

Para calcular o efeito do sódio sobre a saúde global, os pesquisadores compararam informações de mais de 200 estudos sobre consumo com dados de causas de morte registradas entre 1980 e 2010 no mundo de acordo com idade, etnia e gênero. O levantamento mostrou que a cada 10 mortes associadas a causas cardiovasculares, uma ocorreu devido ao exagero de sal na alimentação.
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Maus hábitos
Mais de 99% da população mundial exagera no sal, de acordo com o trabalho. Os níveis variam de 2,18g diários de sódio, registrados na África Subsaariana, a 5,51g, na Ásia Central. Dos 187 países estudados, 119 excedem o limite sugerido pela OMS em mais de 1g por dia. O estudo também encontra evidências de que o consumo mais moderado ajuda a combater a hipertensão. As populações com pressão mais baixa são aquelas em que o consumo diário fica entre 614mg e 2.391mg de sal.
O sódio é encontrado naturalmente em diversos tipos de alimentos, mas está presente, principalmente, em comidas industrializadas e processadas. De acordo com dados da OMS, uma porção de carne enlatada tem 20 vezes a quantidade de sal contida no alimento em estado natural. Grãos in natura têm 35 vezes menos sódio do que flocos produzidos a partir deles, e amendoins ganham 400 vezes mais sal quando tostados e conservados para consumo.
“Estamos comendo mais alimentos processados do que naturais ao longo do dia. Até o leite passa por um processamento, o que leva à adição de sódio”, alerta Virginia Nascimento, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição (Asbran). Os efeitos nocivos também podem ser compensados com o consumo de potássio, elemento presente em leguminosas, frutas e vegetais, como feijão, ervilhas e bananas. No entanto, o valor nutricional dessas comidas só é completo quando elas são consumidas ainda frescas, sem sal ou molhos. “Tem quem não consiga comer uma salada sem sal, e daqui a pouco a salada vai ser uma vilã”, ressalta a especialista.
Consumo nacional
No Brasil, o Ministério da Saúde anunciou na terça-feira uma redução de 1,2 mil toneladas de sódio em pães industrializados e macarrões instantâneos. A previsão é de que, até 2020, mais de 28 mil toneladas da substância estejam fora das prateleiras como resultado de quatro termos de compromisso firmados entre Ministério da Saúde e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação (Abia). O limite estabelecido para massas instantâneas, já em 2012, foi de 1,9g a cada porção de 100g. Agora, em 2014, pães de forma devem ter até 522mg, e as bisnaguinhas, 430mg.
Carlos Alberto Machado, diretor da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), acredita que os limites impostos à indústria alimentícia deveriam ser mais severos. “Esse acordo é pífio. Em vez de pactuar pela média dos produtos, ele pactua pelo teto”, critica o médico, que participou ativamente das negociações entre a Abia, o Ministério da Saúde e o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). Uma em cada 10 marcas de comidas industrializadas testadas pelo Idec não cumpriram as metas determinadas em 2011, e muitas continham mais sódio do que o informado na embalagem — a legislação sanitária permite uma variação de 20% com relação aos valores declarados.
“Isso é muito sério. Não dá para apenas melhorar o rótulo, porque a população não tem hábito de lê-lo. Tinha de vir um alerta de que o alimento é rico em sal e que aumenta o risco de hipertensão e de doença cardiovascular”, defende Machado. Uma resolução publicada pela Anvisa em 2010 restringia a publicidade de alimentos com quantidades elevadas de açúcar, gordura e sódio, e determinava que esses produtos deveriam exibir um alerta aos consumidores sobre os riscos que representam para a saúde. De acordo com a norma, todo alimento que contivesse mais de 400mg de sódio a cada porção de 100g deveria ter o aviso em sua embalagem. A resolução, no entanto, foi contestada e derrubada na Justiça pela Abia.