É por conta dessa briga que parece não ter fim que a enfermeira e atleta Carla Goulart, de 38 anos, ainda não foi capaz de definir qual é o seu limite. Daqui a duas semanas, ela vai passar por mais uma prova de fogo em busca dessa resposta. O cenário não poderia ser mais inóspito: o Vale da Morte, deserto no estado norte-americano da Califórnia, onde a temperatura pode chegar facilmente aos 50 graus centígrados com umidade que gira em torno de 30% a 40%. Serão de 30 a 40 horas correndo com paradas apenas para ir ao banheiro. Até mesmo as refeições serão realizadas ao longo do percurso de 135 milhas, o equivalente a 217 quilômetros. “Acho que todo mundo tem limites. A diferença é que quando eu os supero, crio novos”, afirma.
Carla não está sozinha no que, para quem houve sua história, parece ser uma grande loucura. A jornalista Daniela Santarosa, de 37, e o empresário Fernando Nogueira, de 55, também competem nas chamadas ultramaratonas – provas com distância acima de 42 quilômetros – ao redor do mundo e reconhecem que, mais do que vontade, há uma predisposição para esse tipo de atividade. “É uma fórmula diferente em que a pessoa tem mais resistência do que velocidade. Tem relação com a genética, mas também envolve muito treino, dedicação, foco, força de vontade e um pouco de teimosia”, afirma Fernando. Para Daniela, a vibração no momento exato da conquista também dá início a uma série de questionamentos. “E agora? Qual será a próxima?”
VICIADOS
“A adrenalina que senti foi uma energia que ainda não havia experimentado. E isso virou um vício saudável: perseguir meus limites e liberar endorfina.” O sentimento que despertou o advogado Thiago Torres, de 32, para a corrida veio à tona quando ele concluiu sua primeira prova de 10 quilômetros, há quatro anos. Hoje, com os 21 quilômetros recém-superados, ele começa a traçar seu caminho rumo à prova Ironman 70.3, que consiste em 1,9km de natação, 90km de ciclismo e 21km de corrida. “Superar esse desafio é o que me movimenta. É o que me permite encontrar a plenitude e ser feliz”, conta, com brilho nos olhos e determinação que parece caber apenas aos atletas patrocinados, mas que Thiago mostra que pode fazer parte da vida de qualquer pessoa, basta querer e se preparar para isso.
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