

Um estudo divulgado na Conferência Internacional de 2014 da Sociedade Torácica Americana mostrou que pessoas que consomem azeite e são expostas à poluição têm a saúde cardiovascular menos afetada do que as que não tomaram o suplemento. Partículas expiradas em um ambiente poluído podem entupir vasos sanguíneos. A situação gera uma disfunção endotelial, explica Haiyan Tong , membro da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos.
“Nessa condição, o endotélio, que é o revestimento interno dos vasos, não funciona normalmente. Isso gera um fator de risco para eventos cardiovasculares clínicos e para progressão da aterosclerose.” Tong é um dos autores do estudo divulgado na Conferência Internacional de 2014 da Sociedade Torácica Americana.
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Togn acredita que a descoberta possa auxiliar em tratamentos mais específicos. “Se esses resultados forem replicados em outras pesquisas, o uso desses suplementos pode oferecer um meio seguro, de baixo custo e eficaz de evitar algumas das consequências para a saúde em decorrência da exposição à poluição do ar”, destaca. Valéria Abraão, nutróloga da Sociedade Brasileira de Nutrição Enteral e Parenteral (SBNPE), ressalta que os efeitos antioxidantes do azeite já são conhecidos, o que pode ter motivado a pesquisa dos cientistas americanos. “Esse produto tem a molécula ômega e vitamina E, que bloqueia o envelhecimento, desitoxicando o corpo de substâncias agressivas.”
Mecanismo molecular
Apesar da recomendação antiga para que as pessoas consumam azeite, os cientistas ainda não desvendaram por inteiro a engrenagem por trás dos benefícios proporcionados por ele. “Agora, sabemos de um mecanismo molecular que ajuda a explicar por que essa dieta reduz a pressão arterial”, destaca Phil Eaton, professor de bioquímica cardiovascular da Universidade King's College London e um dos autores do estudo publicado na revista americana Proceedings of the National Academy of Sciences (Pnas).

Para Yara Aguiar, cardiologista do Hospital do Coração do Brasil, a pesquisa é interessante por explorar suspeitas que rondam a dieta mediterrânea, mas o trabalho necessita de mais estudos, pondera. “Na dieta mediterrânea, temos também o pouco uso do sal e a ingestão de alimentos saudáveis além do azeite. Acredito que o trabalho mostra uma suspeita que já tínhamos, mas que deve ser estudada a fundo, pois, com ratos, ainda não podemos transportar os resultados a humanos com total certeza.”
A médica também acredita que, caso confirmada essa suspeita de benefícios do azeite em humanos, a novidade pode auxiliar na prevenção de um problema cardíaco muito comum. “A hipertensão atinge até 30% da população, mas poucos sabem que têm essa complicação, e somente 15% dos pacientes a controlam. Quanto mais tivermos medidas que agreguem valor ao tratamento, mais positivo será o controle dessa parcela da população”, completa.
Problema crônico
Caracterizada pela formação de placas de substâncias gordurosas nos vasos sanguíneos, a aterosclerose é uma doença inflamatória crônica, que aumenta progressivamente e pode levar à obstrução total das artérias. Geralmente é fatal quando acomete as ligadas ao coração e ao cérebro. Dor no peito (tipo facadas), profundas dores de cabeça e dores nos braços e pernas são indícios da existência do problema. Entre os principais fatores de risco, estão a hipertensão, o sedentarismo, o diabetes, a hiperlipidemia (também chamada de colesterol alto), o tabagismo e o alcoolismo. A retirada das placas de gordura nos vasos sanguíneos pode ser feita por cirurgia ( angioplastia a laser ou cateterismo) e/ou pela ingestão de medicamentos.