocionais compreensíveis diante das situações da vida. Mas também pode ser o ‘estresse negativo’, quando essa reação perde a capacidade de permitir a nossa adaptação aos embates da vida e passa a ser disfuncional.”
A psiquiatra destaca que a resposta ao estressor é resultado da interação entre as características da pessoa e as demandas do meio. “Depende da singularidade de cada um, da forma como o indivíduo filtra e processa a informação e sua avaliação sobre as situações ou estímulos a serem considerados como relevantes, agradáveis, aterrorizantes, etc.” Sandra enfatiza que as pessoas têm reações diferentes para o mesmo estímulo. “Nem todos desenvolvem psicopatologia.” E as situações ambientais provocadoras de estresse podem ser eventos intensos, de grande carga emocional, acontecimentos diários próprios da nossa rotina habitual ou podem ser situações de tensão crônica.
Conforme Sandra, o enfrentamento do estresse não deve ser adiado. É importante refletir sobre as formas como nos posicionamos nas situações pessoais, familiares, sociais, de trabalho, de estudos e da competitividade da vida moderna. “Quando percebemos os sinais de que algo não está bem na nossa forma de reagir (leve ou grave), deveríamos ser capazes de reformular nosso estilo de vida. Mudar hábitos nem sempre é fácil e com frequência é necessário buscar o auxílio da psicoterapia e até mesmo da psiquiatria. Os sintomas orgânicos são tratados com o clínico geral. Os tratamentos devem ser complementares.” A psiquiatra lembra que o grande perigo é representado pelas “fugas”, o alívio de forma inadequada: automedicação (ansiolíticos), uso e abuso de bebida, consumo de drogas ilícitas e aumento da quantidade de cigarros. Sandra reforça ainda que é necessário “fazer exercícios físicos, para ajudar a aliviar o problema, assim como realizar atividades prazerosas e adotar uma alimentação adequada, rica em alimentos que combatam os radicais livres, como frutas e legumes”.
CHORAR É BOM O estresse afeta tanto as pessoas, que a oftalmologista Márcia Guimarães, do Hospital de Olhos de Minas Gerais, conta que as lágrimas são um veículo ótimo, essencial mesmo, para reduzir o estresse emocional em seres humanos (únicos animais que choram por razões emocionais).
“Um estudo do centro de pesquisa em lágrima e olho seco St. Paul-Ramsey Medical Center, em Minnesota, descobriu que voluntários que foram induzidos ao choro em filmes tristes produzem lágrimas com mais proteínas do que quando choram por estimulação química (cortar cebola), embora os dois tipos de lágrima tenham substâncias estressantes, como o hormônio ACTH e a leucina encefalina, que é um composto parecido com a morfina e ajuda a aliviar a dor.”
A médica destaca ainda outro estudo, da Marquette University, em Milwaukee, com 100 pacientes comprovou que “quando o ato de chorar é contido por ser considerado sinal de fraqueza, há uma incidência maior de doenças gastrointestinais por estresse, como úlceras e cólon irritável”.
Mente e corpo desconectados
O estresse é o mal do século 21. Está no dia a dia e afeta crianças, jovens, adultos e velhos. A preocupação em lidar com ele é tanta que o Centro de Saúde Geraldo de Paula Souza, da Faculdade de Saúde Púbica (FSP) da Universidade de São Paulo (USP), implantou em 2011 a Clínica de Redução do Estresse, que tem como referência o Programa de Redução do Estresse Baseado na Atenção Plena. Programa similar à Mindfulness Based Stress Reduction (MBSR), da Stress Reduction Clinic da University of Massachusetts, fundada em 1979.
O trabalho é coordenado pelo psicólogo da saúde e especialista em psicanálise Rubens de Aguiar Maciel, doutor pela FSP. A clínica tem como fundamento o emprego da meditação da mente alerta, cada vez mais popular no meio médico e aplicada sistematicamente em estudos como parte de tratamento clínico e psicológico.
Membro da Shambhala International Meditation Center, Rubens ressalta a importância e o valor da meditação. “Ela é o conhecimento da mente. Ajuda a eliminar o sofrimento e encontrar o bem-estar e a felicidade.” Para ele, é fundamental que pessoas inquietas, agitadas e preocupadas com a busca material a pratiquem. “Meditação é quietude, apesar de muitos a perceberem como tediosa. Ela proporciona visão clara e acalma o metabolismo hiperacelerado. O mundo hoje exige pessoas produtivas e multitarefas. Mas é bom saber que não levamos nada dessa vida, a não ser bem-estar, saúde e bons relacionamentos.”
O psicanalista conta que há mais de três décadas de pesquisa nos EUA e Europa e mais de 100 mil trabalhos de pesquisa sobre os efeitos da meditação na saúde. “A prática leva à redução de medicamentos para insônia, gastrite, pânico. O equilíbrio físico que estabelece retira o lixo e devolve a saúde. A mente agitada cria estresse e o hormônio cortisol destrói a capacidade do sistema imunológico. Temos de cuidar do nosso sistema psiconeuroimunológico.” Rubens diz que há várias práticas, mas as mais sérias são a tibetana e a zen. E afirma que nos hospitais do mundo inteiro, inclusive do Brasil – em São Paulo, Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro –, a meditação tem espaço considerável. “É a busca pela vida simples. O que interessa é gerar condição de felicidade para você. É o que leva à evolução.”