Horas antes, a companhia aérea pan-africana ASKY anunciou a interrupção de suas conexões entre as capitais da Libéria e de Serra Leoa, depois da morte, na Nigéria, de um passageiro liberiano infectado com o vírus. "A suspensão dos voos com destino a Freetown e Monróvia, por parte da ASKY, ocorre no âmbito da luta contra a propagação do vírus Ebola", disse à AFP Afoussath Traoré, porta-voz da companhia com sede em Lomé, no Togo.
A decisão da companhia forçou a OACI - que é uma agência da ONU - a entrar em ação, explicou o presidente da organização de aviação civil, Raymond Benjamin. "Isso nos faz agir muito rapidamente", disse Benjamin, destacando que a OACI "fará consultas com a OMS para saber quais tipos de recomendação deve emitir" para deter a expansão da doença.
Desde março, mais de 1.200 pessoas foram infectadas na África Ocidental, e mais de 800 morreram. O vírus se concentra em Guiné, Libéria e Serra Leoa. O médico americano Kent Brantly, de 33 anos, foi infectado enquanto trabalhava na Monróvia, capital da Libéria, em meio à mais grave epidemia de Ebola da História. "(Brantly) não está bem. Ainda está na primeira fase da infecção do Ebola, mas tem complicações diárias", relatou por telefone David Mcray, falando de Fort Worth, no estado do Texas.
"Ele pediu que não se fale em detalhes sobre seus sintomas, mas está muito fraco e doente", acrescentou o médico, que fala diariamente com Brantly e acompanha sua situação. Brantly e outra americana que trabalhava no mesmo hospital estão entre as mais de 1.200 pessoas infectadas na África Ocidental desde março. Mais de 800 pessoas morreram desde então.
Nesta terça, um médico canadense que trabalhava com Brantly, colocou-se em quarentena voluntária preventivamente, após passar semanas tratando pacientes no oeste da África, reportou a imprensa em Ottawa nesta terça-feira.
Azaria Marthyman, natural de Victoria, na Colúmbia Britânica, trabalhou na Libéria com a organização de caridade cristã Samaritan's Purse. Ele não apresenta sintomas, nem teve diagnosticada a doença desde que retornou ao Canadá no sábado, mas trabalhava com o médico americano, que acabou infectado. "Azaria está sem sintomas, e não há chances de que você esteja transmitindo Ebola se não estiver com os sintomas", declarou a porta-voz da Samaritan's Purse, Melissa Strickland, à emissora CTV.
Em Serra Leoa, morreu nesta terça-feira um médico de um centro de tratamento contra o Ebola em Kenema (no leste do país, uma das regiões mais afetadas), informou o chefe dos serviços de saúde serra-leonês. O doutor Omar Khan, que morreu às 14h00 GMT (11h00 de Brasília), tinha sido hospitalizado uma semana antes em um centro da organização Médicos sem Fronteiras. Foi logo qualificado pela ministra da Saúde de Serra Leoa, Miatta Kargbo, de um "herói nacional", porque "passava 12 horas por dia salvando vidas, fazendo um sacrifício formidável".
Sem arrependimentos
Na segunda-feira, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) dos Estados Unidos advertiram que o vírus fatal, que tem uma taxa média de mortalidade de cerca de 60% e não tem cura, pode se propagar como rastilho de pólvora e pediu aos viajantes na África Ocidental que tomem precauções.
"Nossa preocupação é que a epidemia se espalhe no exterior, como um incêndio florestal que pode se propagar a partir de uma única árvore, só com as faíscas", disse Stephan Monroe, do CDC.
O vírus Ebola é transmitido por contato direito com o sangue, fluidos biológicos, tecidos de pessoas, ou de animais infectados. A febre que provoca se manifesta com hemorragias, vômitos e diarreia.
O diagnóstico do doutor Brantly foi anunciado no sábado pelo Samaritan's Purse, organização de caridade cristã, cujo centro dedicado a combater o Ebola na Libéria ele chefiava.
A Samaritan's Purse tentou transferi-lo para outro hospital, talvez na Europa, "mas, como podem imaginar, é complicado transportar alguém infectado por Ebola ao longo de fronteiras internacionais", explicou Mcray.
Mcray acrescentou que, embora as atenções da imprensa tenham se concentrado no caso desse médico americano, o próprio Brantly está consciente de que ele é só mais um dos mais de mil infectados pela doença.
"Ele tem colegas que sucumbiram e não vê a si próprio como alguém único, de forma alguma", disse Mcray. Mas "não se arrepende (...) Quer que as pessoas saibam que ele estava lá porque queria".