saiba mais
Os cientistas da Faculdade de Medicina da Universidade Northwestern criaram um modelo para avaliar como a exposição à luz do sol em horários distintos afetaria o corpo humano. Os 54 participantes do experimento foram monitorados durante sete dias por meio de uma pulseira que mediu o tempo e a intensidade do sol recebida. Uma semana depois, o horário de exibição foi alterado, permitindo a comparação dos resultados.
“Vimos que o que parecia estar mais associado com a mudança do IMC era a quantidade e a intensidade de luz obtidas pelos participantes”, diz Giovanni Santostasi, pesquisador em neurologia da instituição e coautor do trabalho. “Quanto mais cedo era essa exposição, mais baixo o índice. Quanto mais tarde, maior o IMC da pessoa”, complementa Kathryn Reid, professora e pesquisadora de neurologia da Universidade de Northwestern.
Segundo os cientistas, o corpo precisa acordar cedo para funcionar da melhor forma possível. Com esse bom desempenho, consegue queimar um número maior de calorias. “A luz é o agente mais potente para sincronizar o relógio interno do corpo, um sistema que regula os ritmos circadianos, que, por sua vez, regulam o balanço energético. A mensagem é que você deve obter luz mais brilhante entre as 8h e as 12h”, indica Phyllis Zee, coautora da pesquisa.
Para os pesquisadores, receber de 20 minutos a 30 minutos da luz da manhã é o suficiente para afetar o IMC. Caso esse horário não seja adaptado à rotina, luzes artificiais podem ser usadas como alternativa. “A luz é um fator modificável, com potencial para ser usado em programas de gestão de peso. Assim como as pessoas tentam dormir mais para perder peso, manipular a intensidade de luz pode ser outra alternativa no mesmo sentido”, defende Reid. Os pesquisadores de Northwestern trabalham agora examinando como esse tipo de exposição afeta a gordura corporal e tentando desvendar se ela poderia ajudar o metabolismo a controlar a fome e a saciedade.
Melatonina
Para Cintia Cercato, endocrinologista regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM-SP), a pesquisa reforça um conceito conhecido na área médica: de que o ciclo circadiano é importante para o bom funcionamento do corpo, condição que reflete diretamente no IMC. “Quando dormimos à noite, nosso corpo produz um hormônio chamado melatonina, que sincroniza o relógio biológico humano. Ou seja, quando você tem uma dessincronização nesse ritmo, pode desregular outros hormônios que são responsáveis pelo apetite”, explica.
A especialista acredita que o trabalho dos pesquisadores da instituição americana contribui para o entendimento de quanto o sono pode influenciar um problema cada vez mais comum na sociedade. “Pela manhã, temos um gasto energético maior. Nossos hábitos podem refletir na nossa saúde e auxiliar no emagrecimento da mesma forma que a dieta e os exercícios físicos” , frisa.
Cercato também ressalta que, de uma forma geral, a qualidade do sono da população tem caído muito. Trabalhos científicos indicam que o número de horas dormidas diariamente caiu de nove para sete horas. “Isso é algo preocupante. Precisamos sempre investir na higiene do sono”, alerta.
Ajustes necessários
A escolha da luz artificial, porém, demanda cuidados. Até porque, segundo os mesmos cientistas da instituição americana, ambientes mal iluminados podem refletir negativamente no índice de massa corporal (IMC). Lâmpadas usadas em ambientes internos têm cerca de 300 a 500 lux (medida de intensidade luminosa) de brilho, sendo que, no caso dos raios solares, o valor sobe para 1.000.
Combinação de fatores
“O assunto é novo e requer muitas análises para podermos afirmar seus resultados. Há fatores que podem afetar diretamente a conclusão, pois, apesar de sabermos da importância da luz no ritmo hormonal, há variáveis não levadas em conta e que podem comprometer a conclusão do estudo. É possível a dedução por comparação, mas esse tipo de trabalho sempre traz um risco de não considerar itens que podem contribuir para que o indivíduo que tome luz solar matinal seja mais magro. Tipo de trabalho, alimentação, prática de atividade física, qualidade do sono, doenças associadas, uso de medicamentos, estilo de vida e estresse são algumas das variáveis imensuráveis que podem afetar a conclusão de uma pesquisa”.
Mauro Scharf, endocrinologista do Laboratório Exame