Uma pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP), com dados do SUS recolhidos entre 1998 e 2010, mostrou que as ocorrências de emergências cardíacas, infarto e crises de hipertensão chegam a aumentar em torno de 16% nos jogos da seleção brasileira.
Mas esse fator está longe de afetar apenas os brasileiros. Estudo suíço feito na Copa de 2002 constatou aumento de 63% na incidência de morte súbita cardiovascular durante o evento. Também na Copa da Alemanha, em 2006, o número de casos de emergências cardíacas cresceu mais de duas vezes, informa o diretor da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), Cláudio Tinoco.
O trabalho foi feito com 17 pacientes, no Instituto de Cardiologia de Santa Catarina, em 2012, e avaliou o comportamento de um grupo de pessoas enquanto assistia a uma partida do time de futebol pelo qual torce, comparando com outro grupo que assistia a um filme de comédia.
Cláudio Tinoco informou que o comportamento da pressão arterial e do batimento cardíaco foi bem claro. “Quando a pessoa está assistindo [a um jogo], há uma descarga de adrenalina. A frequência cardíaca aumenta, o número de batimentos aumenta e a pressão arterial sobe. Totalmente diferente de quando a gente está assistindo a um filme relaxante, em que a pressão e o número de batimentos tendem a cair”.
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Por isso, lembrou que toda vez que a pessoa está em um grande momento de emoção coletiva, como torcendo pelo seu time, ocorre uma liberação dessas substâncias, conhecidas como hormônios do estresse, na corrente circulatória, que fazem com que o organismo reaja com aumento da pressão e da frequência cardíaca. Nas pessoas que têm risco maior de complicações cardíacas, pode causar infarto do miocárdio, arritmias, morte súbita, que são as complicações desse tipo de estresse no coração, explicou.
Cláudio Tinoco orientou sobre o que fazer para evitar o aumento desse risco. A quem tem um problema cardíaco, um passado de infarto do miocárdio, já fez cirurgia de ponte de safena ou algum tipo de angioplastia (desobstrução) das artérias, “a gente recomenda acompanhamento regular com o cardiologista ou o clínico. E se essas pessoas estão há muito tempo sem ter um acompanhamento, procurem antes da Copa do Mundo, ou de outro grande evento esportivo, como as Olimpíadas, para fazer uma avaliação clínica”.
Isso se justifica, disse Tinoco, porque se a pessoa já está com pressão alta, colesterol alto, ou diabetes não controlado, se está tendo angina ou dor no peito, todos esses dados a colocam em maior risco. O médico vai avaliar o que ela precisa fazer para reduzir o risco dessas complicações mediante estresse. Outras pessoas que nunca tiveram problemas cardíacos, mas que apresentam esses fatores de risco – pressão alta, colesterol alto, são fumantes, estão acima do peso, são diabéticas, fazem pouca ou nenhuma atividade física, são sedentárias - devem, a qualquer momento, procurar o médico para avaliar e controlar esses fatores, recomendou.
“Porque, quando a gente controla tudo isso, a pessoa passa a ter um risco muito menor de ter esses eventos cardiovasculares”. Ele lembrou ainda que em 50% das pessoas, a primeira manifestação de uma doença cardíaca é um infarto ou uma morte súbita. “Então, a gente precisa trabalhar antes. E é nessas pessoas de risco que a gente tem o foco da prevenção”.
Alerta
Outro estudo, publicado no British Medical Journal, constatou aumento de 25% na incidência de infarto agudo do miocárdio por ocasião do jogo Inglaterra e Argentina, na Copa do Mundo de 1998. O cardiologista do Hospital e Maternidade MadreCor, Rodrigo Penha, lembra uma outra questão. “Além da forte emoção que envolve as partidas de futebol, há também alguns excessos e hábitos que os brasileiros adotam que não são posturas consideradas saudáveis para o coração”, explica.
Penha cita algumas atitudes prejudiciais, como excesso de consumo de bebidas alcóolicas, abuso do sal e comidas calóricas não nutritivas e hidratação inadequada. Além, é claro, do alto nível de estresse com emoções fortes. “A tensão que os jogos proporcionam ao indivíduo, que espera ansiosamente pela vitória do time, faz com que o corpo libere diversas substâncias neuroendócrinas, entre elas a adrenalina, que estimulam o organismo. Com isso, a pessoa pode gastar energia como se estivesse fazendo um exercício de média ou alta intensidade. Entre os principais problemas que podem ocorrer estão AVC (acidente vascular cerebral), infarto, alteração rápida na pressão e arritmias cardíacas, podendo ocorrer, até em última instância a morte súbita”, explica o médico. “O importante é a pessoa estar segura para curtir a Copa com saúde e tranquilidade”, conclui.
Com informações da Agência Brasil