O incidente 'mordida' não é novidade na carreira de Suárez. Ele apresentou comportamento semelhantes quando jogou na Holanda e na Inglaterra, em jogos com as camisas de Ajax e Liverpool. Em 2010, tomou uma suspensão de sete jogos no futebol holandês. Em 2013, foram dez jogos no campeonato inglês e a sugestão de uma terapia para 'controle da raiva'. Envolvido ainda em acusações de racismo e milhares de 'memes' pela internet, o artilheiro tem esperança de se emendar?
De acordo com professor do departamento de Psicologia Social da PUC de São Paulo, Hélio Deliberador, sim. “Essa mordida representa, de certa forma, uma dimensão humana, demasiadamente humana da Copa. Foi um momento de comportamento irracional, que se expressou dessa maneira bizarra. Ao invés de se expressar verbalmente, como é muito comum no campo; ou com um drible, Suárez agrediu o zagueiro italiano com a mordida. Mas sim, se ele parar para pensar porque continua fazendo isso e aceitar realizar uma análise, ele pode se livrar do comportamento de mordedor”, afirma o especialista.
Depois de receber a notícia de sua eliminação da Copa, Suárez chorou. “Uma associação recorrente é com o menino que morde o coleguinha e depois tiram o futebol dele. De fato, é um comportamento incomum em adultos”, acrescenta o professor, descartando comparações. Quando alguém atira um objeto no outro durante uma briga, temos uma conduta irracional e agressiva, mas cada caso é um caso. “Cada coisa tem que ser analisada separadamente. A mordida é característica de crianças pequenas, de até 3 anos. Elas atacam aquela pessoa que as impedem de conseguir o que querem. É possível que, no caso do jogador, também esteja ligado a um trauma infantil, mas para fazer essa análise seria necessário conhecer sua biografia ou conversar com ele”, pontua o psicólogo.
O atacante, que se recuperou recentemente de uma lesão no joelho e voltou em grande estilo para a Copa do Mundo, marcando dois gols contra a Inglaterra, significa uma grande perda para a seleção uruguaia e também para o futebol. “Infelizmente, ele se expôs ao julgamento da Fifa com esse comportamento. Por mais que eu ache a punição severa demais, alguma medida era necessária para mostrar ao artilheiro que ele não pode agir dessa forma”, completa Deliberador, que é fã de futebol e considerou a pena rígida como uma expressão da preocupação da Fifa com a violência dentro e fora de campo.
Segundo o professor, nas disputas esportivas, há um limite muito tênue entre o épico e o trágico. “Um atleta tem que saber lidar com situações de stress e usar outros recursos diante da pressão. De herói, Suárez passou a vilão. E a mordida tornou-se a imagem da Copa até agora”, destaca.
Hélio Deliberador lembra ainda que todos nós estamos sujeitos a um momento assim, e não há necessidade de demonizar. “No jogo contra a Croácia, Neymar deu uma cotovelada no adversário e isso lhe rendeu um cartão amarelo. As duas ações não têm sentido, não têm utilidade prática no jogo. Mas, em situações extremas, alguns atacam, outros desmaiam. O caso de Suárez chamou a atenção por ser mais bizarro. Afinal, ao contrário de leões e lobos, nós normalmente só usamos a boca para nos defender com palavras”, conclui o especialista. “Falo com pesar no coração, mas Suárez foi punido por uma conduta que não é considerada legítima no jogo. É lícito disputar espaço, brigar pela bola, usar o corpo para proteger. Mas não é lícito morder”, finaliza.
Veja abaixo o momento da mordida mais recente de Suárez: