Na China, 'médicos' curam com fogo e fotos causam comoção na internet

Uma foto de 'tratamento com fogo' provocou reações nas redes sociais chinesas, pois mostrava um homem que passou pelo método nos testículos. Imprensa oficial criticou consultórios que têm como responsáveis terapeutas sem qualificação e sem equipamentos de segurança

por AFP 08/07/2014 07:50

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GREG BAKER / AFP
Na China, são muitos os que acreditam que o fogo faz bem para a saúde. A prevenção contra queimaduras às vezes se resume a um simples balde d'água, colocado no chão (foto: GREG BAKER / AFP)
As mãos do terapeuta Zhang Fenghao se mantêm firmes enquanto ateiam fogo na toalha embebida em álcool que cobre as costas do destemido paciente. Na China, são muitos os que acreditam que o fogo faz bem para a saúde. O "tratamento de fogo" não faz parte da medicina tradicional chinesa, mas seus praticantes dizem que cura o estresse, a má-digestão, problemas de fertilidade e até alguns tipos de cânceres.

O fato de seus supostos efeitos não estarem provados cientificamente não é obstáculo para os defensores desta prática secular, impressionante de ver. Além disso, afirmam que aquecer os pontos de acupuntura - uma técnica conhecida como moxibustão - tem eficácia provada há anos.

"A terapia com fogo supera tanto a medicina chinesa quanto a ocidental", diz, entusiasmado, Zhang, que forma seus estudantes em um modesto apartamento em Pequim. Ele cobra 300 iuanes (EUR 35) por uma hora de tratamento.

Concretamente, a cura parece simples, apesar do risco que representa. O especialista aplica primeiro uma pasta à base de ervas nas costas do paciente, que cobre com um pano. Depois, derrama neste pano uma mistura inflamável composta de água e álcool inflamável a 95º. "Este método permite evitar uma operação", explicou, sem pestanejar, Zhang Fenghao.

Deitado de bruços, o paciente, que diz se chamar Qi, espera, relaxado, a combustão. Quando Zhang aproxima o isqueiro aceso, chamas de cor laranja e azul surgem sobre a coluna vertebral do paciente. "Sinto calor, mas não dor", afirma. "Acho que é eficaz", diz. Aos 47 anos, ele sofreu uma hemorragia cerebral que deixou sequelas na memória e na mobilidade.

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Método não faz parte da medicina tradicional chinesa, mas seus praticantes dizem que cura o estresse, a má-digestão, problemas de fertilidade e até alguns tipos de cânceres (foto: GREG BAKER / AFP)
Muitos chineses não conseguem pagar tratamentos caros em seu país, onde a previdência social é incipiente. Esta situação favorece os tratamentos alternativos. Zhao Jing, de 49 anos, sente dores crônicas nas costas. Ele diz que a princípio era reticente sobre este tratamento. "Mas depois de me informar exaustivamente, não sinto mais medo", afirmou esta mulher.

O método consiste na crença tradicional de que há um equilíbrio necessário entre os elementos quentes e frios do corpo humano. "Ateamos fogo no corpo para tirar o frio interno", explica Zhang, que garante que entre seus clientes há diplomatas estrangeiros e dirigentes comunistas. Uma foto de um "tratamento com fogo" causou comoção nas redes sociais chinesas, pois mostra um homem que faz tratamento nos testículos. "Senhor, como gosta do ponto de sua carne?", brinca um blogueiro.

A imprensa oficial chinesa criticou alguns consultórios que têm como responsáveis terapeutas sem qualificação, sem os equipamentos de segurança necessários. A prevenção contra queimaduras às vezes se resume a um simples balde d'água, colocado no chão. "Houve ferimentos, pacientes que tiveram o corpo ou rosto queimados devido ao descumprimento das normas de segurança", conta Zhang. Mas "eu formei dezenas de milhares de estudantes e nunca tivermos que lamentar um acidente".

Enquanto toma conta das chamas que queimam as costas de um de seus pacientes, ele recita um poema: "um dragão que cuspia fogo desceu à Terra, dando origem a uma terapia misteriosa..." Muito sério, conclui: "a medicina precisa fazer sua revolução. O tratamento com fogo é a solução para o mundo".

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Muitos chineses não conseguem pagar tratamentos caros em seu país, onde a previdência social é incipiente. Esta situação favorece os tratamentos alternativos (foto: GREG BAKER / AFP)