O senso comum diz que pagar uma mensalidade para o fiel companheiro é um exagero. Diretora e sócia de um plano de saúde oferecido em Brasília, Luciana Badaró apresenta argumentos para mudar essa mentalidade. “Muitas vezes, a pessoa não teria condições de arcar com o tratamento de uma doença mais grave. É uma forma de cuidar da melhor maneira possível e não ser pego desprevinido”, avalia. Ela prevê que esse tipo de serviço é um tendência sem volta. “É mais comum na Europa e nos Estados Unidos, e está se expandindo cada vez mais. Os animais ficam dentro de casa e são muito bem-cuidados.”
Os pacotes mais básicos custam por volta de R$ 40 mensais e, geralmente, incluem consultas, exames e vacinas. Plano completos, que podem chegar a R$ 350 por mês, são aqueles que contam com serviços como acupuntura e fisioterapia. A idade e o porte são fatores que fazem os preços variar. Para não ter gastos extras, é importante escolher a modalidade que melhor se adeque às condições do animal e estar atento ao período de carência. Se houver necessidade de fazer procedimentos fora da rede credenciada, algumas empresas cobrem o valor gasto, mas nem sempre na totalidade. Há também a possibilidade de descontos em outros serviços, como diárias em hotéis e produtos de pet shop.
A servidora pública Eliene Vieira, 39 anos, resolveu aderir a um plano após a recomendação da veterinária de seus três cachorros. Eles surgiram de forma inesperada na vida da dona e trouxeram, além da companhia alegre, alguns custos inesperados. Tudo começou nas férias de 2007, quando as crianças tomavam a rua em frente à casa de Eliene e brincavam com uma cadela que ficava por ali. Mas, quando anoitecia e os pequenos entravam nos lares, a cachorra continuava do lado de fora “com aquela cara de cachorro abandonado”. Eliene se apiedou e começou a alimentá-la, mas decidiu cuidar definitivamente dela após um acidente.
“Eu fui caminhar e ela foi me seguindo, mas foi atropelada. Eu entrei em desespero, ela me olhava como se pedisse ajuda”, conta. Com o orçamento apertado por estar com a casa em construção, Eliene conseguiu oferecer os primeiros socorros, mas não a cirurgia ortopédica. A cadela conseguiu se recuperar bem, apesar de perder os movimentos de uma das patas. Hoje, a dona se preocupa menos, pois tem as necessidades básicas de saúde garantidas para Tchuca e os dois filhotes dela, que vieram alguns anos depois, Ralf e Kadu. O segundo foi diagnosticado com epilepsia em dezembro do ano passado e tem um plano que inclui internações. Antes de aderir ao plano, o tratamento de uma das crises chegou a R$ 850.
O veterinário Marco Aurelio Gomes é um dos que resolveu oferecer a possibilidade pagamentos mensais aos clientes. Ele acredita que a opção proporcionou um acompanhamento mais próximo dos pets que ele já atendia habitualmente. “O dono leva o animal mais vezes a consultas porque não está preocupado com os custos de cada visita”, pondera. O veterinário dá algumas dicas para ter mais segurança de contratar um atendimento qualificado. A primeira é checar se a administradora do plano de saúde tem registro no Conselho Regional de Medicina Veterinária, condição obrigatória para as empresas do setor. Também vale conferir se as clínicas oferecidas estão realmente credenciadas no plano.
A advogada Cátia de Paula considerou vantajoso o convênio com o veterinário Pérsio Montibello, para quem leva os animais de estimação há 20 anos. “Eu gosto muito e me sinto mais segura. Como costumo viajar, deixo o telefone para avisarem à clínica e tenho a confiança de saber que eles vêm buscar as cadelas na minha casa se elas se sentirem mal.” Ela fala de Felícia e Isabele, da raça yorkshire, consideradas as “caçulas” da família, que conta com dois filhos humanos, já adultos. As mascotes têm 9 anos e tudo indica que vão longe. Antes das duas, a advogada teve a yorkshire Pamela, que viveu até os 16 anos.
Montibello afirma que uma das maiores vantagens de ter adotado as mensalidades foi poupar as discussões sobre preço. “Não tem o estresse de se preocupar com pagamento na hora em que o animal mais precisa de atendimento e incentiva uma rotina de tratamento preventivo”, afirma. O serviço dá direito a todos os tratamentos da clínica, mas ele não aceita pessoas que desobedeçam às orientações veterinárias ou não tratem bem do animal. Com bom humor, o veterinário critica: “Às vezes, o cachorro tem um problema crônico chamado dono.” No fim das contas, o melhor “plano de saúde” é sempre carinho e atenção com o animal.
"A vantagem é que não tem o estresse de se preocupar com pagamento na hora em que o animal mais precisa de atendimento e incentiva uma rotina de tratamento preventivo." - Pérsio Montibello, veterinário