Na moda, plus size é quem veste manequim acima do 44. Quem usa abaixo do 38, está, em tese, dentro do padrão de beleza estabelecido socialmente nos dias de hoje. As mulheres que estão entre o 38 e 44, estariam, então, num limbo. Só que não é bem assim. Que o diga a belíssima australiana Robyn Lawley. Em todo editorial em que a imagem da modelo aparece associada ao plus size não é raro as pessoas se indignarem e concluírem ‘ela não está acima do peso’. “Em produção de moda, se a modelo está beirando o manequim 40 é comum querer associá-la ao plus size. É um retrocesso, como se quisessem impor a magreza até nesse segmento. Mas nós defendemos a diversidade. Do meu ponto de vista, moda é moda e não deveria sequer existir essa divisão. O setor plus size surgiu para atingir quem não se sentia contemplada, mas isso não acontece na prática”. Quem está dizendo é a Miss Brasil Plus Size Sênior de 2014, Silvia Neves. Ela está entre as principais tops dessa área no país e é uma das autoras do blog DasPlus, em parceria com a também modelo Rafa Coelho.
A mineira Silvia Neves tem 1,75m, 85 quilos e 40 anos. Ela sempre quis ser modelo, mas era reprovada na balança. “Eu nunca consegui, chegava nas agências, me achavam bonita e diziam que eu precisava emagrecer muito para atingir as medidas do mercado. Fiz muitas dietas sem sucesso. Para o meu tipo físico, teria que me submeter a restrições irreais, que beiravam à loucura”, recorda-se. O sonho adormeceu, a vida continuou e Silvia se tornou uma servidora pública. Nesse meio tempo, lia sobre o mercado de moda plus size nos Estados Unidos, Europa e pensava: “isso vai custar a chegar ao Brasil”.
A virada aconteceu em 2009 quando assistiu a uma entrevista da brasileira Fluvia Lacerda, que vive no país presidido por Barack Obama. “Resolvi pesquisar e cheguei à organizadora do Fashion Weekend Plus Size”, conta. No ano seguinte, ela pisou pela primeira vez na passarela do evento e a carreira deslanchou. Em 2013, abandonou o emprego de vez. Silvia Neves também é cantora lírica e já atuou com o Coral Lírico de Minas Gerais nas óperas La Taviata e Nabuco, ambas de Giuseppe Verdi, e participa do Coro Madrigale. A modelo alerta, no entanto, que, só consegue viver de moda porque é uma das plus size mais conhecidas do mercado brasileiro: “Além de as oportunidades serem poucas, o mercado está saturado”.
Para se ter uma ideia de como o setor é restrito, as marcas mineiras plus size ainda fazem catálogos de roupas para mulheres acima do peso usando as imagens de modelos magras. E você não leu errado. É como se uma grávida tivesse que escolher um vestido de uma grife que fabrica roupas para gestantes olhando fotos de mulheres sem o barrigão. “É uma barreira. Estamos falando de roupas para quem está acima do peso, mas a imagem não representa a realidade. Como a pessoa vai se ver naquela peça?”, questiona Silvia Neves.
“A maioria dos produtores de moda abomina quem está acima do peso. Ontem mesmo participei de um desfile em que eu era a única plus size e recebi olhares tortos de quem se perguntava ‘mas isso é modelo?’. Do meu ponto de vista, é um erro de estratégia de marketing. As marcas plus size só querem o nosso dinheiro, mas não querem nos representar?”, pergunta. Quem trabalha para esse público está reivindicando essa mudança de posição. Segundo Silvia, muitas blogueiras influentes do universo plus size recomendam às mulheres acima do peso não comprarem roupas de marcas que não representam quem foge ao padrão da magreza.
A modelo afirma, no entanto, que em outros estados brasileiros a realidade é diferente. “A concepção de plus size fora de Minas é muito forte. Parece aquela coisa de mineiro que não se abre para as novidades do mercado, que tem medo de arriscar”, pondera. Fora do Brasil, Silvia Neves diz que a discussão está muito mais avançada e cita exemplos. “A Elle francesa já deu três capas com modelos plus size. A Vogue italiana também e tantas outras revistas na Europa. Aqui, ainda é raro acontecer. Se acontece, é capa de revista de moldes de roupas”, revela.
Silvia Neves cita um caso curioso em que uma renomada revista brasileira fez uma matéria com ela e sua companheira de blog, Rafa Coelho. “Fizemos uma sessão fotográfica às pressas e não colocaram nenhuma foto nossa”, narra. Adivinha quem entrou no lugar? A australiana Robyn Lawley citada lá no início desta matéria. “No Brasil, até se fala sobre moda plus size, mas as publicações não encaram esse nicho profissionalmente ou como esteticamente bonito”, afirma.
O recado da Miss que neste sábado, 23 de agosto, desfila por seis marcas no Fashion Weekend Plus Size que será realizado no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, é simples e direto: “Toda mulher pode se sentir bonita. Não defendemos a obesidade, que é uma doença, queremos um padrão mais harmônico com a diversidade de corpos”.
A mineira Silvia Neves tem 1,75m, 85 quilos e 40 anos. Ela sempre quis ser modelo, mas era reprovada na balança. “Eu nunca consegui, chegava nas agências, me achavam bonita e diziam que eu precisava emagrecer muito para atingir as medidas do mercado. Fiz muitas dietas sem sucesso. Para o meu tipo físico, teria que me submeter a restrições irreais, que beiravam à loucura”, recorda-se. O sonho adormeceu, a vida continuou e Silvia se tornou uma servidora pública. Nesse meio tempo, lia sobre o mercado de moda plus size nos Estados Unidos, Europa e pensava: “isso vai custar a chegar ao Brasil”.
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Para se ter uma ideia de como o setor é restrito, as marcas mineiras plus size ainda fazem catálogos de roupas para mulheres acima do peso usando as imagens de modelos magras. E você não leu errado. É como se uma grávida tivesse que escolher um vestido de uma grife que fabrica roupas para gestantes olhando fotos de mulheres sem o barrigão. “É uma barreira. Estamos falando de roupas para quem está acima do peso, mas a imagem não representa a realidade. Como a pessoa vai se ver naquela peça?”, questiona Silvia Neves.
“A maioria dos produtores de moda abomina quem está acima do peso. Ontem mesmo participei de um desfile em que eu era a única plus size e recebi olhares tortos de quem se perguntava ‘mas isso é modelo?’. Do meu ponto de vista, é um erro de estratégia de marketing. As marcas plus size só querem o nosso dinheiro, mas não querem nos representar?”, pergunta. Quem trabalha para esse público está reivindicando essa mudança de posição. Segundo Silvia, muitas blogueiras influentes do universo plus size recomendam às mulheres acima do peso não comprarem roupas de marcas que não representam quem foge ao padrão da magreza.
A modelo afirma, no entanto, que em outros estados brasileiros a realidade é diferente. “A concepção de plus size fora de Minas é muito forte. Parece aquela coisa de mineiro que não se abre para as novidades do mercado, que tem medo de arriscar”, pondera. Fora do Brasil, Silvia Neves diz que a discussão está muito mais avançada e cita exemplos. “A Elle francesa já deu três capas com modelos plus size. A Vogue italiana também e tantas outras revistas na Europa. Aqui, ainda é raro acontecer. Se acontece, é capa de revista de moldes de roupas”, revela.
Silvia Neves cita um caso curioso em que uma renomada revista brasileira fez uma matéria com ela e sua companheira de blog, Rafa Coelho. “Fizemos uma sessão fotográfica às pressas e não colocaram nenhuma foto nossa”, narra. Adivinha quem entrou no lugar? A australiana Robyn Lawley citada lá no início desta matéria. “No Brasil, até se fala sobre moda plus size, mas as publicações não encaram esse nicho profissionalmente ou como esteticamente bonito”, afirma.
O recado da Miss que neste sábado, 23 de agosto, desfila por seis marcas no Fashion Weekend Plus Size que será realizado no Centro de Convenções Frei Caneca, em São Paulo, é simples e direto: “Toda mulher pode se sentir bonita. Não defendemos a obesidade, que é uma doença, queremos um padrão mais harmônico com a diversidade de corpos”.