Mais de 50 pré-convocados não vieram ao Brasil devido a lesões; saiba mais sobre os riscos do futebol

Durante treinos e partidas, os jogadores correm o risco de romper músculos e tendões, fraturar ossos e prejudicar funções cognitivas. A estimativa é de no mínimo 10 lesões a cada quatro dias de prática esportiva

por Bruna Sensêve 11/06/2014 13:40

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AFP PHOTO / FRANCK FIFE e REUTERS/Ray Stubblebine
À esquerda, Franck Ribery, atleta francês que não terá a chance de jogar a Copa no Brasil devido a uma lombalgia. À direita, Cristiano Ronaldo, que estava entre as incertezas do Mundial, porque recupera-se de uma lesão no músculo posterior da coxa esquerda, mas já está confirmado na equipe portuguesa (foto: AFP PHOTO / FRANCK FIFE e REUTERS/Ray Stubblebine )
No último amistoso preparatório para a Copa do Mundo, nesta terça-feira (10), a seleção portuguesa contou com o retorno de seu grande astro: Cristiano Ronaldo. Ele não balançou as redes, mas mostrou boa movimentação na goleada sobre a Irlanda por 5 a 1. O craque estava entre as incertezas da seleção na Copa, porque recupera-se de uma lesão no músculo posterior da coxa esquerda. Tecnicamente, o problema é chamado de ruptura do bíceps femoral. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia no Esporte (SBRATE), Paulo Lobo, pode ser causado por arrancadas bruscas e mudanças de direção típicas de um jeito de jogar rápido.

 

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Lobo contabiliza pelo menos 56 atletas que constavam das listas de pré-convocados das 32 seleções que participarão do Mundial, mas que deixaram de vir ao Brasil devido a lesões. Entre eles, nomes famosos, como Franck Ribéry, que ficou fora da lista final do treinador francês Didier Deschamps por conta de intensas dores nas costas, diagnosticadas posteriormente como uma lombalgia. Também ficou do outro lado do Atlântico e da equipe francesa o meia Clément Grenier, jogador do Lyon, lesionado com uma pubalgia.

Essas, porém, não são as lesões mais comuns do esporte. Para Murilo Reis, membro da SBOT e ortopedista do Centro Ortopédico de Brasília, torções, contusões e lesões musculares lideram o ranking de problemas gerados pela rotina nos gramados. Mais controverso é o tempo de recuperação e de tratamento. “Esse tipo de atleta quer voltar o mais rápido possível e, muitas das vezes, não está em condição.” Reis acredita que o caso icônico de rompimento de tendão de Ronaldo enquanto jogava na Europa é um exemplo. “Ele entrou sem poder. Estava com uma tendinite grave e jogou de qualquer maneira.”

Desligados
O tendão é a extremidade do músculo que o prende ao esqueleto, podendo ser cilíndrico ou em forma de fita. Não deve ser confundido com um ligamento — formado por um tecido fibroso e geralmente responsável pela união de dois ossos e, consequentemente, pela estabilização da articulação. O rompimento dele, assim com o de tendões, pode fazer com que atletas pendurem a chuteira durante meses.

Valdo Virgo / CB / DA Press
Clique para ver as informações sobre as lesões mais comuns (foto: Valdo Virgo / CB / DA Press)
Também responsável por tirar ídolos dos campos, a luxação não é uma lesão simples, como difundido erroneamente. Consiste na perda total do encaixe da articulação, decorrente de um trauma. Diego Maradona foi vítima dela. Ainda que as primeiras avaliações sugerissem seis meses de inatividade para o craque, a fratura do calcanhar direito com luxação o manteve fora dos gramados por muito tempo. O argentino foi submetido a uma cirurgia e, seguindo uma recuperação considerada rápida, voltou aos campos após 106 dias.

Lobo alerta, porém, que as preocupações não devem ser exclusivas com os membros inferiores, em maior evidência no futebol. Cada vez mais casos surgem de concussão cerebral causada pelo choque da cabeça do jogador com a bola, com outro jogador ou com o chão. “O trauma direto na cabeça pode causar um dano cerebral normalmente temporário. O distúrbio pode alterar a função cognitiva do indivíduo, seja na memória, seja no raciocínio, seja na concentração”, detalha.

O tempo de recuperação varia de uma semana a 10 dias — período em que o atleta precisa permanecer afastado do esporte. “Nesse tempo, não pode sofrer nenhum tipo de trauma, já que a vulnerabilidade do cérebro é grande. Ao bater a cabeça, o cérebro se move dentro da caixa craniana”, detalha. A recuperação é total, mas a repetição da lesão pode gerar problemas futuros.

Soraia Piva / EM / DA Press
(foto: Soraia Piva / EM / DA Press)
Pior no meio de campo

Um estudo divulgado em março de 2013, na Revista Brasileira de Medicina de Esporte, pelo Centro Universitário do Pará, analisou a incidência de lesões musculoesqueléticas nos jogadores de futebol profissional do Clube do Remo. Foram avaliados 27 atletas durante o Campeonato Paraense de futebol de 2010, com a verificação dos prontuários e a aplicação de um questionário semicodificado, seguidas de análise estatística. De acordo com o trabalho, a maioria das lesões foi de contraturas e contusões, os locais corpóreos mais acometidos foram a coxa e o joelho, e a posição em campo mais lesionada foi a de meio de campo. Os pesquisadores mostraram que os tipos de lesões apresentados não ocorrem devido a trauma, mas pelos movimentos realizados pelos atletas durante os jogos e os treinos.

Novo manual
Esclarecimentos sobre as lesões mais comuns e específicas do futebol foram divulgados ontem pela Sociedade Brasileira de Artroscopia e Traumatologia no Esporte. A instituição ligada à Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT) distribuiu um manual detalhando os principais problemas ortopédicos que podem ocorrer em uma partida de futebol. A cartilha está disponível no site www.sbrate.com.br.