Epidemia de Ebola abre alerta para outras doenças infecciosas que se espalham

Maior preocupação de BH é a febre chikungunya, também transmitida pelo Aedes aegypti

por Carolina Cotta 10/08/2014 09:00

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(foto: Artes EM)

A classificação da epidemia de ebola no oeste africano como emergência pública sanitária internacional preocupou ainda mais a população mundial. Na sexta-feira, a Organização Mundial de Saúde (OMS) determinou que os países afetados – Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria (nesse último, os casos ainda não foram confirmados) – adotem, entre outras medidas, exames para detectar o vírus em aeroportos, portos e postos de fronteira em todas as pessoas que apresentarem febre e outros sintomas semelhantes aos do ebola. Mas outras doenças infectocontagiosas, caso da malária e da febre chikungunya, são mais preocupantes para os mineiros e brasileiros.

A malária, por exemplo, só em Belo Horizonte, tem média de 300 casos suspeitos por ano, e entre 50 e 60 confirmados. Segundo Argus Leão Araújo, infectologista do Serviço de Atenção à Saude do Viajante da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, trata-se de uma doença de fácil diagnóstico, potencialmente sequelante e com grande risco de óbito se não tratada. “Todos os anos, temos casos de malária na capital mineira, todos eles ‘importados’, trazidos por pessoas originárias de áreas de risco, caso da Amazônia legal brasileira e África”, explica.

Já a febre chikungunya é uma doença de origem africana que até pouco tempo estava restrita a África e Sudeste Asiático, mas que em dezembro de 2013 foi levada para o Caribe, onde já é uma epidemia, com 300 mil casos confirmados. Provavelmente, chegou com alguém doente, que tinha o vírus circulando no sangue e foi picado por um mosquito como o Aedes aegypti, o mesmo que transmite a dengue. “Como no Brasil, e principalmente em Minas Gerais, tem muito Aedes aegypti, a introdução dessa doença aqui talvez seja nossa maior preocupação agora. Se entrar em nossa região, há grandes riscos de disseminação. É uma doença difícil de controlar”, alerta o especialista, segundo o qual outros estados brasileiros já têm casos.

O intenso trânsito internacional propicia um maior risco para disseminação dessas e de outras doenças infecciosas, endêmicas ou epidêmicas, que por isso ganham atenção nos serviços de medicina do viajante. No caso do ebola, que tem sua maior epidemia desde que foi descrito, em 1976, o Ministério da Saúde criou um protocolo e orientou cada cidade, em função de sua realidade, a fazer planos de contigência para tentar impedir a chegada do vírus. “A primeira medida é identificar casos suspeitos. Quem chegar de um desses países com febre nos últimos 21 dias (o período de incubação do vírus é de dois dias a três semanas) deve ser mantido em isolamento. Depois, deve ser feito um rastreamento de todas as pessoas com quem ele manteve contato nesse período”, explica.

Apesar dessa região africana não ser turística, há um risco constante da doença se espalhar porque existem várias empresas que mandam funcionários brasileiros para atuar em minas e construção civil pesada. Apesar de a transmissão não ser tão fácil, essas pessoas estão sob risco. Se alguém adoecer numa equipe, demora até que se descubra a causa, porque muitas doenças infecciosas têm sintomas semelhantes ao ebola, caso da malária e do cólera. “Um operário na Guiné, por exemplo, depois de entrar em contato com o vírus, pode demorar até 21 dias para desenvolver a doença. E nesse período ele pode transmitir o vírus para outra pessoa”, alerta o médico.

Vacinas
O Serviço de Atenção à Saude do Viajante da PBH é responsável pela emissão do Certificado Internacional de Vacinação e Profilaxia, exigido para entrar em alguns países. Todo viajante que procura o serviço também pode se vacinar contra febre amarela; sarampo, rubéola e caxumba (Tríplice viral); difteria e tétano (DT); hepatite B; e poliomielite. Um terceiro foco de ação são consultas médicas com orientações de como se prevenir para pessoas que vão viajar para áreas de risco de algumas doenças, ou para aquelas que chegaram dessas regiões com algum sintoma importante. As consultas são gratuitas para os viajantes, mas é preciso ligar antes para agendamento nos telefones (31) 3246-5026 ou 3277-5300.

EPIDEMIA X ENDEMIA


Doenças endêmicas são aquelas habitualmente identificadas em uma região e já esperadas em determinado período. É o caso da dengue em Minas Gerais, que tem surtos ou epidemias (uma doença pode ser endêmica e epidêmica ao mesmo tempo) esperados com a chegada do verão e do período chuvoso. Outro exemplo é a gripe, comum nos meses de inverno; e a malária, que é endêmica na Região Amazônica. Já a Aids é endêmica em todo o mundo e a tuberculose, no Brasil. As epidemias são um aumento de casos acima do esperado para uma doença em determinada região. A diferença para um surto é que esse último é muito localizado, ao contrário das epidemias, que são algo disseminado.