A epidemia de febre hemorrágica provocada pelo vírus do Ebola na África Ocidental provocou mais de 1.300 casos, anunciou nesta quinta-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS). No total, até 27 de julho, 729 pessoas morreram vitimadas pelo Ebola, entre elas 47 em apenas quatro dias. Entre 23 e 27 de julho, foram registrados 122 novos casos (confirmados, proáveis e suspeitos) e foram notificadas 57 mortes na Guiné, Libéria, Nigéria e Serra Leoa, acrescentou a OMS.
O temor de que o surto do Ebola na África se espalhe para outros continentes deixa países de Europa e Ásia em alerta e a organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) advertiu que a epidemia está fora de controle.
"Se a situação não melhorar rapidamente, existe um risco real de que outros países sejam infectados", declarou o diretor de Operações da MSF, Bart Janssens. A febre hemorrágica, que estava concentrada na Guiné, na Libéria e em Serra Leoa, também atingiu a Nigéria, onde um viajante proveniente da Libéria morreu na última sexta-feira, 25 de julho.
Depois desse caso, a companhia aérea pan-africana ASKY decidiu suspender nesta terça seus voos de e para Libéria e Serra Leoa. O Corpo da Paz dos Estados Unidos anunciou nesta quarta-feira a retirada de centenas de voluntários de Guiné, Libéria e Serra Leoa devido à crescente preocupação com a epidemia de Ebola na África Ocidental.
Uma porta-voz do Corpo da Paz informou que dois voluntários contraíram o Ebola após entrar em contato com uma vítima fatal do vírus, mas esclareceu que não apresentam os sintomas da doença e estão sob observação médica no isolamento. "Quando receberem alta para regressar aos Estados Unidos, trabalharemos com eles para que retornem de forma segura".
saiba mais
-
Epidemia de Ebola faz mais vítimas e suspende voos no oeste africano
-
Ebola pode se espalhar como um rastilho de pólvora, alertam EUA
-
Médico e voluntária americanos são infectados por Ebola na Libéria
-
OMS se reúne com países atingidos pelo Ebola
-
Ministério da Saúde brasileiro faz recomendações sobre o Ebola
-
Saiba mais sobre a febre hemorrágica causada pelo Ebola
Na Grã-Bretanha, o secretário de Relações Exteriores, Philip Hammond, presidiu o chamado "comitê COBRA" de gestão de crise para analisar a situação. "Estamos muito atentos a isso como uma nova e crescente ameaça, com a qual temos de lidar", disse Hammond, acrescentando que a melhor maneira de enfrentar o problema é "fornecendo recursos adicionais para atacar o mal em sua origem".
Presidente de Serra Leoa decreta estado de emergência
O presidente de Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, decretou nesta quinta-feira o estado de emergência diante da epidemia que deixou 224 mortos no país. Durante um discurso televisionado, Koroma anunciou ter decretado "o estado de emergência para nos permitir tomar medidas mais firmes contra a epidemia do Ebola", classificada por ele de desafio excepcional.
O presidente também anunciou ter cancelado sua viagem na próxima semana à cúpula África/Estados Unidos em Washington, mas indicou que participará de uma cúpula regional na vizinha Guiné para analisar a situação junto a representantes de Guiné, Libéria e Costa do Marfim. Além de decretar o estado de emergência, Koroma anunciou outras medidas, como colocar em quarentena as áreas afetadas pelo Ebola, mobilizar forças de segurança para proteger as equipes médicas e proibir as reuniões públicas, assim como lançar uma busca em cada casa pelos possíveis infectados pela doença.
Os ministros e outros representantes governamentais não poderão sair do país, salvo para "compromissos absolutamente essenciais", declarou Koroma. Estas medidas terão uma duração de 60 a 90 dias, embora possam ser alteradas.
Médicos afetados
O vírus do Ebola pode matar as pessoas em questão de dias, depois de causar febre intensa e sérias dores musculares, vômitos, diarreia e, em alguns casos, insuficiência dos órgãos e sangramento. Para agravar a situação, os trabalhadores da Saúde precisam lidar com a exaustão, a escassez de pessoal e de material, além do medo bastante real de serem contaminados pelo vírus.
Peter Piot, diretor da Escola de Medicina Tropical de Londres, que codescobriu o vírus do Ebola em 1976, relatou que "enfermeiras de alguns hospitais estão em greve, porque não têm o equipamento mínimo necessário para proteger tanto os trabalhadores quanto os pacientes e seus familiares". Os trabalhadores do setor "com frequência não têm os recursos e veem seus colegas morrer, de modo que não me surpreende que alguns hospitais tenham sido basicamente abandonados", disse ele, em entrevista à AFP.
A União Europeia (UE) anunciou que está pronta para tratar do vírus, se for detectado em algum de seus 28 estados-membro, revelou uma fonte do bloco consultada pela AFP em Bruxelas. Um caso suspeito em Valencia, na Espanha, que foi isolado e depois deu negativo, mostrou que "o sistema funciona", acrescentou a mesma fonte. Janssens, da MSF, advertiu que os governos e as organizações internacionais não têm "um panorama geral" sobre como enfrentar o surto da doença.
"Essa epidemia não tem precedentes. Está absolutamente fora de controle, e a situação apenas pode piorar, porque ainda está se propagando fora da Libéria e de Serra Leoa, para algumas zonas muito importantes", disse ao jornal "La Libre Belgique". Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs, em inglês) americanos advertiram na segunda-feira que o Ebola pode se espalhar "como um rastilho de pólvora".
No Canadá, a imprensa local informou que um médico se colocou em quarentena de forma voluntária, após passar várias semanas no oeste da África tratando de pacientes infectados pelo vírus junto com outro médico americano, agora contaminado. Em Serra Leoa, um outro médico que estava encarregado de um centro de tratamento contra o Ebola faleceu por causa do vírus.
Propagação na Nigéria
O homem de 40 anos que viajou da Libéria e morreu em Lagos, na sexta-feira, foi o primeiro caso fatal de Ebola confirmado na Nigéria. Foi depois disso que a companhia ASKY suspendeu seus voos na região. De acordo com a Agência Internacional de Aviação, o fato de o vírus ter cruzado as fronteiras pela primeira vez por via aérea pode levar a mais restrições aeronáuticas.
"Até agora, (o vírus) não havia impactado a aviação comercial, mas agora estamos afetados", admitiu o secretário-geral da OACI, Raymond Benjamin. "Temos de agir rapidamente", frisou. Em um mercado em Lagos, a poucos metros do hospital onde faleceu o viajante, vários moradores pediram ajuda internacional em conversas com a AFP.
"A Nigéria está em uma grande enrascada", disse o eletricista John Ejiofor, de 40 anos. "Não temos condições de lidar com essa situação", completou. "Muita gente nem sabe da existência dessa doença, quanto mais de medidas preventivas", disse a professora Elizabeth Akinlabi, de 30, que acompanhava John e pediu ajuda à OMS.