Durante o tratamento de pacientes que sofreram trombose arterial, há uma preocupação em torno do risco de sangramento. Remédios prescritos na terapia podem afetar as plaquetas, células do sangue responsáveis pela cicatrização, provocando a complicação. Buscando soluções para esse transtorno, cientistas de uma instituição norte-americana desenvolveram uma droga que evita as hemorragias e reduz consideravelmente as chances de problemas causados pelo infarto do miocárdio, consequência da trombose arterial. A droga foi testada com sucesso em animais pequenos e pode, no futuro, ser utilizada em humanos.
“Analisamos os pacientes em tratamento do infarto agudo do miocárdio que foram submetidos à restauração do fluxo de sangue das artérias bloqueadas com o padrão atual de tratamento. Mas esse procedimento não impediu completamente que a trombose fosse recorrente nem ofereceu proteção satisfatória contra lesões cardíacas. Os fármacos antiplaquetários usuais também aumentaram o risco de hemorragia”, destaca, no trabalho, Douglas Moeckel, do Centro de Pesquisa Cardiovascular de Washington e um dos autores do estudo publicado na revista científica Science Translational Medicine.
Em busca de um efeito mais completo no sistema circulatório, a equipe criou a enzima APT102, desenvolvida com base em uma célula encontrada em mosquitos que possibilita aos insetos sugar o sangue sem gerar acúmulo de plaquetas. Os testes foram feitos com cachorros e ratos e apresentaram um resultado positivo. “O tratamento nos animais com lesões simuladas diminuiu significativamente o tamanho do infarto em 81%, sem aumentar o sangramento”, destacou Moeckel.
“A APT102 atua sem afetar plaquetas. Assim, elas seguem totalmente funcionais e capazes de formar coágulos fisiológicos para parar a hemorragia. Além disso, diminuem a perda vascular”, complementa, em entrevista ao Correio, Ridong Chen, também autor do trabalho e chefe executivo da empresa farmacêutica APT Therapeutics.
Para comparar os efeitos da nova enzima com os de remédios utilizados no tratamento padrão, os pesquisadores testaram a APT102 com a clopidogrel — droga que inibe a agregação plaquetária muito utilizada contra o infarto do miocárdio. Os resultados da combinação, porém, não foram tão satisfatórios. “Cães que receberam clopidogrel apresentaram hematomas frequentes em locais de cirurgia até o fim das infusões, além de apresentarem sangramentos”, destaca Moeckel.
Recuperação agilizada
A capacidade de um medicamento agir eliminando o trombo arterial formado e evitando sangramentos é uma conquista valiosa na área cardiológica, pois contribui para que pacientes que sofreram com infarto do miocárdio se recuperem com mais agilidade, explica Alberto Fonseca, cardiologista intervencionista do Hospital do Coração do Brasil. “Quando temos o trombo na artéria, é necessário obstruí-lo o mais rápido possível para não causar sequelas. Ao injetar os medicamentos, substâncias tóxicas que estavam acumuladas na região se dissolvem e podem entupir a circulação. Com medicamentos mais completos, essa intervenção pode ser feita de forma mais eficaz”, explica.
Fonseca ressalta, porém, que é preciso aprofundar os estudos com a nova enzima até se chegar a uma aplicação clínica “O que foi feito por esses pesquisadores foram exames pré-clínicos com animais de pequeno porte. Precisamos desses mesmos dados em humanos”, frisa. O especialista estima que, caso o desempenho fosse repetido, seria possível reduzir em 80% os danos causados por um infarto. “Isso impediria severamente as chances de um novo infarto, além de outros problemas cardíacos gerados por essa intervenção”, complementa.
Para Cyrillo Cavalheiro Filho, hemoterapeuta e chefe do Laboratório de Hemostasia do Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, o trabalho dos cientistas de Washington segue uma tendência de estudos da área circulatória em busca de drogas mais completas para tratamentos envolvendo o sistema sanguíneo. “Uma redução de 80% é alta e pode ser de grande importância no futuro. É difícil sabermos se um estudo com animais pode evoluir com os mesmos resultados a humanos, mas trata-se de algo animador. Já temos outras drogas além do clopidogrel que estão ficando mais completas, mas, quanto mais eficaz esse medicamento se tornar, melhor para a área médica”, comemora.
Os autores acreditam que a nova droga poderá, inclusive, ser prescrita contra outros problemas de saúde. “Nós publicamos um artigo em 2009 mostrando que a APT102 impediu a hemorragia induzida pela inflamação associada à lesão pulmonar aguda, que gera um edema pulmonar. Vamos dar continuidade ao trabalho e esperamos formar uma parceria com outras empresas para realizar ensaios clínicos em humanos”, destaca Chen.
Fonseca acredita que pode ser possível estender a aplicação do medicamento, já que o mecanismo de eliminação de outros tipos de trombo é semelhante. “Cada trombose precisa de um cuidado necessário. No coração, ela gera infarto; na cabeça, pode provocar AVC; nas pernas, causa a trombose venosa. A função do medicamento seria a mesma, mas outros pontos devem ser levados em conta.”
Segundo Cyrillo Filho, outros institutos de pesquisa internacionais também buscam medicamentos que possam melhorar o tratamento dos diferentes tipos de trombose. “Temos drogas, principalmente relacionadas a trombose venosa profunda, que têm sido desenvolvidas por grandes laboratórios e que e bem aceitas pela comunidade médica. Hoje, nos EUA, há pacientes sendo tratados com um tipo de xarope que tem sido eficaz”, completa.
“Analisamos os pacientes em tratamento do infarto agudo do miocárdio que foram submetidos à restauração do fluxo de sangue das artérias bloqueadas com o padrão atual de tratamento. Mas esse procedimento não impediu completamente que a trombose fosse recorrente nem ofereceu proteção satisfatória contra lesões cardíacas. Os fármacos antiplaquetários usuais também aumentaram o risco de hemorragia”, destaca, no trabalho, Douglas Moeckel, do Centro de Pesquisa Cardiovascular de Washington e um dos autores do estudo publicado na revista científica Science Translational Medicine.
Em busca de um efeito mais completo no sistema circulatório, a equipe criou a enzima APT102, desenvolvida com base em uma célula encontrada em mosquitos que possibilita aos insetos sugar o sangue sem gerar acúmulo de plaquetas. Os testes foram feitos com cachorros e ratos e apresentaram um resultado positivo. “O tratamento nos animais com lesões simuladas diminuiu significativamente o tamanho do infarto em 81%, sem aumentar o sangramento”, destacou Moeckel.
“A APT102 atua sem afetar plaquetas. Assim, elas seguem totalmente funcionais e capazes de formar coágulos fisiológicos para parar a hemorragia. Além disso, diminuem a perda vascular”, complementa, em entrevista ao Correio, Ridong Chen, também autor do trabalho e chefe executivo da empresa farmacêutica APT Therapeutics.
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Recuperação agilizada
A capacidade de um medicamento agir eliminando o trombo arterial formado e evitando sangramentos é uma conquista valiosa na área cardiológica, pois contribui para que pacientes que sofreram com infarto do miocárdio se recuperem com mais agilidade, explica Alberto Fonseca, cardiologista intervencionista do Hospital do Coração do Brasil. “Quando temos o trombo na artéria, é necessário obstruí-lo o mais rápido possível para não causar sequelas. Ao injetar os medicamentos, substâncias tóxicas que estavam acumuladas na região se dissolvem e podem entupir a circulação. Com medicamentos mais completos, essa intervenção pode ser feita de forma mais eficaz”, explica.
Fonseca ressalta, porém, que é preciso aprofundar os estudos com a nova enzima até se chegar a uma aplicação clínica “O que foi feito por esses pesquisadores foram exames pré-clínicos com animais de pequeno porte. Precisamos desses mesmos dados em humanos”, frisa. O especialista estima que, caso o desempenho fosse repetido, seria possível reduzir em 80% os danos causados por um infarto. “Isso impediria severamente as chances de um novo infarto, além de outros problemas cardíacos gerados por essa intervenção”, complementa.
Para Cyrillo Cavalheiro Filho, hemoterapeuta e chefe do Laboratório de Hemostasia do Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, o trabalho dos cientistas de Washington segue uma tendência de estudos da área circulatória em busca de drogas mais completas para tratamentos envolvendo o sistema sanguíneo. “Uma redução de 80% é alta e pode ser de grande importância no futuro. É difícil sabermos se um estudo com animais pode evoluir com os mesmos resultados a humanos, mas trata-se de algo animador. Já temos outras drogas além do clopidogrel que estão ficando mais completas, mas, quanto mais eficaz esse medicamento se tornar, melhor para a área médica”, comemora.
Os autores acreditam que a nova droga poderá, inclusive, ser prescrita contra outros problemas de saúde. “Nós publicamos um artigo em 2009 mostrando que a APT102 impediu a hemorragia induzida pela inflamação associada à lesão pulmonar aguda, que gera um edema pulmonar. Vamos dar continuidade ao trabalho e esperamos formar uma parceria com outras empresas para realizar ensaios clínicos em humanos”, destaca Chen.
Fonseca acredita que pode ser possível estender a aplicação do medicamento, já que o mecanismo de eliminação de outros tipos de trombo é semelhante. “Cada trombose precisa de um cuidado necessário. No coração, ela gera infarto; na cabeça, pode provocar AVC; nas pernas, causa a trombose venosa. A função do medicamento seria a mesma, mas outros pontos devem ser levados em conta.”
Segundo Cyrillo Filho, outros institutos de pesquisa internacionais também buscam medicamentos que possam melhorar o tratamento dos diferentes tipos de trombose. “Temos drogas, principalmente relacionadas a trombose venosa profunda, que têm sido desenvolvidas por grandes laboratórios e que e bem aceitas pela comunidade médica. Hoje, nos EUA, há pacientes sendo tratados com um tipo de xarope que tem sido eficaz”, completa.
"O tratamento nos animais com lesões simuladas diminuiu significativamente o tamanho do infarto em 81%, sem aumentar o sangramento”
Douglas Moeckel, do Centro de Pesquisa Cardiovascular de Washington
Douglas Moeckel, do Centro de Pesquisa Cardiovascular de Washington