No Brasil, apesar de o uso da melatonina não ser proibido, ela não é vendida, mas nos Estados Unidos ela já é comercializada para controle do sono e também como suplemento alimentar. Debora afirma que o objetivo do estudo foi ver o impacto da melatonina sobre a viabilidade celular, a multiplicação das células em cultura e sobre o crescimento do tumor e angiogênese in vivo, uma vez que já se sabia que a melatonina, quando administrada em doses terapêuticas acima dos níveis encontrados no organismo, apresenta propriedades antioxidantes. “É possível que o hormônio possa suprimir o crescimento de alguns tipos de células cancerosas, principalmente quando combinado com certas drogas já usadas no tratamento do câncer”, afirma.
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Para prevenir o câncer de mama, mulheres devem evitar exposição a produtos químicos cotidianosEstudo alerta para mau uso de dupla mastectomia no câncer de mamaIdentificação de genes amplia prevenção do câncer de mama, mas luta está longe do fimTalidomida mostra sua eficácia contra o câncer de mamaHormônio do sono, a melatonina é capaz de melhorar o desempenho esportivoGel dificulta a evolução do câncer de mamaPara mimetizar as condições de hipóxia no estudo in vitro, os pesquisadores aplicaram cloreto de cobalto nas células, fazendo com que a substância consumisse o oxigênio do meio e estimulasse a expressão de genes responsáveis pela formação de novos vasos. “Uma parte das culturas foi tratada com doses de melatonina que variaram entre 0,5 e 10 milimols (mmol). Nas duas linhagens, a dose de 1mmol foi a que mostrou maior benefício, reduzindo em 50% a viabilidade celular quando comparada ao controle”, afirma a professora.
Já no estudo in vivo foram utilizados dois grupos de camundongos atímicos (roedores geneticamente modificados, que não têm o timo), nos quais foram implantadas células tumorais para avaliar os efeitos da melatonina sobre a angiogênese. Em um grupo foram administradas doses diárias via intraperitoneal de melatonina (40mg/kg) por 21 dias seguidos, durante a noite, cerca de uma hora antes de a iluminação da sala em que estavam confinados ser desligada. O outro grupo recebia injeções sem o medicamento, apenas como forma de deixá-los nas mesmas condições de manuseio do grupo tratado.
O próximo passo agora, de acordo com a pesquisadora, é promover os testes clínicos para comprovar a eficácia do tratamento também em humanos. “Estamos viabilizando um estudo para fazer o teste em pacientes com câncer de mama já em fase terminal, sem outra opção de tratamento. Ainda faltam estudos para comprovar a utilização da melatonina como tratamento para o câncer de mama e essa comprovação ainda pode demorar”, acrescenta.
ANOS DE PESQUISA
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), Evanius Wiermann, destaca a importância do estudo para o avanço no tratamento do câncer de mama, mas afirma também que é preciso ter o pé no chão para saber que ainda são necessários novos estudos para comprovar a eficácia da melatonina na regressão dos tumores e chegar de fato ao mercado. A partir de agora, os pesquisadores que desenvolveram o estudo têm, pelo menos, mais três fases pela frente que podem levar cerca de 10 anos. A fase, segundo Wiermann, consiste em identificar o perfil de segurança da melatonina sobre o câncer de mama. “Eles precisam ver qual a dose máxima tolerada, seus efeitos colaterais e outras sequelas do tratamento com o hormônio”, explica.
A fase dois se baseia na administração da medicação em diversos pacientes portadores da doença, com tumores diferentes, para testar o nível de eficácia do medicamento. “Precisa-se saber se é possível reduzir o tamanho dos tumores em humanos com a melatonina. Muitas vezes, o que é testado e faz bem nos camundongos às vezes não produz o mesmo efeito nos humanos”, afirma o presidente da SBOC. Depois de descobrir a eficácia da melatonina para o tratamento do câncer, em qual tipo de tumor, em qual área do corpo, o estudo passa para a fase três, para comparar o uso do medicamento novo ao medicamento que já é usado como padrão na maioria dos tratamentos pelo mundo. “Para que ele possa ser usado e comercializado, ele precisa ser melhor do que o procedimento que já é adotado como padrão ou produzir o mesmo efeito, sendo menos tóxico”, ressalta Wiermann. Segundo o oncologista, esse é um caminho extremamente longo, pois a cada 100 moléculas estudadas e que são promissoras para o tratamento do câncer, apenas cinco chegam à fase três do estudo e, dessas, só uma prova ser melhor do que o método adotado e entra no mercado.