
No estudo, os autores fizeram experimentos em culturas de bactéria para observar como esses seres se comportavam durante uma aplicação de antibióticos. De acordo com Nathalie Balaban, líder do trabalho e pesquisadora da Universidade Hebraica (Israel), o objetivo era adquirir mais conhecimento sobre de que maneira a E. coli evolui sob essas circunstâncias.
Os resultados obtidos apontam para uma tolerância maior dos micro-organismos aos medicamentos, mas não a uma maior resistência. Em outras palavras, a bactéria não se torna propriamente imune à ação dos medicamentos, mas encontra uma maneira de suportar sua ação até que ele saia do organismo e ela possa voltar a se multiplicar. “O estudo permite o desenvolvimento de tratamentos e protocolos diferenciados que podem ajudar na prevenção dessa evolução da tolerância”, acredita Nathalie.
Mutações O método seguido pelos pesquisadores foi executado da seguinte forma: em laboratório, as culturas de E. coli eram expostas a concentrações altas de ampicilina e tinham seu comportamento monitorado. A droga era inserida no sistema por um tempo e depois retirada, simulando assim um tratamento no corpo humano, quando a droga circula no organismo por um tempo até ser eliminada e, então, uma nova dose é aplicada.
Os cientistas notaram que a droga interrompia a atividade das bactérias momentaneamente, mas, assim que ela era retirada da cultura, a E. coli voltava a suas atividades normais. “Depois de 10 ciclos (de aplicação), os micro-organismos apresentaram uma tolerância maior por meio de mutações que permitiram a eles adotar um estado de dormência durante o período de ação do antibiótico. Desde que continuassem nesse estado, o remédio se mostrava ineficaz em eliminá-los”, afirma Nathalie.
saiba mais
-
Estudo mostra que bactérias podem sobreviver até uma semana em aviões
-
Hospitais do Rio identificam três pacientes com bactéria resistente a antibióticos
-
Bactérias facilitam progressão da Aids
-
Baixa na produção e pesquisa de antibióticos aumenta preocupação com disseminação de superbactérias
-
Prescrição exagerada de medicamento pode facilitar surgimento de superbactéria
-
Aglomerações de pessoas no inverno favorecem aumento de casos de meningite
-
Meningite transmitida por parasita avança no Brasil
Prevenção De acordo com especialistas que não participaram do trabalho, o estudo não chega a ser propriamente inovador, pois há outros feitos em linhas semelhantes de investigação. No entanto, é mais um alerta sobre a importância do uso correto dos antibióticos. “O trabalho diz que, se o paciente toma antibiótico e não mata totalmente as bactérias, elas têm mais chances de ter resistências”, aponta Renato Grinbaum, coordenador do Comitê de Antimicrobianos da Sociedade Brasileira de Infectologia.
Segundo ele, o mais importante é a prevenção, para evitar que os microrganismos mais resistentes se espalhem. “Esse processo da bactéria é um mecanismo natural, não existe um antibiótico que seja isento”, afirma. “À medida que se usa um determinado antibiótico em uma comunidade, a tendência é que a bactéria se adapte para sobreviver, é uma seleção natural daqueles microrganismos que não respondem mais ao antibiótico”, reforça.
A infectologista Eliana Bicudo explica que qualquer bactéria pode sofrer alterações genéticas que aumentem a resistência e a tolerância aos medicamentos. “O antibiótico elimina apenas as bactérias que são mais sensíveis a ele, mas uma colônia sempre vai ter micro-organismos mais resistentes. Se o paciente estiver mais debilitado ou interromper o período do tratamento, por exemplo, essas bactérias podem invadir a corrente sanguínea e causar infecções mais fortes”, afirma.
Para evitar a disseminação e a contaminação por essas bactérias, as principais recomendações de Grinbaum são o uso com cautela de antibióticos e a atenção em relação à higiene básica. “As pessoas têm o hábito de tomar antibióticos para tudo, e isso não deve ser feito. É necessário também cuidado ao lavar as mãos, para não passar adiante ou contrair doenças provenientes dessas bactérias”, conclui.