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Homens que se separam relatam receio de perderem a chance de serem pais
'Manual do Pai Solteiro' traz dicas para cuidar dos filhos após a separação
Conheça a história do homem que é conhecido como 'pai do ano'
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Por questões culturais ou financeiras, é mais comum que o homem saia de casa, encontre um novo lar e busque formas de administrar a saudade dos filhos. Claro que isso se aplica aos pais presentes, que fazem questão de conviver e participar da educação das crianças. São eles que precisam se adaptar aos novos horários, às visitas agendadas. Alguns só mudam o endereço e continuam sendo os exímios cuidadores de outrora. Outros aproveitam a oportunidade para se aproximar dos filhos, assumir tarefas que antes cabiam somente à antiga companheira ou à babá. Juntos, descobrirão as delícias dessa paternidade de intensos dias previamente combinados.
“O pai presente perde muito ao sair de casa. Perde, principalmente, a convivência com a rotina diária da criança. Ele não acompanha momentos simples, como acordar, colocar o uniforme, tomar café da manhã, escovar os dentes e ir para a escola. Se a mãe for atenta à importância da participação do pai, vai integrá-lo mais, mas, mesmo assim, muito se perde. Para resgatar a convivência dentro dessa nova realidade, o pai deve se interessar em participar sempre que possível”, afirma a terapeuta familiar Roberta Palermo, autora do livro Ex-marido, pai presente, que é uma espécie de guia para pais que se separaram da esposa, mas não querem se distanciar dos filhos. “Mas há pais que se tornam mais presentes depois da separação. É uma oportunidade de formar novos vínculos”, acrescenta a pesquisadora.
A Justiça brasileira ainda dá prioridade às mães na hora de decidir quem fica com filhos. Segundo as Estatísticas de Registo Civil, divulgadas pelo último censo do IBGE, em 2010, em 87,3% dos casos, são elas que detêm a guarda dos filhos em caso de separação. Em geral, quando a guarda é unilateral, a mulher é a escolhida para passar a maior parte do tempo com as crianças. Cabe aos pais cumprir a agenda de visitas acordada. Já na guarda compartilhada, ambos são responsáveis pelas decisões que dizem respeito à prole. Nada é feito sem o consentimento do outro. Em alguns casos, inclusive, a criança terá duas casas: passará uma temporada na casa do pai e outra na casa da mãe.
Seja como for o acordo feito pela casal desfeito, fato é que toda a família precisa se adaptar. Coordenadora do Setor de Gerenciamento de Estresse e Qualidade de Vida da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), a psicóloga Denise Diniz garante que o divórcio é, sim, um momento atribulado para todos os envolvidos. “Todos precisam, inclusive, organizar a própria identidade. Muda o status civil, muda a identidade familiar”, comenta a especialista. Na prática, o pai agora é ex-marido, o filho passa a ter uma família morando em casas separadas. Eles também terão de entender a nova dinâmica dessa relação e isso exige paciência.
Em tempo integral
“Filhos são a expressão da eternidade da vida. As pessoas dizem que querem a vida eterna e ela está aí. Cuidando com zelo, tudo o que você é vai ser preservado e passado para a frente. Quando descobri que minha ex-esposa estava grávida, foi um choque. Mas eu agradeço todos os dias que a Estela tenha nascido. Ela deu um nó na minha existência.” Foi por conta dela que a vida de Diogo Conte, 32 anos, deixou de ser a de um engenheiro para se tornar a de um instrutor de ioga que é pai e mãe ao mesmo tempo.
A separação veio quando Estela Iramaia tinha um pouco mais de 1 ano de idade. Amigos, os pais resolveram dividir a guarda da criança. “Entendi que o mais importante é construir relações boas, principalmente com as pessoas que a gente disse que amou. Se já tivemos esse carinho, não faz sentido ter uma relação ruim. A gente tem que facilitar a vida dos nossos filhos porque eles já não estão vivendo nos moldes de família tradicional”, conta.
A rotina da pequena foi definida no erro e acerto. No começo, Estela ficava três dias com o pai e quatro com a mãe. Não deu certo e mudou-se a ordem. Mas tanta mudança de ambiente não fazia bem à menina — os pais desconfiam que a inconstância foi a responsável pelas infecções urinárias recorrentes, por exemplo. A solução foi limitar os encontros com o pai aos finais de semana. “Descobri aí que a quantidade é mais importante que a qualidade. Eu podia planejar os nossos dias minuto a minuto, mas não estar sempre presente fazia falta. Foi muito difícil para mim”, lembra. Casado novamente, a nova esposa incentivou a aproximação da menina. E, com 4 anos, Estela foi morar com o pai definitivamente. Mesmo assim, a mãe está presente a cada 15 dias e sempre que a filha precise de um carinho materno.
Diogo teve que fazer o trajeto até a casa da ex-mulher muitas vezes para que Estela se sentisse mais confortável. E passar de pai de fim de semana para pai em tempo integral foi complicado. “A gente não recebe orientação dos nossos pais de como assumir a paternidade. Tive que procurar informação em livros e na internet para aprender. Mas o que deu certo mesmo foi o amor. Quando se faz as coisas com carinho, a criança percebe e entende que é para o bem dela”, explica Diogo.
Hoje, é ele quem resolve todos os problemas de Estela. Organiza as atividades, busca a pequena em qualquer lugar, pesquisa escolas, leva ao hospital, compra roupas, manda tomar banho, prepara o jantar e supre as demandas emocionais da filha. Mesmo com todo o trabalho, a menina faz falta quando vai visitar a mãe. “Eu deixo o espaço bem aberto para ela ir a qualquer momento. Mas é um vazio, fica um buraco. Das coisas importantes que eu fiz na minha vida, ter ela junto a mim é uma das maiores e faço questão que ela saiba disso”, afirma.