Desde tempos remotos, era comum que as pessoas não só cultivassem as mensagens dos sonhos, como os tomassem como guias e referências na condução das várias áreas da vida. Havia, inclusive, centros de cura da Grécia Antiga em que toda a terapêutica era baseada nessa linguagem irracional. Segundo o especialista, também formado na Suíça, todas as pessoas sonham, e todas as noites. A questão é: por que nem sempre lembramos? “Uma possibilidade é o fato de não termos o hábito de cultivar a lembrança. O modo de vida da atualidade favorece a extroversão e toda a energia psíquica é direcionada para o mundo externo. Prestar atenção em um sonho, por outro lado, é um movimento inverso, que requer introspeção e reflexão”, defende o psicanalista, segundo o qual a real natureza dos sonhos permanece um mistério. "Tentamos compreendê-los pelos efeitos que têm sobre nós. Assim como não sabemos muito bem qual é a natureza da luz ou mesmo do amor, embora possamos sentir seus efeitos", explica.
O sonho tem uma linguagem que muitas vezes contraria a linguagem da consciência do indivíduo, que é aquilo que ele está acostumado a ver. “Podem ser imagens moralmente inaceitáveis. Certo é que há algo em nós que produz essas imagens, símbolos que não estão, necessariamente, em nossa vida consciente, embora seja algo que nos pertence. Santo Agostinho já dizia que, graças a Deus, ele não era responsável por seus sonhos”, conta. Mas é importante lembrar deles. Inácio sugere que as pessoas anotem, mantenham um diário de sonhos para poder consultar de tempos em tempos. A compreensão de um sonho nem sempre é imediata, mas há sempre um sentido que o permeia e que eventualmente pode se revelar. descortinar. “O inconsciente é uma fonte inesgotável de criatividade que jorra pérolas para nossa condição humana todas as noites sob a forma de sonhos. Entretanto, se essa informação não for acolhida adequadamente, retorna ao inconsciente sob a forma de esquecimento, e de modo muito rápido”, explica.
INCONSCIENTE
Já o inconsciente pessoal, como proposto por Freud no início do movimento psicanalítico, a compreensão era de que essa instância psíquica era apenas um depositário de material rejeitado ou reprimido. Segundo a psicóloga e psicanalista junguiana Andrea Fiúza Hunt, a ideia anterior à descoberta de Jung era a de que nascíamos sem nada e com o passar da vida criaríamos nossa história. Algumas coisas eram mantidas no plano de frente, no consciente; outras eram reprimidas, colocadas no inconsciente, por serem traumáticas, ou porque se esquecia. Era desse lugar que viriam os sonhos. Foi com Jung que os sonhos passaram a ser percebidos como algo muito além do que apenas a manifestação de desejos reprimidos.
A observação dessas mensagens era o que Jung, e hoje os analistas que trabalham em sua perspectiva, usava para observar como o inconsciente agiam sobre nossa vida diária. “Tratam-se de instrumentos fundamentais para compreender como o homem age. Os sonhos são parte de um arsenal de conhecimento à disposição de cada indivíduo e, quando surgem, comentam sobre sua atividade. É por isso que, anotado, o sonho pode nos ajudar.” Segundo Inácio, é importante refletir, ponderar e sobretudo tentar explicar seu significado. Ao lidar com os sonhos nas sessões analíticas, o importante é a relação e a percepção do paciente com as associações que fez daquela imagem.
Já os pesadelos são, por definição, sonhos ruins que causam um impacto negativo muito forte. Segundo Inácio, o inconsciente está muito interessado que a pessoa preste atenção naquela imagem e por isso ela vem com uma carga emotiva muito intensa. “Ao invés de simplesmente descartar as dificuldades emocional e psíquica, ou investir em demasia na busca de sua causa, à vezes é mais importante tentar entender a finalidade delas, pois, possivelmente, esse descompasso é motivado por alguma intenção alojada no inconsciente que clama por fazer do indivíduo um ser mais inteiro”, explica o psicanalista.