Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) e do Departamento de Ortopedia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) comprovam que em poucos anos metade da população da Terra terá mais de 50 anos. Consequentemente, a osteoporose, doença que enfraquece os ossos e pode provocar fraturas, passa a ser cada vez mais presente. O grande problema é que ela é silenciosa, pode progredir durante anos sem sintomas e, quando se apresenta, já é com a quebra de algum osso. A doença, que tem maior incidência na mulher branca, magra e pós-menopausa, é motivo de preocupação, ainda mais com o envelhecimento da população brasileira. O ortopedista, cirurgião de quadril e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Jurandir Antunes Filho diz que o mundo ainda está aprendendo a lidar com a osteoporose, já que agora ocorrem mais estudos de caso.
Dentro desse cenário, o Departamento de Ortopedia da UFJF ganhou recentemente um centro de referência da versão brasileira da campanha global “Capture a fratura”, da Fundação Internacional de Osteoporose (IOF). O objetivo do programa é diminuir a incidência das fraturas causadas pela doença. A abordagem sistemática criada pela IOF é conhecida como Fracture Liaison Service (FLS) e deve ser implantada em diversos centros no mundo. Jurandir Antunes Filho é o coordenador de uma equipe multidisciplinar com a missão de ajudar o paciente a evitar a segunda fratura. “O paciente que teve a quebra pela fragilidade óssea, com certeza vai ter outra e, muito provavelmente, será no fêmur, a mais grave delas. O percentual é macabro. Em torno de 30% dos idosos com fratura morrem até o primeiro ano, não da fratura, mas das complicações que ela geralmente oferece, como embolia, pneumonia etc.”.
Para piorar, Jurandir Antunes Filho revela outro dado contundente. “Em termos de percentual, 85% das pessoas com fratura de punho ou vértebra vão ter a de fêmur. E dentro da população de osteoporose, 16% dos pacientes já tiveram a primeira fratura. Ou seja, o percentual de refratura é muito alto. E ela ocorre em 65% dos casos nos dois anos seguintes à primeira.” A gravidade é que quem tem osteoporose e sofre a primeira lesão certamente vai passar por uma segunda ou terceira, o que é chamado de “cascata fraturária”. De acordo com a IOF, uma em cada três mulheres e um em cada cinco homens acima de 50 anos sofre fratura osteoporótica durante a vida. Mundialmente, estima-se que a cada três segundos ocorra uma fratura por fragilidade. “Por isso, nosso compromisso e do FLS é investir neste paciente, que é uma população relativamente pequena (16%), mas com número grande de fratura. E metade da fratura é do fêmur.”
Jurandir explica que dados de um estudo do Canadá mostram que 80% dos pacientes quando têm um ataque cardíaco saem do hospital medicados, com algum remédio para o coração. “Já os pacientes que dão entrada com fratura por fragilidade óssea, menos de 15% recebem medicação para osteoporose após a alta.”
TRATAMENTO
Prevenção e tratamento exigem reposição de cálcio e vitamina D. E depende de cada paciente para definir o tipo de suplementação, medicamento ou se a necessidade diária de cálcio (1.200mg/dia) será apenas via alimentação. E, no caso da vitamina D, doses diárias de sol (30 a 40 minutos por dia sem protetor solar/depois passe o protetor). “Quem tem intolerância à lactose, a recomendação é de dois comprimidos de cálcio ou até três dependendo do perfil”, indica Jurandir Antunes Filho.
A fratura é tão grave que o ortopedista, especializado em quadril, enfatiza mais um dado seriíssimo: “Em cada quatro pacientes com fratura de quadril, um morre; um necessita de ajuda em alguma tarefa diária e rotineira que fazia antes; um para de fazer pelo menos uma atividade que praticava antes da fratura; e só um volta ao nível de atividade anterior”. Para complicar, Jurandir Antunes Filho lamenta a pouca evolução. “Trabalhos bem antigos, do século 20, mostravam a taxa de mortalidade em torno de 40%. Em 2009, uma nova metanálise confirmou que ela caiu para 30%. Muito pouco. Prova de que não conseguimos prevenir a morte depois da fratura.”
Quanto ao tempo de uso do medicamento para osteoporose, Jurandir diz que pela literatura médica mundial “a autorização de prescrição por mais de 10 anos é do Protos® (ranelato de estrôncio). Para os demais, como alendronato, é recomendável de dois a três anos de uso, não ultrapassando cinco. Já o hormônio teriparatida só pode ser ministrado por dois anos. Ele é um hormônio que leva a um ganho de massa óssea fenomenal, mas tem riscos. Por isso, cada paciente tem de ter orientação de seu médico”.
Quanto ao centro de referência dentro da UFJF, Jurandir Antunes Filho explica que o atendimento só ocorre no ambulatório de prevenção de fratura da universidade, atendimento público e agendado. Ele disse que, apesar da procura dos convênios, nada ainda foi acertado. “No centro, vamos também desenvolver pesquisas e começamos por catalogar e acompanhar todos os pacientes, que são rastreados a cada três ou seis meses, dependendo do caso.” Nessa luta para evitar a segunda fratura, tem ainda a “Capture a fratura”, campanha da IOF que estimula investigação e tratamento da doença em pacientes fraturados e a UFJF também ganhou um centro de referência da versão brasileira dessa campanha global. “No Brasil, há seis centros e o mais antigo deles está no Rio de Janeiro, no Hospital Ipanema, e agora na Federal de Juiz de Fora, implementado desde abril”.
O que é
Distúrbio provocado pela perda gradual da massa óssea, facilitando a ocorrência de fraturas principalmente no punho, fêmur, quadril e coluna. O aparecimento da doença está associado ao envelhecimento, quando os ossos começam a perder o mais importante componente, ou seja, o cálcio. Pode-se dizer que é uma doença na qual existe uma diminuição da substância óssea de forma progressiva, levando ao enfraquecimento dos ossos.
Dicas de segurança
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) criou em 1999, no Ano Internacional do Idoso, o projeto "Casa segura".
Riscos de quedas*:
- Tonteira ao se levantar
- Visão alterada pela idade
- Enfraquecimento natural de ossos e músculos
- Calçadas inadequadas
- Obstáculos como mobiliário e tapetes
- Perda de equilíbrio por efeito de remédios
- Desatenção
- Pouca iluminação no ambiente
Algumas orientações*:
- A cama deve ter largura variável e altura entre 45cm a 50cm incluindo o colchão, que deve ter densidade adequado ao peso do usuário. É importante que a pessoa sentada na beirada da cama apoie os pés no chão, evitando assim a hipotensão postural (tonteira).
- A mesa da cabeceira deve ter uma altura cerca de 10cm acima da cama. Bordas arredondadas e, se possível, fixada no chão ou parede, evitando que se desloque caso a pessoa precise se apoiar.
- Para as janelas, sistema de abertura sempre para dentro ou de correr.
- Uma cadeira ou poltrona ajuda para calçar meias e sapatos.
- No banheiro, box com piso e proteção anti-derrapante. Paredes em alvenaria com resistência suficiente para a instalação de barras de segurança fixadas por buchas.
- Poltronas e sofás confortáveis, de boa altura (média de 50cm), fáceis de sentar e levantar (profundidade média 70cm a 80cm), com braços.
- Ambientes livres de obstáculos, principalmente objetos e móveis baixos.
* Fonte: www.casasegura.arq.br
REGINA APARECIDA DA FONSECA, de 58 anos
Um ano de dor, quatro meses sem andar
Até ter o diagnóstico há alguns meses (fratura incompleta do fêmur), Regina Aparecida da Fonseca Vasconcelos, desenhista aposentada, de 58 anos, perambulou por vários médicos: quatro ortopedistas, reumatologista e neurologista. Fez diversos exames, tomou injeção de cortisona, derivado de morfina, fez muita fisioterapia e acupuntura. “Foi difícil ter um diagnóstico. Passei um tempo na Itália, engordei ao ficar dois meses parada e sem controle da alimentação. De volta ao Brasil, peguei firme na dieta com nutricionista e voltei para os exercícios. Um dia, senti uma dor intensa na perna direita, próximo ao quadril. Parei com a atividade física, mas a dor não. Foi quando comecei a perambular por médicos que não definiam meu diagnóstico.” O problema, conta Regina, é que a dor era progressiva. “Até que minha vida parou e eu, sem conseguir ficar de pé, parei de andar. Contava no relógio e, com muita dor, só permanecia 60 segundos de pé. Depois, passei a senti-la até sentada. Para usar computador, era de joelhos, num lugar macio. E cheguei ao ponto de dar gritos à noite, já que fui obrigada a aprender a dormir sem me mexer.” Com esse quadro desesperador, Regina sofreu por um ano, sendo quatro meses sem andar. Época em que teve de lidar com a depressão. O alívio só chegou com o diagnóstico correto. “Além da medicação, cuido da alimentação, tomo vitamina D, faço exercícios e voltei até a correr.”